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Sala de aromas do Tour Nugali: viagem pelos diversos aspectos da produção do chocolate.| Foto: Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

Pouco mais de três horas de estrada separam Curitiba de Pomerode, no interior de Santa Catarina. Mas, dependendo de onde você estiver por lá, pode ser que acredite que tenha andado bem mais - no tempo e no espaço. Em um mesmo caminho de chão de pedras, de pouco mais de 16 quilômetros dentro da cidade de cerca de 30 mil habitantes, estão a Rota do Enxaimel e a Fábrica da Nugali Chocolates. São dois passeios em um só, e algumas viagens no tempo como bônus.

Enquanto vamos pela rota e as casas construídas com a técnica enxaimel passam a tomar de conta da paisagem, parece que voltamos ao fim do século 19, quando os primeiros colonos alemães chegaram à região. A paisagem rural da rota é salpicada por cerca de 50 casas que lembram ilustrações de contos de fadas.

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Casa na Rota do Enxaimel: Pomerode tem o maior conjunto de construções feitas com essa técnica fora da Alemanha.| Caroline Olinda/Gazeta do Povo

Muitas delas ainda são habitadas por descendentes dos primeiros colonos, que construíram a moradia toda com estrutura de madeira, sem um único prego. Nas paredes, tijolos aparentes e cores para comemorar a conquista do lar com janelas, portas e piso. As vigas são numeradas. Isso permitia que a casa fosse desmontada, levada para outro terreno e lá construída novamente.

A Rota do Enxaimel em Pomerode é o maior conjunto de casas nesse estilo de construção fora da Alemanha. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), a rota foi eleita pela ONU como uma das melhores vilas turístias do mundo em 2021. Neste ano, veio o Prêmio Turismo Responsável na América Latina.

Tour na Nugali leva visitante a viagem de sensações por meio do chocolate

Localizada no início da rota, o loja da fábrica da Nugali faz uma homenagem a esse método construtivo originalmente alemão. A estrutura da estufa do Tour Nugali foi feita em enxaimel, uma lembrança das raízes locais que, ao mesmo tempo, é capaz de nos transportar para muitos quilômetros de distância.

Ao entrar na estufa, que é parte do circuito do passeio guiado pela fábrica, a sensação é de ser levado para o meio de uma plantação e cacau. Abelhas, sons de pássaros, calor abafado, flores e frutos de cacau no pé nos fazem esquecer por alguns instantes que estamos no interior de Santa Catarina. Mais parece uma plantação de cacau na Bahia ou no Pará.

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Estufa do Tour Nugali: construção em enxaimel e sensação de estar numa floresta de cacau. | Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

De volta ao aqui e agora. Depois de passar pela estufa de cacau, o tour nos leva a uma experiência sensorial envolvedo olfato e paladar. Na primeira parte, caixas engenhosamente equipadas guardam ingredientes utilizados na produção de diferentes tipos chocolate. Aperte o borrifador e sinta o aroma de avelãs, café, baunilha...

Em outra sala, mais engenhosidade. Agora, para sentir o chocolate em seus vários momentos e sabores. São cinco torneiras onde o visitante pode se servir - com a colher que recebe no começo do passeio - e provar da massa de cacau - amarga e levemente salgada - ao chocolate branco. Tudo em ponto cremoso graças a uma máquina bolada pelo engenheiro e proprietário da Nugali, Ivan Blumenschein.

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A área do Tour tem vista para a linha de produção dos chocolates. | Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

O tour foi pensado e desenhado por ele e a esposa, Maitê Lang. Ambos engenheiros, eles são os donos da Nugali e os responsáveis por toda a construção da identidade da marca, pioneira no processo bean-to-bar no Brasil.

A intenção, segundo Blumenschein, é ampliar a conexão da marca com o público que visita a loja da fábrica. "Temos orgulho de mostrar o que a gente faz e também uma vontade de educar o nosso público, mostrar como o processo do chocolate é feito. Por isso, o tour faz todo o sentido para a nossa marca, que com isso também consegue criar uma relação de proximidade com o cliente", diz.

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Do cacau ao chocolate: Nugali é pioneira no Brasil no método bean-to-bar, com trabalho constante com produtores da Bahia e do Pará. | Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

A Nugali trabalha desde o seu início, em 2004, com produtores de cacau brasileiros - Pará e Bahia. Os donos da empresa desenvolveram um método próprio para conhecer melhor a matéria-prima base da indústria de chocolate e garantir cacau de primeira qualidade para a fábrica. Por consequência, ainda fortalece a cadeia produtiva do cacau nacional.

Desde o começo da Nugali, Maitê e Ivan buscam o contato direto com os produtores de cacau do país. Nesse processo, ignoraram os manuais internacionais com avaliações sobre o cacau nacional, confiaram no paladar, foram a campo e conquistaram prêmios.

A Nugali é uma das marcas de chocolate nacional com mais premiações internacionais. A primeira veio em 2016, com o Chocolate 80% Serra do Canduru. Produzido com cacau de origem única da Bahia, ele possui um sabor frutado, levemente doce e tem zero adição de leite e aromatizantes. Resultado possível com o cacau certo e a fermentação ideal.

Sustentabilidade de ponta a ponta: conta com produtores e lixo zero

O pulo do gato para chegar a chocolates de tanta qualidade foi conhecer o método de produção do cacau brasileiro, do plantio à secagem, e perceber como cada etapa desse processo influencia no sabor do chocolate. Entendido isso, criaram um método de prova e feedbacks aos produtores. Duas vezes por ano - na safra da Bahia e depois do Pará -, centenas de lotes de nibs de cacau são avaliados pela equipe da Nugali às cegas.

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O casal Maitê Lang e Ivan Blumenschein: viagens para encontrar produtores e preocupação com ações sustentáveis na empresa. | Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

Essa avaliação é repassada aos produtores que, com isso, têm a chance de entender o que deu certo, ou não, e como podem evoluir. "Esse método de feedbacks é bom para eles e para nós. Porque eles conseguem aprimorar o cacau com o passar dos anos e nós conseguimos ter um produto melhor. Por fim, ele também consegue ampliar o mercado e ter mais ganho com o produto", explica Maitê.

Por ano, cerca de 100 toneladas de cacau brasileiro são comprados pela Nugali. Pelo produto testado e de qualidade superior, a marca chega a pagar cinco vezes mais que o valor praticado pelo mercado de commodities.

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Embalagens com material compostável: iniciativa foi premiada em 2022 pela CNI. | Silvio Klotz/Divulgação/Nugali

Dessa forma, o processo de teste às cegas realizado na Nugalli e devolução para os produtores de uma crítica comentada sobre cada lote enviado cria um ciclo de produção completo. No qual o produtor pode conectar o método ao perfil de sabor obtido e, assim, entender melhor o produto e pensar quais mudanças pode implementar para conquistar um resultado melhor. É sempre um passo para o futuro de uma safra melhor.

Ainda nesse passo a frente, a Nugali tem trabalhado para se tornar uma empresa lixo zero. Um dos esforços para essa conquista foi a mudança nas embalagens da marca. O plástico metalizado foi substituído por polímero biodegradável, que em pouco tempo se decompõe na natureza sem deixar resíduos tóxicos. A ação garantiu o Prêmio Inovação CNI à Nugali em 2022.

Serviço:

Tour Nugali Chocolates - Rua Testo Alto, 4848 (Rota do Enxaimel) - Pomerode (SC). Aberto todos os dias, das 9h às 18h. Valores: Crianças até 4 anos não pagam, os demais R$ 40,00.

*A repórter viajou a convite da Nugali Chocolates

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