Basf apresentou novas tecnologias em melhoramento de sementes em Foz do Iguaçu (PR).| Foto: Basf/Divulgação

Líder no setor de tecnologia de tratamento de sementes de algodão e arroz no Brasil, a multinacional Basf lançou um novo desafio para si: se manter também no topo da pirâmide da soja – carro-chefe da produção nacional de grãos – nos próximos quatro anos. Uma tarefa nada impossível se olharmos para algumas novidades que a companhia mostrou durante o 1º SeedShow, evento voltado para produtores e multiplicadores de sementes que ocorreu nos dias 6 e 7 de junho em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná. Durante o encontro, a Basf revelou, entre outras coisas, detalhes de novas variedades de cultivares que prometem colocar ainda mais lenha na fogueira do já aquecido mercado sementeiro nacional.

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Quando a Bayer comprou as operações da Monsanto, no ano passado, foi obrigada por órgãos reguladores de mercado (como o Cade, no caso do Brasil) a vender sua divisão de produção de tecnologias para sementes, que acabou sendo comprada pela Basf. A gigante da indústria química passou então a ter nas mãos a oportunidade de se transformar em uma empresa para criar “soluções para o agricultor”, como gostam de ressaltar seus executivos.

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“Foi uma virada de chave na companhia”, sintetiza Gustavo Bastos, gerente de Acesso ao Mercado da Basf. Apesar do pouco tempo de atuação nesse mercado, a empresa está investindo forte em genética para se tornar líder em melhoramento de soja no Brasil em 2023.

Um dos produtos que deve agitar o mercado a partir da próxima safra é a segunda geração de sementes com a tecnologia Intacta 2, cujos experimentos de campo feitos em diversas regiões do país demonstraram rendimentos de produtividade 10% superiores às tecnologias da concorrência, segundo Claudiomir Abatti, gerente nacional de Melhoramento em Soja da Basf. Como na geração anterior, a nova tecnologia será resistente a herbicidas, ervas daninhas e pragas da lavoura. Além de ter um ciclo de desenvolvimento mais curto.

“Para lançamos uma variedade, ela tem de ser produtiva e estável. Senão, pode jogar fora. Fizemos experimentos com a Intacta 2 em Cruz Alta (RS) que demonstraram que em alguns cultivares o rendimento foi 10% superior ao de outras variedades hoje consideradas líderes de mercado. No Paraná, alguns materiais pesquisados estão dando 12% acima das variedades capeãs de produtividade”, afirma. Em outubro de 2020, a previsão é de que as novas sementes estejam chegando aos produtores através das beneficiadoras parceiras. Entre este ano e o ano que vem, 11 novas cultivares deverão estar disponíveis para os produtores através de duas plataformas de negócios da companhia: a SoyTech e a Credenz.

Para se tornar líder no melhoramento de soja no Brasil, no entanto, a Basf terá de alcançar um patamar de no mínimo 32% de market share, de acordo com Abatti, porcentual necessário para ultrapassar concorrentes de peso e detentoras de tecnologias de transgenia, como as gigantes Bayer, Syngenta e Corteva. Em outro segmento, estão as empresas que só possuem a genética da semente ou germoplasma, que é a amostra do material genético capaz de manter as características do cultivar. Entre elas estão a argentina Don Mario e algumas empresas regionais brasileiras que fazem melhoramento genético.

Mas a disputa de tecnologias deve se acirrar em 2020. Outros grandes players do mercado, como a própria Bayer, também devem lançar novidades em sementes. O setor, aliás, segue uma tendência de alta crescente, acompanhando o aumento da produção de grãos no país e da área plantada. De acordo com dados da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), na safra 2017/18 o Brasil produziu 3.069.575 toneladas de semente de soja, em uma área plantada de 35.149.200 de hectares. Em 2012/13, por comparação, foram produzidas 2.293.454 t, para uma área plantada de 27.715.200 ha.

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A Basf não divulga o quanto investirá no Brasil no setor de sementes, mas as operações globais nesse segmento consomem 900 milhões de euros ao ano. No caso do Brasil, a principal aposta da companhia para ter maior penetração no mercado é a linha SoyTech. O diretor de Sementes da empresa, Hugo Borsari, explica que essa linha trabalha com parceiros que são as multiplicadoras de sementes, que levam a tecnologia de melhoramento até o agricultor. Já no caso da linha Credenz, os parceiros são os próprios distribuidores da Basf, que entregam de forma direta as sementes aos produtores. “Queremos fortalecer as nossas parcerias, desde a criação de um novo produto até a forma como acessamos o mercado”, sintetiza Borsari. O executivo é mais comedido em relação às metas de liderança para os próximos anos, mas acredita ser possível entrar no top 3 do melhoramento de soja no Brasil nos próximos 4 anos.

Produtividade de sementes melhoradas ainda não atingiu um limite

Para Abatti, as tecnologias de melhoramento de sementes vão levar a um mercado cada vez mais competitivo em termos de genética das variedades, o que requer um nível de preparo maior do produtor. Se hoje a média de produtividade é de 50 sacas por hectare, diz ele, e em muitos casos chegando a até 70 sacas, estima-se que daqui a dez anos esse índice vai chegar a 100 sc/ha. “E aquele produtor que hoje está fazendo 30, 40 sc/ha, infelizmente se não melhorar vai sair do mercado. A eficiência máxima é algo que está sendo imposto em todas as cadeias de produção, incluindo a da soja.”

Entre as muitas atividades das cooperativas está a multiplicação de sementes, algo que para elas representa uma luta constante. “Em 2013 iniciamos outro desafio, o TSI (tratamento de sementes industrial) para suprir as necessidades dos nossos produtores. E o TSI na Coamo deu muito certo, primeiro por termos bons parceiros e segundo por trazer o que os nossos cooperados precisavam. E com a entrada da marca SoyTech a expectativa é de que o nosso cooperado receba variedades cada vez mais modernas e produtivas”, afirma Cleber Voidelo, Coordenador de Tratamento Industrial de Sementes da Coamo, maior cooperativa agroindustrial da América Latina, com sede em Campo Mourão (PR).

“Queremos também que o agricultor tenha uma atividade rentável e sustentável para que possa deixar isso para as próximas gerações. O caminho para ajudá-lo é dar suporte no incremento de rentabilidade. Ele toma dezenas de decisões todos os dias, que muitas vezes são isoladas – o que eu compro disso, o que eu aplico daquilo”, observa Borsari.

Outro desafio é ter um portfólio de geração de sementes e proteção de cultivares integrado na geração de dados baseado em ciência, conforme explica o diretor de Sementes da Basf. “Isso para que possamos recomendar ao agricultor não apenas uma variedade ou um tratamento de semente, mas contar para ele a experiência que tivemos dentro da nossa própria área experimental, ou seja, dizer que determinado produto, com tais tratamentos, teve uma performance melhor do que com outros. E para que as decisões desse produtor estejam conectadas dentro da própria cultura e dentro de um ciclo agrícola, como em um sistema de soja e algodão, por exemplo, para que ele tome decisões conectadas.”

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*O jornalista foi ao evento a convite da Basf.