Leitões de três meses de idade em granja da Paustian Enterprises, em Walcott, Iowa, em 2017| Foto: Daniel Acker / Bloomberg

As empresas do setor de carnes nos Estados Unidos estão mudando a forma de alimentação dos suínos, num esforço para atender às exigências do mercado chinês, depois que surtos da febre suína africana dizimaram o plantel asiático e provocaram escassez desta proteína no mercado oriental.

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A Tyson Foods, que tem sede em Arkansas, anunciou que irá proibir o uso da ractopamina nos suínos que compra dos criadores. A medida ajusta a empresa às possibilidades de exportação para a Ásia, num momento em que a China negocia o fim da guerra comercial de 18 meses com os EUA.

“Isso pavimenta o caminho para um rápido aumento dos embarques para a China”, diz Dennis Smith, analista de carnes na Archer Financial Services. Smith destaca que, devido ao efeito devastador da febre suína africana na Ásia, tanto o Vietnã como a Coreia do Sul também devem precisar de mais carne suína em breve, enquanto a Coreia do Norte começa a ter problemas.

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A febre suína africana se espalha pela Ásia, infectando milhões de porcos e causando prejuízo sem precedentes. A China, que detém metade do plantel mundial, é o país mais atingido e viu os preços da carne de porco dispararem. O ministro chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, disse nesta semana que o país irá acelerar as compras dos EUA, onde já foi buscar neste ano 20 milhões de toneladas de soja e 700 mil toneladas de carne suína.

Carne canadense vetada

As autoridades chinesas suspenderam a importação de carne do Canadá em junho deste ano, após detectar a ractopamina em uma carga recebida de um frigorífico de Quebec. A substância, aprovada nos EUA desde 1999, foi proibida pelos chineses três anos depois, por suposto risco de danos à saúde dos consumidores.

No início deste mês, a gigante brasileira JBS informou que suas operações nos EUA iriam eliminar a ractopamina de sua cadeia de produção, para maximizar as oportunidades de exportação. A Smithfield Foods, controlada pelo grupo chinês WH, também não usa o aditivo.

Há muito mais países que proíbem a ractopamina do que aqueles que admitem seu uso, diz Alan Brugler, presidente da consultoria Brugler Marketing & Administração. Manter dois sistemas separados de produção, para garantir que um deles seja livre de ractopamina, acaba sendo muito dispendioso, segundo Brugler.

Porcos mais magros

Se toda a suinocultura americana parasse de utilizar a ractopamina, a produção de carne suína diminuiria em pelo menos 50 mil toneladas por ano, porque os porcos ficariam mais magros – assegura Dan Basse, presidente da AgResource.

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A Tyson Foods destacou que os suinocultores foram avisados da mudança na quarta-feira (16) e que terão até o dia 4 de fevereiro de 2020 para atender à exigência. Até agora, a empresa vinha mantendo sistemas de produção separados (suínos e frigoríficos), para assegurar o fornecimento de carne livre de ractopamina para alguns países. No entanto, com a demanda global crescente pela carne suína, essa fórmula deixou de funcionar. A proibição valerá a partir de 2020.

“Foi uma reação à medida tomada pela JBS, de forma a abrir oportunidades de exportar para a China”, avalia Michael McDougall, corretor da Paragon Global Markets, com sede em Nova York. A China vai precisar de “um bom tempo para se recuperar, o que permitirá a países como o Brasil e os EUA aumentar suas exportações”.