A promessa de ganhos para os suinocultores americanos parece improvável agora, diante da sobretaxação chinesa para o setor. A mais recente escalada de tarifas significa que a carne suína americana não será economicamente competitiva na China.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) informou nesta semana que compradores da China cancelaram uma grande encomenda de carne suína oriunda dos EUA, aumentando os temores de que a disputa comercial entre os dois países possa afetar a produção de suínos no país. Até 18 de abril, das 150 mil toneladas de carne suína que deveriam ser exportadas para a China apenas 50 mil foram embarcadas.

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A incerteza ronda as cabeças de produtores como Randy Spronk, que cria 250 mil suínos ao ano em sua fazenda em Pipestone County, Minnesota, e vende para empresas gigantes de processamento de alimentos, como a brasileira JBS e as norte-americanas Tyson e Hormel.

E a China não foi o primeiro problema enfrentado pela suinocultura americana em decorrência da guerra comercial que o governo Trump tem travado com outros países. A retirada dos EUA do acordo de parceria Transpacífico, em 2017, custou a perda de participação de mercado no Japão. Spronk diz que as tarifas de 20% no México também custaram aos suinocultores um adicional de US$ 12 por animal e que a rodada anterior de tarifas de retaliação chinesas custou um adicional de US$ 8 por animal.

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"A carne suína americana é um mercado de exportação de US$ 6,4 bilhões, mas fomos mais afetados do que qualquer outro setor", diz Spronk. "Os nossos mercados de maior valor são os que são afetados por essas tarifas. Fomos postos de lado. Os efeitos aditivos dessas tarifas saem do meu bolso", lamenta. Os suinocultores tiveram um leve ganho em março, atribuído à perspectiva de vender para a China depois que a indústria de suínos daquele país foi dizimada pela peste suína africana.

A promessa de ganhos, no entanto, parece improvável agora. A mais recente escalada de tarifas significa que a carne suína americana não será economicamente competitiva na China. Ainda assim, Joe Brusuelas, economista-chefe da RSM, acredita que a carne suína é uma importante ferramenta de negociação com a China. "Se a administração Trump busca seriamente um acordo, esse é claramente o caminho de menor resistência", disse. "Por causa da febre suína africana e de sua própria situação doméstica, a China não tem realmente uma escolha e terá que suprir suas necessidades pela oferta global".

Oportunidade para o Brasil

Se a guerra comercial entre EUA e China é ruim para os suinocultores norte-americanos, para os produtores brasileiros pode representar uma oportunidade de ampliar mercados. Após reunião com o administrador-geral de Aduanas da China, Ni Yuefeng, nesta quinta-feira (16) em Pequim a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, informou que há uma expectativa de que em breve 78 frigoríficos brasileiros recebam autorização para exportar para o mercado chinês.

Segundo informações do MAPA, ficou acertado com o governo chinês que dentro de uma semana o Ministério irá encaminhar às autoridades chinesas informações finais sobre os estabelecimentos (carne bovina, suína e de aves), já que os formulários preenchidos pelas empresas estão sendo revisados pelo MAPA.

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“Estamos preparados para ampliar a nossa oferta de proteína animal com qualidade ao mercado chinês sem deixar de cumprir os requisitos sanitários previstos no nosso protocolo bilateral”, disse a ministra em texto plublicado no site do Ministério. Um comissário chinês virá ao Brasil para trabalhar constantemente com o governo federal e com as empresas questões sanitárias e de quarentena. O comissário ficará na embaixada chinesa para facilitar o diálogo com a equipe brasileira.

Ainda conforme o MAPA, em visita em 2018 técnicos chineses vistoriaram 11 frigoríficos brasileiros - um deles foi reprovado e dez tiveram de fornecer informações adicionais. Para o encontro em Pequim, a China solicitou ao Brasil a lista dos 33 estabelecimentos autorizados a vender para a União Europeia. “Além dessa lista, a comitiva brasileira levou dados sobre estabelecimentos inspecionados, mas que não são habilitados para a União Europeia; lista de produtores de suínos habilitados para outros mercados exigentes como Estados Unidos e Japão e produtores de bovinos, aves e asininos habilitados para outros mercados exigentes, com exceção da União Europeia”, informou o Ministério.

O vice-presidente e diretor de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disse que a meta é buscar o processo contínuo de habilitação dos frigoríficos. “Celebrar a vitória de construir um método. Não adianta selecionar só alguns”, afirmou Santin, que integra a comitiva brasileira na China.

Segundo informações do MAPA, ficou acertado com o governo chinês que dentro de uma semana o Ministério irá encaminhar às autoridades chinesas informações finais sobre os frigoríficos, já que os formulários preenchidos pelas empresas estão sendo revisados. Expectativa é de que 78 frigoríficos brasileiros (não só de carne suína) sejam habilitados para exportar para a China. | Foto: Jaelson Lucas/ANPr

Batalha pelos bilhões

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Com a iminente liberação do novo programa de auxílio comercial do Departamento de Agricultura dos EUA para agricultores e pecuaristas, uma batalha começou entre setores agrícolas sobre quem deve receber o que, quanto e de que forma, e exatamente quem sofreu as piores perdas devido ao comércio. O presidente Trump prometeu pelo menos US$ 15 bilhões, um número que ele diz corresponder às compras chinesas de produtos agrícolas americanos. Esse valor está acima dos US$ 12 bilhões distribuídos como auxílio aos agricultores no ano passado para compensar as perdas associadas às retaliações chinesas.

Com esses US$ 12 bilhões, havia vencedores (soja) e perdedores (milho e trigo), culturas especiais que foram escolhidas para assistência (cerejas e amêndoas) e outras partes do sistema alimentar americano que não receberam ajuda, apesar das perdas perceptíveis com as tarifas (a indústria de frutos do mar, por exemplo).

Os suínos de Spronk fazem parte desse mercado de exportação há anos. O Japão tem sido historicamente o número 1 em preço e volume, comprando cortes de alto valor; o México é o segundo colocado em preço, comprando principalmente presuntos. A China tem sido o terceiro país importador, comprando cortes de baixo valor; a Coreia vem em quarto lugar e o Canadá em quinto.

O que Spronk quer ver é a retirada de taxas norte-americanas para o aço e o alumínio mexicanos e canadenses (e, portanto, a queda das tarifas de retaliação do México), acordos de livre comércio com o Japão e a China e a ratificação do acordo Estados Unidos-México-Canadá. "Eu não quero um cheque do governo, quero ter orgulho do que faço. Quero competir", disse Spronk.

Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (17) que concordam em levantar as tarifas sobre metais industriais do México e do Canadá, eliminando um grande obstáculo à aprovação pelo Congresso do novo acordo comercial norte-americano do presidente Trump, segundo fontes ouvidas pelo The Washington Post. A barganha pede que o México e o Canadá adotem medidas novas de monitoramento e fiscalização para evitar que o aço chinês seja enviado para os EUA através de seu território. As tarifas dos EUA devem ser levantadas em 48 horas. Trump impôs tarifas sobre aço e alumínio em março de 2018 em resposta ao que os EUA chamaram de uma inundação de excesso de commodities chinesas nos mercados globais.

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Discordância sobre tarifas

Mesmo dentro da própria suinocultura americana há discordância sobre como deve ser o alívio americano às tarifas de outros países. Nick Giordano, vice-presidente e conselheiro do Conselho National de Suinocultores, diz que a indústria de carne suína pedirá ao USDA a compra de carne suína para ajuda alimentar. Ele diz que os bancos de alimentos e canais não comerciais representam uma vitória para os consumidores e para os que necessitam, sem reduzir os preços da carne com um excesso no mercado.

O senador Charles Grassley, do Iowa, e outros indicaram que a compra do excedente dos agricultores para a ajuda alimentar internacional estaria sujeita às violações da Organização Mundial do Comércio. "A menos que a comida seja usada por razões humanitárias, estaríamos sujeitos à violação da OMC", disse Grassley ao The Washington Post no início da semana.

Embora a carne suína seja apenas um dos muitos setores da agricultura norte-americana que foram prejudicados pelas guerras comerciais, ela é provavelmente a mais afetada no setor de proteína animal. Os EUA respondem por uma parcela relativamente pequena de carne bovina e de frango vendida na China por causa de outras barreiras não-tarifárias.