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O criador Marco Andras, do município de Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul, não vai se preocupar com o preço da arroba do boi pelos próximos doze meses. A aposta no cruzamento de duas raças nobres de gado, a japonesa Wagyu e a europeia Aberdeen Angus, deu tão certo que toda a produção do ano que vem já está vendida, a um preço pelo menos três vezes maior do que recebem os produtores no mercado de gado comum.

Os conterrâneos do Sul, no entanto, não vão poder experimentar em restaurantes locais a carne diferenciada produzida na Fazenda Invernada Santa Fé: os 300 bois a serem abatidos em 2019 foram vendidos para um comprador de São Paulo que, por sua vez, revenderá a carne com selo “premium” para açougues e restaurantes da região Sudeste.

Apesar de alcançar um valor agregado sem igual no mercado de carnes (até R$ 700 o kg ao consumidor), os cortes da raça Wagyu, ou do cruzamento com Angus – batizado de Wangus – exigem altos investimentos em genética e manejo. “É preciso ver que nós temos um custo de produção enorme. Nada é caro por acaso”, diz Andras. Por outro lado, ele sublinha que, mesmo com a fama do Wagyu e do Angus, nem todos os cortes atingem os preços de picanha, da maminha ou do contrafilé. “Também nessas raças, existem muitos cortes que são commodities, como o coxão duro”, ressalva.

O cruzamento do Wagyu com o Angus, as duas raças mais valorizadas no mercado, que resultou na “marca” Wangus, começou em São Paulo, em 2005, por iniciativa dos criadores Antonio Carlos Porto Filho e Eduardo Souza Ramos. O Wangus do Rio Grande do Sul, no entanto, teria um diferencial competitivo por causa das pastagens dos Pampas – capim tifton no verão e aveia e azevém no inverno. “Isso faz com que a carne tenha um paladar diferenciado. Por mais que nossos animais também passem pelo confinamento, nossa carne tem um gosto diferente. Para nós do Sul é melhor, mas isso é paladar, não tem como discutir. Na região central do País eles alimentam o gado com alguns subprodutos que interferem no sabor da carne como, por exemplo, o caroço de algodão, que a gente não usa de jeito nenhum”, comenta Andras.

Plantel de animais Wangus do criador  Marcos Andras
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Na fazenda Invernada Santa Fé, o gado é criado a pasto durante 24 meses e, na fase de terminação, passa aproximadamente 10 a 12 meses em confinamento, onde a alimentação segue sendo 100% natural. Esse período é decisivo para a carne atingir o grau de marmoreio desejado pelo mercado. O preço do Wagyu (ou do Wangus) oscila em função do marmoreio, numa escala de 1 a 12. O Brasil não produz o bife de marmoreio máximo, pelos limites da genética e também porque o paladar dos trópicos não está acostumado aos índices de gordura apreciados no Japão, de onde se origina a raça Wagyu.

O número de animais Wagyu criados no Brasil (cruzamentos de meio-sangue também são considerados Wagyu) não dá conta da demanda. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Wagyu em 2017 foram abatidos apenas 5 mil animais com o selo de garantia. Isso possibilita a entrada de carne Wagyu importada do Chile, Uruguai, Austrália e Japão. E o pouco que é produzido no Brasil começa a também ser disputado por clientes estrangeiros. Segundo o veterinário Eliel Palamim, supervisor da associação que reúne 50 criadores, representantes da Arábia Saudita visitaram no início deste mês criadores gaúchos, interessados no Wagyu produzido no Rio Grande do Sul.

“O Brasil ainda não conseguiu realizar a exportação desta carne porque o volume de abate é pequeno e os valores que os criadores agregam no mercado interno são satisfatórios”, aponta Palamim. “Mas como a demanda está aquecida, um número cada vez maior de pecuaristas se interessa em produzir Wagyu”.

Gordura entremeada na carne é o que dá maciez e valor aos cortes da raça Wagyu
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