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Alexandre Nero na biblioteca de Helinho Brandão, durante a gravação do DVD: filme de música fora dos padrões | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Alexandre Nero na biblioteca de Helinho Brandão, durante a gravação do DVD: filme de música fora dos padrões| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Em Curitiba, muita gente sabe que Alexandre Nero – que interpreta o advogado bon vivant Stênio em Salve Jorge – tem uma carreira sólida na música, anterior inclusive às suas incursões na dramaturgia. Muitos vão se lembrar de que ele fez parte do grupo Fato, que lançou CD e se apresentava toda sexta-feira na Aoca com a Maquinaíma, ou das hilárias performances com a banda Denorex 80.

No resto do Brasil, porém, o curitibano – que completa 43 anos na quarta-feira de cinzas – é reconhecido apenas como "o cara da novela", ou um daqueles "atores que cantam", e de vez em quando lançam CDs para massagear o ego – os Dados Dolabella da vida. Certamente foi assim que boa parte do público encarou o álbum mais recente de Nero, Vendo Amor em Suas Mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições, lançado em 2011.

Talvez por isso, quando decidiu gravar um DVD do disco, Alexandre Nero tenha resolvido se despir de todo e qualquer personagem. "O filme vai mostrar um pouco do Alexandre sendo ele mesmo, sem personagem, tentando ser o mais verdadeiro possível – embora você sempre encarne o seu próprio personagem", filosofa. "Quero mostrar o meu outro lugar. Se o Brasil me conhecesse apenas pela minha música, possivelmente este filme seria sobre atuação, e me mostraria interpretando um personagem."

Como não é o caso, Nero resolveu "fingir" o mínimo possível. "Eu não gosto de fingir... mesmo porque o ator finge o tempo todo", observa. "Você erra, volta, faz de novo, até ficar bom. Mas, às vezes, o que ficou ‘ruim’ também é muito bacana, e eu achei que poderia ser interessante trabalhar com as ineficiências, os problemas e as impossibilidades do processo."

Ele conta que algumas dessas dificuldades resultaram em opções estéticas interessantes: "Eu não tinha grana para fazer um DVD tradicional, com qualidade. Além disso, se fôssemos registrar um show, nós teríamos que ensaiar muito mais, para encarar o público de uma maneira satisfatória", exemplifica.

Diante desses obstáculos, a primeira providência foi descartar o formato habitual de apresentação ao vivo, com plateia. "Comecei a achar interessante o fato de não ter público, mesmo porque, muitas vezes, os registros de shows ao vivo são uma mentira descabida: os artistas tocam várias vezes a mesma música, regravam as vozes ou corrigem instrumentos no estúdio", revela.

"Eu quis mostrar todo o processo, a gente tocando, brincando, brigando e discutindo o que fazer. E muitos erros vão aparecer, problemas de áudio, de luz, vamos assumir muita coisa", adianta. "Não que não tivéssemos a capacidade de fazer um produto ‘redondo’; temos um material lindo, a gravação do vídeo ficou maravilhosa, mas eu queria que este filme fosse mais que um simples DVD de música."

Nesse contexto, Alexandre Nero resolveu incluir no filme suas outras facetas artísticas. "Adicionamos algumas cenas como ator, colocamos alguns poemas, é uma mistura de situações costuradas por música", descreve. E as próprias músicas (compostas por faixas do álbum Vendo Amor... e outras inéditas) não são apresentadas da maneira tradicional: "Às vezes, é só um pedaço da música, outras a música inteira, em algumas a gente tocou com uma banda completa, noutras é só voz e violão... em geral elas são bem cruas, do jeito que foram compostas, num clima bem ‘lá em casa’", resume.

Gravado em três dias na casa do amigo e compositor Helinho Brandão, o DVD Revendo Amor – com Pouco Uso, Quase na Caixa tem participação especial de André Abujamra e deve ser lançado até setembro, com apoio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). "Vou fazer o circuito habitual de lançamento: inscrever em festivais, ver se a distribuidora se interessa em lançar no cinema ou em DVD direto, mas não tenho grandes expectativas. Só espero que as pessoas gostem, mas já me diverti bastante fazendo."

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