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A primeira imagem do telescópio espacial James Webb mostra um aglomerado de galáxias com muito mais nitidez e detalhes que seu predecessor, o Hubble.
A primeira imagem do telescópio espacial James Webb mostra um aglomerado de galáxias com muito mais nitidez e detalhes que seu predecessor, o Hubble.| Foto: EFE/EPA/Space Telescope Science Institute Office of Public Outreach handout

Se você usa um mínimo de mídias sociais, certamente já esbarrou nessa imagem hoje. É a primeira foto do novo telescópio espacial James Webb a ter sido divulgada pela Nasa, e mostra o aglomerado de galáxias SMACS 0723 como era 4,6 bilhões de anos atrás. Para você ter uma ideia do quanto de espaço isso representa, a Nasa propôs uma comparação: se você segurasse um grão de areia na direção do céu com o braço estendido, a área coberta pelo grão corresponderia ao que está na foto. Ou seja, tudo isso que está na imagem é uma fração extremamente mínima do universo.

E aí começam imediatamente aquelas reflexões sobre a nossa pequenez diante da enormidade e magnificência do universo. E, dependendo da convicção filosófica ou até teológica do autor, ele concluirá que o fato de sermos minúsculos significa também que somos insignificantes, irrelevantes ou algo parecido, um mero acidente do acaso sem sentido algum surgido numa periferia do universo.

Essa é uma discussão tão velha quanto a própria atividade de olhar para o céu. Sim, somos minúsculos, mas o que isso quer realmente dizer? O inglês tem uma palavra sensacional, awe, que é assim uma mistura de deslumbramento, reverência e temor. Sentir o awe diante da grandeza do universo é algo até saudável, diria eu. Mas quem disse que dessa contemplação necessariamente deve surgir alguma conclusão sobre nossa insignificância?

Somos minúsculos, “poeira das estrelas”, como diz Carl Sagan? Certamente que sim. Mas somos também as criaturas desejadas por Deus, seres capazes de conhecê-Lo e amá-Lo; quase iguais aos anjos, como diz o salmo 8

Dois anos atrás, citei no blog um filme maravilhoso, que eu preciso rever: A Árvore da Vida, de Terrence Malick. Em determinado momento, a personagem da mãe, vivida por Jessica Chastain, reza usando as palavras do salmo 8, e pergunta a Deus: “quem somos nós para Ti?” Nisso começa uma sequência de uns 20 minutos que vai do Big Bang ao impacto do meteoro que exterminou os dinossauros. Houve quem dissesse que aquilo seria uma resposta na linha de “vocês não são nada para Mim” – foi o caso do crítico Pablo Villaça, ainda que ele não tenha usado essas mesmas palavras. Eu prefiro pensar que a resposta divina se parece mais com “veja só, tudo isso Eu fiz para você”. Somos minúsculos, “poeira das estrelas”, como diz Carl Sagan? Certamente que sim. Mas somos também as criaturas desejadas por Deus, seres capazes de conhecê-Lo e amá-Lo; quase iguais aos anjos, como diz o mesmo salmo 8:

1. Ao mestre de canto. Com a gitiena. Salmo de Davi.
2. Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus.
3. Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos.
4. Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes:
5. ‘‘Que é o homem – digo-me então –, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?
6. Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes.
7. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo.
8. Rebanhos e gados, e até os animais bravios,
9. pássaros do céu e peixes do mar, tudo o que se move nas águas do oceano”.
10. Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!

Compreendamos bem o nosso lugar no universo, o que a grandiosidade da criação nos fala sobre Deus, e o que a nossa pequenez diante dessa grandiosidade diz sobre nós mesmos. Encerro com a resposta que a astrônoma Jennifer Wiseman me deu quando a entrevistei em 2018 e perguntei como era ser, ao mesmo tempo, a “poeira das estrelas” e quase igual aos anjos, coroado de honra e glória:

“Aí é que está: não acho que ser ‘poeira’ nos diminua. A Bíblia também diz que somos feitos do ‘pó da terra’; não é incrível? Claro que o autor sagrado não sabia nada da astrofísica atual, mas é interessante que nossos corpos realmente contenham átomos que foram forjados dentro das estrelas. A poeira mesma também é feita de elementos pesados que se originaram desses astros. Então, nossa ligação com o universo é muito real, é física. Isso é fascinante. Olhar dessa forma nos ensina a enxergar melhor a perspectiva bíblica, de que nosso valor não vem daquilo de que nosso corpo é feito, mas do fato de Deus ter nos escolhido, nos valorizado, nos dado a capacidade de nos relacionarmos com Ele. Ouvimos que somos feitos ‘à imagem e semelhança” de Deus não porque Deus se pareça com um humano, mas porque temos essa consciência sobre nós mesmos, sobre o bem e o mal e, assim espero, sobre como Deus nos ama. Nós, cristãos, cremos que Deus nos deu esse presente, e é daí que vem o nosso valor.”

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