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Jéssica Canedo teria se suicidado após ter sido vítima de mentiras espalhadas sobre ela nas redes sociais por páginas de fofoca.
Jéssica Canedo teria se suicidado após ter sido vítima de mentiras espalhadas sobre ela nas redes sociais por páginas de fofoca.| Foto: Reprodução/Redes Sociais

Esta semana, a EBC contratou pelo salário de R$ 17,8 mil por mês o influencer Murilo Ribeiro Pereira, conhecido como “Muka”. Ele é amigo da primeira-dama, dona Janja e agenciado pela Mynd8. A mera possibilidade de fazer isso menos de um mês depois do suicídio da jovem Jéssica Canedo mostra o poder da articulação da agência. Se não fosse um canhão de influência, isso causaria sérios problemas para a imagem do governo. Muito provavelmente você já sabe do caso. Semana passada, fiz uma coluna detalhando o que aconteceu, com o título “Mynd8 x Monark: o duplo padrão”. Não esperava, no entanto, que os responsáveis se reabilitassem com tanta velocidade.

A Choquei é o perfil de fofoca que ficou mais conhecido no episódio. Muita gente pensa que o dono da agência foi o único que zombou de Jéssica quando ela tentou se defender e repor a verdade. Foram vários. É o maior perfil que compartilhou o print falsificado em que Jéssica se correspondia com Whindersson Nunes. A história começou em outro perfil, Garotx do Blog, que se descreve como “Sua primeira fonte sobre a vida escandalosa da elite brasileira ????”.

Tem muita gente dizendo que o PL das Fake News resolveria o caso. Não passa de falácia.

Ambos os perfis já tocam a vida normalmente. Estão fazendo a cobertura do Big Brother Brasil e têm um engajamento impressionante, com muitas curtidas e muitos comentários. A Choquei tem divulgado temas como a conversa entre David e Isa no programa da Globo, a revista do ator Amaury Lorenzo em um aeroporto e as fantasias vestidas por integrantes do BBB.

O perfil Garotx do Blog tem falado com indignação sobre um influencer condenado por violência doméstica. “Condenado! @babalguimaraes foi condenado no processo de violênc*a doméstica movido por sua ex-esposa, Teresa. O influenciador havia recorrido na justiça, mas o pedido foi negado. O processo transitou em julgado e não cabe mais recursos, perdendo Babal o seu réu primário.”

Também tem sido feita a tradicional cobertura do BBB: “EITA! Após Rodriguinho colocar o Davi na mira dele para indicação ao paredão no domingo, o brother dispara : ‘Não é real! Perdido no jogo! Péssimo jogador!’. Ele é observador, não é real, e não é posicionado no jogo. Ele não tem posição de jogo! Ele tá perdido no jogo. E é por isso que eu acho ele um péssimo jogador. Ele age com o emocional. Um cara desses não é jogador e precisa tratar esse lado emocional ele!”

Se você verificar os comentários, Jéssica Canedo e o escândalo de Fake News e suicídio são ausências eloquentes. Muita gente diz que a prática é apagar comentários em massa, algo que parece factível. Mas o fato é que a grande imprensa não pesou a mão no caso. Se fizermos a comparação com outros casos em que influencers atacaram em enxame uma única pessoa, há uma desproporção flagrante.

Deputados estão preocupados, pedindo ao Ministério Público que investiguem e propondo até mesmo uma CPI. Querem saber as relações entre esses perfis de fofoca e o governo Lula, principalmente durante as eleições. Um desvio de objetivo e de moral compromete a empreitada. Há quem use o caso sempre em comparação com o governo Bolsonaro. Surge a narrativa de que esse seria o verdadeiro Gabinete do Ódio e que outras forças políticas jamais fizeram ataques coordenados. É algo que enfraquece a investigação e tende a contribuir para a impunidade. Melhor seria que se focasse nos fatos objetivos, na investigação e responsabilização do caso específico. Seria a esperança de ver algo mudar.

Tem muita gente dizendo que o PL das Fake News resolveria o caso. Não passa de falácia. O projeto é focado no conteúdo de publicações e responsabilização das plataformas. O caso específico envolve a coordenação de perfis feita por empresas que usam as plataformas, algo completamente diferente. Não há no projeto nada que mudasse o que ocorreu agora.

Os escândalos políticos se acumulam e muita gente já esqueceu a ação dos perfis agenciados pela Mynd8 e pela Choquei, que não é mais agenciada. Não houve um “mea culpa” visto como suficiente e não se sabe de mudança na linha de atuação. Mesmo assim, o governo contrata um influencer desse círculo para trabalhar na TV pública.

É um erro levar esse caso apenas para o ringue da polarização política. Esse meio se fortalece pela polarização. Precisamos focar nos métodos, nas ações reais e consequências. Infelizmente, não parece haver pressão social para isso.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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