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Exposição

Editores Artesanais Brasileiros

Mostra com livros artesanais. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em São Paulo (R. da Biblioteca, s/nº, Cidade Universitária da USP), (11) 3091-1154. Segunda a sexta-feira, das 9h30 às 18h30. Sábados, das 9 às 13 horas. Até 10 de novembro. Entrada franca.

Livro

Editores Artesanais Brasileiros

Gisela Creni. Autêntica, 160 págs; R$ 39,90. História.

A pesquisadora Gisela Creni não tem mais frestas nas suas prateleiras para abrigar novos livros, mas sempre está atenta às últimas promoções feitas pelas editoras. Principalmente aquelas cujo trabalho não é puramente de conteúdo, mas também estético. Esse encanto fez com que ela pesquisasse no seu mestrado em História pela Universidade de São Paulo (USP) os pequenos editores artesanais brasileiros. O levantamento feito na década de 1990 está publicado agora em livro, pela editora Autêntica, e em exposição em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em São Paulo.

Em Editores Artesanais Bra­­­sileiros, é possível descobrir histórias deliciosas sobre autores e editores que resolveram se dedicar a publicar novos escritores, sobretudo poetas, com capricho artesanal e ilustrações de notáveis, como os artistas Farnese e Iberê Camargo, além de estreantes.

Vice-cônsul brasileiro ins­­­talado em Barcelona, na Espanha, em pleno regime do general Franco, o escritor João Cabral de Melo Neto (1920-1999), sofria com fortes cefaleias e recebeu a indicação médica para praticar exercícios físicos na tentativa de canalizar a "tensão acumulada". Não teve dúvidas: comprou uma prensa Minerva.

Uniu, então, o gosto pelos livros e o movimento obrigatório. Nascia aí as edições de O Livro Inconsútil. Manuel Bandeira, Joel Silveira e Vinicius de Moraes foram alguns dos autores publicados – as edições variavam de 100 a 150 exemplares, todas numeradas e assinadas pelos escritores.

Entre 1947 e 1951, quando havia brechas em seu trabalho no consulado, Melo Neto imprimia. As edições eram distribuídas entre amigos, nunca comercializadas. Em 1952, o autor precisou voltar ao Brasil para responder a um inquérito, e vendeu a prensa para um convento de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Apesar da importância do trabalho gráfico nas editoras artesanais, havia rusgas entre os editores e ilustradores. Pelo menos é o que Pedro Moacir Maia (1929-2008) relatou para a pesquisadora sobre o seu trabalho com a Edição Dinamene. Ele revelou que a encomenda de desenhos a artistas como Cândido Portinari (1903-1962) valorizava as edições, mas que, nem sempre, "o artista faz o que a gente quer". Para ele, os artistas brasileiros não gostavam de ler, com exceção do pintor e gravador pernambucano Darel Valença e do curitibano Poty Lazzarotto (1924-1998).

Método

Gisela apresenta relatos detalhados sobre os editores: Manuel Segalá, na Philobiblion; Geir Campos e Thiago de Mello, na Hipocampo; Gastão de Hollanda, nas editoras O Gráfico Amador, Mini Graf e Fontana; e Cleber Teixeira, na Noa Noa. Todos eles, com exceção de Teixeira, que iniciou em 1965, começaram as empreitadas na década de 1950. A pesquisadora realizou o levantamento na casa de colecionadores, principalmente na do empresário e bibliófilo José Mindlin (falecido em 2010), e conseguiu entrevistar grande parte dos editores, ainda vivos na época da pesquisa.

O recorte histórico escolhido por ela não significa que houve um crescimento da atividade naquela época, e sim uma mudança no modo de imprimir livros. "As impressões eram feias. A editora José Olympio tinha uma preocupação gráfica, mas a maioria não ligava muito. Ainda mais para poesia", diz Gisela. Ela salienta, ainda, que a indústria gráfica era incipiente, e havia pouca tecnologia disponível, tanto para a impressão como para as ilustrações.

A autora chama atenção para a diferença entre editores artesanais e livros de luxo. "Há um cuidado com o papel e com a tipologia, mas as editoras artesanais eram simples. Com exceções, quem realizava as ilustrações eram iniciantes, hoje famosos."

Como legado, essas pequenas editoras conseguiram despertar a atenção para o fato de se pensar o livro além do conteúdo. Há 30 anos no mercado editorial, boa parte deles na Companhia das Letras, Gisela acredita que ainda há interesse por um livro bem acabado, mesmo na era da tecnologia e de especulações sobre o fim das publicações impressas. "Tenho um iPad, mas fico apaixonada por uma edição artesanal. Em São Paulo, acontecem feiras de pequenas editoras que são sucesso de público. Na Companhia das Letras, já realizamos edições especiais que pessoas compraram mesmo tendo a anterior. As pessoas têm sim, curiosidade com o livro."

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