| Foto: Divulgação
CARREGANDO :)

Morreu na tarde de ontem o cearense Francisco Anysio de Oliveira Paula, que em vida assumiu a identidade de dezenas de personagens – a citar, Professor Raimundo, Bozó, Painho, Coalhada, Alberto Roberto, Justus Veríssimo, Salomé, Bento Carneiro, Pantaleão, Nazareno, Haroldo e Azambuja, entre tantos outros (veja mais na galeria abaixo) –, mas foi sobretudo como Chico Anysio que fez fama. Nas suas contas, foram 209 personagens, alguns para outros atores – caso do inesquecível Primo Rico, imortalizado por Paulo Gracindo, em dueto com Brandão Filho, o Primo Pobre.

Publicidade

FOTOS: Confira os personagens marcantes de Chico Anysio

Após 112 dias internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, onde deu entrada em novembro do ano passado devido a uma infecção urinária, o artista piorou no início desta semana e, na segunda-feira, voltou a respirar com a ajuda de aparelhos em período integral. No dia seguinte, teve uma complicação renal.

Na noite de quarta-feira, ele foi submetido a uma sessão de hemodiálise e apresentou instabilidade hemodinâmica – por isso, fez uso de uma alta dose de medicamentos para controlar a pressão arterial. Seu estado foi considerado crítico pelos médicos na manhã de quinta-feira. E ontem, às 14h52, de acordo com o boletim médico, Chico não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e morreu por conta da falência múltipla dos órgãos decorrente de choque séptico causado por infecção pulmonar.

O velório será realizado hoje, no Theatro Municipal do Rio a partir das 8 horas. Na parte da manhã a cerimônia será restrita aos familiares e amigos mais próximos. A partir das 14 horas, as portas do teatro serão abertas ao público em geral. O corpo será cremado amanhã, em cerimônia restrita à família no Cemitério do Caju.

Início

Publicidade

A carreira de Chico começou na Rádio Guanabara, no Rio, para onde a família Anysio de Paula se mudou quando Chico tinha 8 anos. Tornou-se vascaíno, só para contrariar, porque o pai era botafoguense e eles moravam perto do Fluminense, clube onde fez amigos, cresceu e jogou bola à vontade. Até o dia em que, esperado para uma partida, foi em casa buscar o tênis e deu de cara com a irmã Lupi, que naquele instante saía com um amigo para ir fazer um teste na Rádio Guanabara. "Vou junto", disse Chico. Aprovado nos testes para radioator e locutor, dizia sempre que tinha virado ator porque esquecera o tênis.

Mas a percepção de que poderia se dar bem no rádio já existia. À­­­quela altura, Chico já havia ven­­­­cido vários concursos de ca­­­louros graças ao talento de imitar vozes famosas, entre locutores e artistas. Fazia Oscarito, Saint Claire Lopes, Rodolfo Mayer, James Manson, James Cagney e Luiz Jatobá. Passou ainda pela Rádio Mayrink Veiga.

Na era da chanchada no cinema nacional, nos anos 50, chegou a escrever e a atuar em alguns filmes da Atlântida. Estreou na tevê em 1957 pela TV Rio, com o Noite de Gala. Em 59, estreou no programa Só Tem Tantã, mais tarde batizado como Chico Total. Pisou na Globo em 1968 e lá ficou.

Família

Casado seis vezes, e isso não era piada, lançou o livro Como Salvar Seu Casamento, que ensinava ao leitor dicas sobre uma boa relação. Mais 20 livros fecham a coleção de títulos lançados por ele no mercado editorial, entre biografias e anedotas. Deixou dez netos e nove filhos: o ator Lug de Paula (com a atriz e comediante Nancy Wanderley), o também ator e comediante Nizo Neto e o diretor de imagem Rico Rondelli (com a atriz e vedete Rose Rondelli), André Lucas, adotado, o DJ Cícero Chaves (com a ex-frenética Regina Chaves), o ator, escritor e comediante Bruno Mazzeo (com a ex-modelo e atriz Alcione Mazzeo), além dos caçulas Rodrigo e Vitória (com a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello). Irmão da atriz Lupe Gigliotti e do cineasta Zelito Viana, era tio da diretora Cininha de Paula e do ator Marcos Palmeira.

Publicidade

Durante um longo tempo, a pergunta mais feita a Chico era: Por que ele estava fora do ar? Era a campanha "Volta, Chico", encabeçada por Vesgo e Ceará, do Pânico na TV. "Talvez a Rede Globo esteja achando que eu já tenha feito por ela o suficiente e que eu deva ter um pouco de descanso. Eu não estou querendo esse descanso", disse Chico, ao ser abordado por Vesgo e Ceará. A cena está no YouTube.

Em dezembro de 2009, a direção da Globo se rendeu ao mestre e lhe abriu uma vaga no calendário de especiais de fim de ano. Por cerca de uma hora, personagens das mais diversas etnias, estirpes e épocas se encontraram, todos na pele de Chico. Graças a recursos que Pantaleão não conheceu em seu tempo, Chico contracenou consigo mesmo em todos os quadros, reunindo mais de uma dezena de tipos na sala do professor Raimundo. E, ao vestir o figurino da gaúcha Salomé, que fora íntima de João Batista (o Figueiredo, claro, último presidente do regime militar no Brasil), telefonou para Luiz Inácio e ouviu uma voz feminina do outro lado da linha: "Dilma?", perguntou.

O especial fez eco e a Globo resolveu resgatar Chico para o mesmo Zorra Total que havia visto suas últimas piadas, em 1999, então como o mais amado dos canastrões: Alberto Roberto. Chico conhecia o motivo da geladeira. O jejum promovido pela Globo foi comunicado em nota oficial, dez anos atrás, logo após uma entrevista do humorista à revista Isto É, com críticas ao novo modelo de gestão da emissora, a diretores e colegas. A Globo o manteve sob contrato, evitando sua ida para outros canais. O acordo atual venceria neste ano.