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O carioca na internet

Uma rápida busca pela internet por Chico Buarque pode trazer muito material interessante para quem ainda vai ver ou para quem não conseguirá ver o show. No site oficial, é possível conhecer mais sobre o artista, ler as letras das músicas do novo álbum e ouvir "Carioca" na íntegra.

No site da gravadora Biscoito Fino, além de ser possível comprar o CD, pode-se também fazer o download versões da música "Ode aos Ratos", remixadas pelo DJ Dolores.

Mas é no YouTube que o potencial da internet se mostra. É possível ver desde trechos de diversas apresentações do show "Carioca" - a maioria gravadas por fãs, muitas com o celular e seguidas de comentários empolgadíssimos (confira no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Berlim) – até músicas completas e bem editadas (veja "Morena de Angola" e "Ela Faz Cinema").

Também é possível ver no site de vídeos o clipe da música "Ela Faz Cinema" e o trailer do documentário "Desconstrução", que mostra os bastidores da gravação do novo CD.

Outras pérolas podem ser encontradas também: há um trecho do 3.º Festival Internacional da Canção (de 1.968) apresentado no Vídeo Show de 1988; Vídeos das músicas "Homenagem ao Malandro" e "A Volta do Malandro", da "Ópera do Malandro"; a música "Roda Viva", interpretada por Chico Buarque e o grupo MPB4; e "Pois é", por Chico e Elis Regina.

Fui ao show do Chico não a contragosto, porque isso não é nenhum sacrifício, mas sem muito entusiasmo. Havia escutado o disco "Carioca" e não me empolguei, achei-o até algo decepcionante, com arranjos e melodias sempre muito parecidos, repetitivos e sem inventividade. Até deixei o CD no carro e nem o levei para uma audição mais atenciosa no recanto do lar. Então, nem me cocei para comprar ingressos, ainda mais sabendo da fila daquele jeito e do preço abusivo. Mas, na última hora, aos 40 do segundo tempo, um anjo loiro e uma fada madrinha oriental, que sempre me ajudam nessas horas, me ofereceram um ingresso. Por isso aqui estou eu, escrevendo sobre o show desta terça-feira (03/4/2007), no Guairão, em Curitiba. A estréia de um show de Chico depois de oito anos de ausência.

Cheguei apressado, meio correndo, mas logo que sosseguei, sentei, senti um clima emocionado na platéia. Mulheres expansivas, alegres, se sobressaíam, os homens, mais recatados, mas também com grande expectativa. E eu, molhadinho. Não, não, suas safadinhas, não é isso que vocês estão pensando, é que tomei a maior chuva e cheguei ao teatro completamente alagado. Sabe quando o tênis faz splash, splash, quando você anda. É desse jeito que eu estava e por isso é que cheguei correndo ao teatro, tentando fugir da chuva e me aquecer e secar um pouco.

Com poucos minutos de atraso, a luz apaga-se e uma voz inicia os agradecimentos e a ficha técnica do espetáculo. Por fim, anuncia solemente: "Com vocês, Chico Buarque". Um spot de luz de fundo projeta a sombra do artista em um painel com a paisagem do Rio de Janeiro. O painel vai subindo e Chico esta no palco, cantando. Neste momento, uma comoção toma o teatro e quase todos os espectadores se levantam e começam a aplaudir este ícone que encabeça a música brasileira há 40 anos. Foi emocionante, mas eu ainda estava meio emburrado e molhado e nem me levantei. Chico, no palco, ironizava a própria aparição começando o show com a música "Voltei a cantar", de Lamartine Babo. Não sou assim especialista em Chico, mas ao que minha fraca memória permita lembrar, ele nunca gravou esta música. O que significa dizer que foi escolhida especialmente para o momento de retorno.

Aos poucos, na platéia, a comoção foi se acomodando e o clima do palco foi retirando toda a energia guardada em longos oito anos e esvaziando-a. Fazia tempos que eu não ia a um show em que não tinha ninguém pulando ou se contorcendo ou, no mínimo, fazendo caretas no palco. No início estranhei. Senti falta dessa energia física, corporal. As oito pessoas que estavam no palco tocavam quase imóveis. O som era baixo. As luzes intimistas, o cenário despojado, apenas uma escultura em fio metálico como se fossem os contornos das famosas montanhas e morros do Rio de Janeiro. E outra, também em metal, que poderia se transformar em sol ou lua, dependendo da iluminação.

A ficha caiu

Apesar de tudo o que representa, Chico era uma figura comum no palco – as mulheres vão discordar de mim, é claro, então vou me explicar melhor. Veste-se de maneira sóbria, não faz firulas nem gracinhas, mal conversa com a platéia e as músicas unem-se umas às outras com espaço apenas para os aplausos. Era como se o artista fosse mostrando com as músicas iniciais que era para as pessoas se sentarem, se acomodarem, respirarem fundo, engolirem a comoção e prestarem atenção. A ficha caiu. Pouco importava o artista, ou melhor, não é o homem que importava. O foco, a energia toda estava na obra. O show é a música. Não se fazia nada que desviasse a atenção deste foco principal. E eu, que havia dado pouca atenção às novas músicas de "Carioca" percebi como havia sido burro. Como foi possível eu não ter prestado a devida atenção a músicas como "Outros Sonhos", "Porque Era Ela, Porque Era Eu", "Ela faz cinema", "As atrizes", "Bolero Blues" (parceria com o baixista Jorge Helder), "Renata Maria" (parceria com Ivan Lins). A música "Dura na queda" eu já conhecia e continuo preferindo a versão cantada por Elza Soares.

Tenho que dar o braço a torcer também para o meu xará Luiz Claudio Ramos, o arranjador e diretor musical tanto do disco quanto do show. Pra começar, seu violão ou guitarra, são ótimos e, em aguns momentos, apesar de toda discrição, quase roubam o espetáculo. O xará tem uma sensibilidade, uma elegância e falsa economia nos arranjos que extraem o melhor dos instrumentistas sem retirar a atenção daqulo que interessa: a obra (pode ser com letra maiúscula: a Obra).

Impávido e elegante

O show foi ponteado por gritos de "Lindo", "Maravilhoso", e Chico continuava, impávido e elegante. O próprio clima do espetáculo recolocava os hormônios em paz sem que o artista precisasse gritar de volta: "feche as pernas e preste atenção, vagabunda!". Chico não falava. A única vez que o fez foi para dar uma puxadinha de saco nos curitibanos. Depois de cantar "A história de Lily Braun", avisou que teriam três músicas no espetáculo que foram compostas por ele e Edu Lobo especialmente para o balé "O Grande Circo Místico", de 1982, do Teatro Guaíra. Então disse, carinhosamente, que apesar do show chamar-se "Carioca", tinha uma parte das músicas compostas em Curitiba.

As músicas mais antigas ("As vitrines", "Futuros amantes", "Bye bye Brasil", "Imagina"), entre outras, é claro, eram as mais aplaudidas, por serem mais conhecidas. E no bis e, principalmente no tris, vieram as mais clássicas. O bis e o tris foram acompanhados por todo o teatro de pé, a platéia em estado de graça. E eu, já seco da chuva, agradecido pelo espetáculo e por Chico ter me lembrado da lição musical básica: preste atenção na obra. Sim, a inteligência é sim um bom divertimento. Chico é show!

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