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Espetáculo Absurdo da companhia Atores de Laura usa a lógica filosófica de Eugène Ionesco, repleta de esperança e ingenuidade | Divulgação
Espetáculo Absurdo da companhia Atores de Laura usa a lógica filosófica de Eugène Ionesco, repleta de esperança e ingenuidade| Foto: Divulgação

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Absurdo

Teatro da Reitoria. Amanhã, às 19 horas, e segunda-feira, às 21 horas. Ingressos a R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada).

Adaptação

Enfim Curitiba vai ver O Filho Eterno

Absurdo mesmo é o fato de Curitiba nunca ter visto o monólogo O Filho Eterno, outra montagem de sucesso da companhia Atores de Laura, com direção de Daniel Herz. Pelo simples fato de ser uma adaptação de Bruno Lara Resende para o livro homônimo do escritor radicado em Curitiba – e colunista da Gazeta do Povo – Cristovão Tezza.

"É uma coisa louca: o autor do livro é daí, a história se passa em Curitiba, nós estamos viajando com a peça pelo Brasil inteiro há quase dois anos e até hoje não conseguimos apresentar aí", revela o diretor, por telefone. "Mas hoje em dia, para circular pelo Brasil é assim mesmo, ou é edital ou festival, e o Festival de Curitiba nunca nos convidou com O Filho Eterno."

Na metade do ano, graças ao projeto Palco Giratório/Sesc, O Filho Eterno finalmente será montado na sua cidade natal. Aliás, a dobradinha da companhia carioca com o escritor curitibano não se encerra com o monólogo: "Nosso próximo espetáculo, Beatriz, que estreia no dia 9 de maio no Teatro Laura Alvim [no Rio de Janeiro], é uma adaptação de outros dois livros do Cristovão Tezza: o próprio Beatriz e Um Erro Emocional", adiantou o diretor. Fica a dica para o Festival de Curitiba do ano que vem...

Espectadores esporádicos de teatro muitas vezes torcem o nariz diante do tal "teatro do absurdo" – gênero caracterizado pelo nonsense, que tem em Samuel Beckett, Arthur Adamov, Jean Genet e Eugène Ionesco seus maiores expoentes. Costumam associar a expressão a uma "viagem" pretensiosa e hermética, um amontoado de situações sem sentido, cujo único propósito seria satisfazer o ego do diretor.

Não é o caso de Absurdo, espetáculo que a companhia carioca Atores de Laura apresenta amanhã e segunda-feira no Teatro da Reitoria, pela Mostra 2013 do Festival de Curitiba. "Apesar de o espetáculo ser absurdo, é numa medida em que as pessoas conseguem ‘entender’ tudo", garante o diretor Daniel Herz. "Não tem nada de hermético: é como se a gente propusesse um pacto com a plateia, que embarca nessa fantasia. E o resultado disso é que a montagem tem muito humor, as pessoas riem sem parar."

Toda a ação se passa em um único cenário: uma mesa de jantar compartilhada por dois casais – que não se conhecem e interagem apenas entre si, mas que dividem o mesmo e único filho. Além do filho, o único ponto em comum entre os dois casais é a tentativa – algo patética – de manter uma relação afetiva saudável após 20 anos de convivência. "É o paradoxo da existência: quanto mais intimidade, maior o abismo entre as duas pessoas. A convivência vai gradualmente esgarçando a ponte entre um e outro, tornando a comunicação cada vez mais difícil", resume. "Temos a ilusão de que estamos nos comunicando o tempo inteiro, quando é a incomunicabilidade quem comanda as relações. A gente brinca muito com isso no espetáculo, há vários jogos em que essa questão fica bem evidente."

Pesquisa

A montagem estreou em outubro do ano passado no Rio de Janeiro, com boa recepção do público, e tem sido montada periodicamente desde então. Ela dá sequência à pesquisa iniciada com a peça Decote e aprofundada em Adultério, na qual a companhia produz um texto original depois de mergulhar na obra de um determinado autor – no caso, Nelson Rodrigues e Pirandello, respectivamente. Em Absurdo, a inspiração foi o dramaturgo romeno Eugène Ionesco. "Nos embrenhamos na obra dele e buscamos a sua lógica filosófica para criar uma nova história", descreve. "[Samuel] Beckett é mais ácido, melancólico, os personagens dele têm a consciência de que nada pode ser feito. Já os do Ionesco ainda acreditam numa solução, ele brinca com essa esperança, e essa ingenuidade traz a graça."

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