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Um dos passatempos do curitibano é maldizer a própria sorte de viver em Curitiba. Rir de si mesmo, fazer humor com suas próprias lamentações. Exemplos são as piadas que se faz sobre o curitibano que não cumprimenta o vizinho. Do mesmo jeito que o escritor Gay Talese vê a sua Nova York: "Uma cidade de vizinhanças em que as pessoas não têm vizinhos".

O vizinho, a calçada e o clima, são esses os passatempos preferidos em Curitiba, agora em companhia de um tema da moda: mobilidade urbana. E como em matéria de mobilidade Curitiba é a cidade da moda, nossos urbanistas de vanguarda (como se sabe, nove entre dez curitibanos são urbanistas) consideram que não se precisaria de tantos bilhões para resolver a questão de mobilidade urbana nas médias e grandes cidades do país.

Depois do rodízio do risoto, da polenta, da picanha, de massas, de sushi, de camarão e da pizza, o mais barato sistema de mobilidade urbana seria o rodízio de pessoas motorizadas, a começar por etnias: segunda-feira circulariam os polacos e ucranianos; terça-feira, os italianos; quarta-feira, os alemães; quinta-feira, árabes, libaneses e muçulmanos em geral; sexta-feira, japoneses e judeus; sábado, paulistas e nordestinos; domingo, catarinas e gaúchos. Dia sim, dia não, os de pé vermelho.

Mobilidade e rodízio também para as minorias: pela manhã, afrodescendentes e índios (com direito a reserva especial de estacionamento); à tarde, os portadores de deficiência física; à noite, gays, lésbicas e simpatizantes (horário GLS). Sem esquecer da Marcha das Vadias, dos Garibaldis & Sacis, além de um beco sem saída para as escolas de samba.

Outro sistema possível seria o Restrição de Veículos por Horário Diferenciado (RVHD). Das 5 às 7 horas, padeiros, verdureiros, açougueiros, empregadas domésticas, entregadores de jornais, garçons, músicos e boêmios; das 7 às 10 horas, ônibus escolares, funcionários públicos municipais, estaduais e federais; das 10 às 12 horas, motoqueiros e taxistas; das 12 às 14 horas, ônibus escolares, universitários e profissionais liberais; das 14 às 16 horas, madames que vão ao shopping; das 16 às 18 horas, Corpo de Bombeiros e ambulâncias; e das 18 horas em diante entraria em circulação a linha de ônibus Interbares, um sistema para diminuir sensivelmente o tráfego depois da happy hour.

Restaria estudar a maneira de facilitar a mobilidade de pedestres. Mas, sendo esta uma questão complexa, os pedestres devem continuar no sistema de sempre: com circulação restrita aos horários estabelecidos para cachorros, gatos e outros bichos.

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