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你们好,

Nimen hao,

Este post deveria ser sob Pingyao e daria continuidade à minha jornada pela China com a Mina.

Porém, esta semana aconteceu uma coisa muito, mas muito significativa para mim: a Liu pediu demissão!

Para quem não acompanha o blog desde seus primórdios, a Liu foi minha empregada (ou ayi, como se diz por aqui) durante os dois anos e nove meses em que estamos na China.

Vocês devem estar dizendo: esse escândalo todo por que a empregada está indo embora?

Ah! gente, a Liu não era só uma empregada. A Liu era, sobretudo, minha amiga. A definição de amiga não é aquela pessoa que você pode contar quando está alegre ou triste? Que curte seus sucessos e o apoia nos seus fracassos? Que sabe da sua vida mais do que nenhuma outra pessoa?

Pois é, essa é a Liu. Sem ela do meu lado nos meus primeiros meses de China, talvez eu não tivesse hoje uma impressão tão boa deste país. Ela, além de evitar que eu passasse pelas situações difíceis que a maioria dos expatriados passa quando chega aqui, ainda por cima NUNCA chegou atrasada e NUNCA faltou um dia sequer!!!

Enfim, vocês devem estar se perguntando o motivo dela querer ir embora.  Bom, vindo de uma empregada chinesa, a gente não poderia esperar nada muito normal, né?

Acontece que quando eu conheci a Liu, nós falávamos em inglês o tempo todo. Aí eu entrei para a Shenzhen University e comecei a aprender mandarim. Em paralelo, ela se matriculou num curso de inglês. Com o tempo, meu chinês foi melhorando e eu passei a falar só em mandarim com ela que, por sua vez, viu seu inglês se deteriorando pouco a pouco.

Eu tinha tanto orgulho de ver a Liu se atrapalhando no inglês e falando só em chinês comigo, que nem percebi que ela não estava contente com isso. Conclusão: Liu resolveu ir trabalhar na casa de uma família que só fala inglês.

Quando ela anunciou sua decisão na segunda-feira passada, eu fiquei sem reação. Depois fiquei muito triste e em seguida muito, muito zangada. Sabe aquele discurso meio preconceituoso que nós todos temos quando levamos um pé na bunda da empregada? Tipo, “Essa gente é tudo igual, no Brasil ou na China”?

Só que eu gosto da Liu e, mais do que isso, sou extremamente agradecida pelo que ela fez por toda a família. Então, botei minha viola no saco e o orgulho no bolso e comecei a procurar uma nova emprega com ajuda dela.

Imaginem a cena: eu entrevistando candidatas chinesas em mandarim e a Liu do meu lado traduzindo e dizendo que eu era uma excelente patroa, que meus filhos eram o máximo e coisa e tal. As entrevistadas não entendiam nada!

Hoje, sexta-feira, Liu se foi de vez e nossa despedida parecia a de um casal, bem ao estilo Ivan Lins: “Começar de novo e só contar comigo…”.

Primeiro Liu me chamou para provar o peixe que havia aprendido a cozinhar no programa da TV da noite anterior. Depois, disse que gostaria de levar a tábua de passar que ganhara de uma patroa americana. Em seguida, abriu a gaveta da cozinha e pegou seu facão de estimação de cortar legumes. Da estante da sala, resgatou o dicionário de caracteres que usava para me ajudar nas lições de casa. Por fim, lembrou-se de pegar seus óculos escondidos no armário da copa os quais ela usava bem menos do que eu gostaria.

Nos abraçamos longamente. Ela pediu desculpas; eu disse que ela estava saindo mais bonita e mais alegre do que quando tinha chegado; ela disse que nós duas fizemos muito bem uma a outra; e finalmente choramos ao perceber que nossa convivência havia chegado ao fim.

Liu e sua ultima invenção culinária

Liu e sua ultima invenção culinária

Minha última foto com Liu e Gabriela, tirada na semana passada, quando ela cozinhou mais uma de suas invenções gastronômicas. Delícia, né?

 

Bom, leitores, como diz o ditado, rei morto, rei posto. Então, me respondam: Quando eu falo em Filipinas, vocês pensam no que?

Praia, férias e talvez no tufão que passou por lá recentemente, né?

Pois aqui na China a gente pensa logo em empregada! A maioria das empregadas de expatriados vem das Filipinas para trabalhar na casa dos “ricaços” e mandar dinheiro para a família paupérrima que ficou por lá. Equivalem às nossas nordestinas tentando a vida no sudeste. Com a diferença de que a maioria está ilegal na China.

Bom, segunda-feira começa a trabalhar aqui em casa uma filipina de 29 anos chamada Elen. Chegou para entrevista trazendo um Labrador, um Lulu da Pomerania e uma York Shire: os cachorros da patroa alemã que ela leva para passear todos os dias. Disse, num inglês fluente, que sabia cozinhar lasanha e que frequentava a mesma boate do Marcos e Mariana nos fins de semana. Ah?

Bom, leitores, já deu para perceber que esta nova relação vai, provavelmente, render alguns bons posts!

E, como uma última homenagem a Liu, coloquei abaixo o vídeo completo que não consegui postar quando escrevi meu primeiro post sobre ela.

Zai jian, minha querida amiga chinesa.

 

http://youtu.be/01ElMlBmAys

 

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