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Torcedora do Orlando Pirates durante clássico com o Kaizer Chiefs, disputado neste ano : alegria e muito barulho nas arquibancadas | Siphiwe Sibeko/ Reuters
Torcedora do Orlando Pirates durante clássico com o Kaizer Chiefs, disputado neste ano : alegria e muito barulho nas arquibancadas| Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters

Dança, alegria, cânticos tribais e o estridente som das vuvuzelas. Na Copa do Mundo da Áfri­ca do Sul, o planeta conhecerá um jeito diferente de torcer. Ficar parado durante os jogos ou não usar nenhum adereço colorido e espalhafatoso é informalmente proibido para os donos da casa.

Na cultura sul-africana, dançar é a forma de representar um sentimento. Em uma manifestação política ou em uma partida de futebol (esporte preferido da po­­­pulação negra, que representa 85% dos sul-africanos), as pessoas chegam cantando e dançando.

Tudo com a trilha sonora que embala as arquibancadas do país há mais de 20 anos. A corneta chamada de vuvuzela multiplica-se pelos estádios. Na Copa das Confederações do ano passado, o áudio ambiente as­­sustou as seleções estrangeiras. Mas a chance de proibição do instrumento já foi descartada pela Fifa.

"O som da vuvuzela não é fácil de aguentar para quem está em campo, mas é a cultura deles. Melhor do que a violência, que por lá eu nunca vi em um estádio", comenta o treinador brasileiro Marcos Falopa, ex-coordenador técnico da Associação Sul-Africana de Fute­bol.

O espírito festivo nas arquibancadas promove ainda outro tipo de iniciativa nas torcidas da África do Sul. A paz reina entre os fãs, mesmo quando há o encontro entre os adeptos dos maiores rivais do país. Kaizer Chiefs e Orlando Pirates fazem o principal clássico da terra de Nelson Mandela e, nem por isso, seus seguidores se odeiam.

Quando há uma rodada dupla com as equipes mais tradicionais do Soweto (bairro negro de Johannes­bur­­go) envolvidas, a massa se une para torcer pelos times da capital no primeiro e no segundo jogo, mesmo em uma nação tão influenciada por duras rivalidades.

"É algo que me deixou impressionado. Seria como se a torcida do Coritiba e a do Atlético se unissem para torcer contra as equipes de fora em um mesmo dia", con­­ta o jornalista Marcos Tosi, da Rádio CBN, que viveu na África do Sul no início dos anos 90.

Como a parte da população que gosta de futebol na África do Sul é a mais pobre, as médias de público na principal liga do país não são das maiores. Em 2009, o torneio nacional teve 7.526 espectadores por partida. O Campeonato Brasileiro, por exemplo, teve 17.601 assistentes por jogo. No entanto, na principal competição que já sediaram, a Copa das Confederações do ano passado, a média foi de 36.786 fãs por encontro. Um público predominantemente negro.

"O negro africano é alucinado por futebol. Para eles o futebol é um grande evento, um espetáculo", explica Tati Isler, relações públicas da South African Tourism, o órgão de turismo da África do Sul no Brasil.

Os brancos preferem o rúgbi e o críquete. Não costumam se misturar à bagunça dos Bafana Bafana. "Os que curtem futebol é por causa da Inglaterra. Só falam de Manchester, Chelsea... Em dias de jogos do Cam­­peonato Inglês os pubs ficam lotados", conta a jornalista Marta Reis, há um ano vivendo em Johannesburgo.

"A questão da discriminação causou prejuízos dos dois lados. Há negros habilidosos que foram punidos e brancos que também ficaram impedidos de competir. Hoje há um processo de abertura política e econômica que favorece a integração", afirma Katia Rubio, professora da escola de Educação Física e Esporte da USP. "O futebol se tornou uma predileção dos negros também como certa oposição, uma forma de resistência ao do­­­mínio dos brancos. Mas, atualmente, isso não existe mais, o que é muito bom", acrescenta Wilson Maske, professor de História Contemporânea da PUCPR.

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