O Itamaraty decidiu triplicar a quantidade de vistos concedidos para haitianos e reestruturar o serviço da embaixada brasileira em Porto Príncipe para combater o tráfico de pessoas e os coiotes que atuam em rotas terrestres. É a primeira vez que o governo brasileiro tenta melhorar o sistema para evitar que os haitianos recorram a rotas clandestinas.
Desde janeiro de 2010, quando um terremoto deixou em escombros boa parte do Haiti, entre 50 e 60 mil haitianos chegaram ao Brasil. Embora a diplomacia nacional tenha estabelecido a possibilidade de visto humanitário para qualquer cidadão do Haiti, a maioria deles entrou no país ilegalmente, pelas mão de traficantes de pessoas, depois de uma jornada arriscada e penosa de até 30 dias para cruzar países como Peru e Equador até o Acre.
Um dos principais problemas do modelo de concessão de visto hoje é o agendamento da entrevista.
“Passei um ano ligando todos os dias, várias vezes por dia, mas jamais consegui agendar a visita à embaixada”, contou o mecânico Dervilus Mackendy, de 25 anos, depois de saltar de um ônibus no Terminal Rodoviário da Barra Funda, em São Paulo, na última quinta-feira.
Mackendy passou um mês viajando. Ele relata ter atravessado um rio na Amazônia peruana a nado e caminhado mais de 200 quilômetros que separam Rio Branco, capital do Acre, da fronteira com o Peru. Até São Paulo, enfrentou 3 dias de ônibus.
“Deixei para trás minha bebê, de 2 anos. Não vou trazê-la se ela tiver que passar por essas calamidades”, disse.
O governo brasileiro deve iniciar em breve uma campanha para que os haitianos deixem de tomar o mesmo caminho de Mackendy. O Itamaraty está agora mapeando quem são os formadores de opinião e os veículos de comunicação que poderiam disseminar a campanha contra a rota dos coiotes no Haiti. Ao mesmo tempo, junto com os países vizinhos, o governo brasileiro planeja ações para reprimir a rota terrestre.
“Vai ser uma contrapropaganda dos traficantes de pessoas, que são muito fortes em Porto Príncipe, para estimular as pessoas a virem de avião e desembarcarem direto em São Paulo”, explica Beto Vasconcelos, secretário nacional de Justiça.
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