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O prédio José Maria Marin, sede da CBF: investigações serão levadas adiante pelo governo americano e serão alvo de CPI. | RICARDO MORAES/REUTERS
O prédio José Maria Marin, sede da CBF: investigações serão levadas adiante pelo governo americano e serão alvo de CPI.| Foto: RICARDO MORAES/REUTERS

A descoberta de um esquema global de corrupção começa a arrombar a caixa preta do futebol brasileiro. Uma operação conjunta do Departamento de Justiça dos EUA e da polícia suíça prendeu na manhã desta quarta-feira (27), em Zurique, sete dirigentes da Fifa – um oitavo se entregou à noite, em Trinidad & Tobago. Há outros seis indiciados sob acusação de fraude, lavagem de dinheiro e extorsão em contratos de marketing e transmissão da Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.

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Um dos detidos é José Maria Marín, ex-presidente da CBF e membro do Comitê Organizador da Fifa para os Jogos Olímpicos. A exemplo dos seus pares, foi preso por policiais à paisana em seu quarto no luxuoso Hotel Baur au Lac. Segundo testemunhas, foi levado, pálido e nervoso, por agentes que carregavam duas malas e uma pasta com escudo da CBF.

Em documentos divulgados pelo Departamento de Justiça norte-americano, Marín é identificado como “co-conspirador número 15”. Há contra ele acusações de recebimento de R$ 2 milhões por ano de propina, referente à venda dos direitos sobre a Copa do Brasil.

Também foi na gestão Marín que a entidade negociou os contratos comerciais da Copa América de 2019, a ser realizada no Brasil. Acordo em que, segundo as investigações, correram US$ 20 milhões em propina somente para o cartola. Ao todo, foram US$ 110 milhões em pagamentos “por fora” para quatro edições (2015, 2016, 2019 e 2023), feitos pela empresa Datisa.

Do outro lado da mesa estava J. Hawilla, dono da Traffic, mais antiga e maior empresa de marketing esportivo do país. Hawilla foi o principal delator do esquema. Em troca da liberdade, abriu o bico e comprometeu-se a devolver US$ 151 milhões em multa pelas operações ilegais que usaram bancos dos Estados Unidos.

Na sua “delação premiada”, resgatou a figura de Ricardo Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012. A partir das informações de Hawilla, a Justiça norte-americana detectou que Teixeira (o co-conspirador #13) teria recebido R$ 47 milhões em propina pelo contrato da CBF com a Nike, assinado em 1996.

Outras duas figuras do futebol brasileiro aparecem nas investigações. Uma, indicada como co-conspirador #16, seria beneficiária de propinas no novo contrato comercial da Copa do Brasil, válido para o período de 2015 a 2022. O #16 é indicado no relatório como alto dirigente da CBF, membro da Conmebol e da Fifa. As credenciais batem com Marco Polo Del Nero, ex-vice e atual presidente da CBF, representante do Comitê Executivo da Conmebol na Fifa.

O pagamento da propina a essa altura já era dividido entre a Traffic e uma empresa de marketing esportivo com quem passou a compartilhar os contratos comerciais da Copa do Brasil. Na noite desta quarta-feira, a Polícia Federal fez uma busca na sede da empresa Kefler, de Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo, parceira da CBF na Copa do Brasil. Depois, agentes da PF fizeram busca e apreensão também na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

“A Polícia Federal tem direito de investigar qualquer ação inidônea no Brasil. Isso vale para todos, desde a operação Lava Jato até essa prisão. Há que investigar”, disse a presidente Dilma Roussef.

O senador Romário (PSB-RJ) protocolou o pedido de criação de uma CPI. Ele obteve o apoio de 52 senadores, quando 27 assinaturas já bastariam. A comissão deve investigar também o contrato comercial dos amistosos da seleção, que submete à parceira ISE até a convocação.

“Vou ficar ainda mais feliz quando o Ricardo Teixeira for preso, o que deve acontecer em breve”, afirmou o Baixinho.

Os Estados Unidos já informaram que pedirão ajuda ao governo brasileiro para dar sequência às investigações. A organização da Copa do Mundo de 2014 já esteve na pauta, sem que qualquer “má conduta” fosse verificada. Ainda assim, continuará na mira.

Nos corredores do Palácio do Planalto, o escândalo de corrupção já é visto como um ponto favorável à aprovação da MP do Futebol, que refinancia a dívida dos clubes mediante pesadas contrapartidas. Enfraquecida, a CBF perde poder para incluir as mudanças que lhe agradam no texto e barrar uma tentativa da CPI. Relator da MP, o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) enviou ao governo americano um pedido de informações. O objetivo é saber se o esquema também atingiu diretamente o futebol brasileiro.

No início da noite, a CBF anunciou o afastamento de Marin do seu quadro diretivo até a conclusão do processo e a reanálise de todos os contratos ainda vigentes e remanescentes de períodos anteriores .

A primeira medida é inócua diante do banimento provisório de Marin e de mais dez dirigentes anunciado pelo Comitê de Ética da Fifa. A segunda, uma tentativa de colar na gestão de Ricardo Teixeira a culpa pelas negociações suspeitas. Sinal de que a operação anticorrupção foi um duro golpe na cúpula do futebol brasileiro.

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