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General Aléssio Souto colocou Darwin no mesmo patamar dos criacionistas. Basta o aluno "saber que existiu". (Foto: Reprodução)
General Aléssio Souto colocou Darwin no mesmo patamar dos criacionistas. Basta o aluno "saber que existiu". (Foto: Reprodução)| Foto:

O Estadão entrevistou um dos generais que estão colaborando com o plano de governo de Jair Bolsonaro: Aléssio Ribeiro Souto tem feito propostas para a área da educação, mas o jornal não o cita como ministeriável, até porque o nome que vem circulando por aí seria um educador e empresário da área de educação a distância. Enfim, não é objetivo do blog emitir opinião nem sobre o candidato, nem sobre qualquer outra coisa que Souto disse a não ser uma escandalosa defesa do ensino do criacionismo nas escolas ao lado da Teoria da Evolução. O general estava falando sobre ideologização do ensino quando o repórter questionou:

E se um pai desejar que o professor ensine criacionismo em vez de a teoria da evolução?

Isso que eu saiba não está errado. Foram questões históricas que ocorreram. Se a pessoa acredita em Deus e tem o seu posicionamento, não cabe à escola querer alterar esse tipo de coisa, que é o que as escolas orientadas ideologicamente querem fazer, mudar a opinião que a criança traz de casa. Cabe citar o criacionismo, o darwinismo, mas não cabe querer tratar que criacionismo não existe.

Mas no currículo escolar não consta o criacionismo. Fala-se da teoria da evolução.

A questão toda é que muito da escola na atualidade está voltada para a orientação ideológica, tenta convencer de aspectos políticos e até religiosos. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concordar, tem de saber que existiu.

Como diria Luke Skywalker, “Impressionante. Cada palavra nesta sentença está errada”.

Primeiro, que criacionismo não tem nada a ver com simplesmente “acreditar em Deus”. O criacionismo (em termos gerais, porque há vários tipos de criacionismo) é uma postura que faz uma série de afirmações de caráter estritamente científico sobre a origem e a idade da Terra e do universo, e sobre as razões para a variedade de seres vivos no planeta. Segundo, que a defesa da evolução não implica em ateísmo (por mais que o ateísmo militante tente fazer isso, mas aí é tarefa dos professores não cair nessa cilada).

Para piorar, ainda que isso não seja dito explicitamente, fica subentendido que o criacionismo seria ensinado ao lado da evolução, ou seja, nas aulas de Ciências ou Biologia. Eu até admito que se mencione o criacionismo em aulas de Ensino Religioso, mas nas aulas de Ciências? De jeito nenhum. Ensinar a evolução não tem nada a ver com ideologização do ensino, não é doutrinação, é apenas fornecer aos alunos a melhor explicação que há para a variedade da vida na Terra. E não ensinar criacionismo não é “esconder” ou fingir que ele não existe. Existe, mas não é ciência. Um professor honesto que ensine a evolução não está tentando fazer o aluno deixar de crer; ele sabe (e, se for questionado, vai dizer aos estudantes) que não há nada na teoria que negue a existência de um Deus criador.

Essa trapalhada toda me lembra das tentativas de implantar o criacionismo nas escolas por via legislativa, tanto na Assembleia Legislativa do Paraná quando na Câmara dos Deputados. Felizmente, nenhum deles prosperou até agora. Mas, como lembra esse último post, questões de currículo são competência do Poder Executivo, não do Legislativo. Então, temos de ficar atentos para não repetir aqui tolices importadas de outros países.

Pequeno merchan

Além de editor e blogueiro na Gazeta do Povo, também sou colunista de ciência e fé na revista católica O Mensageiro de Santo Antônio desde 2010. A editora vinculada à revista lançou o livro Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, uma compilação que reúne boa parte das colunas escritas por mim e por meus colegas Alexandre Zabot, Daniel Marques e Luan Galani ao longo de seis anos, tratando de temas como evolução, história, bioética, física e astronomia. O livro está disponível na loja on-line do Mensageiro.

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