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Robert Redford e Paul Newman: bigode e corpo sem malhação eram códigos da beleza masculina dos anos 70 | Reuters/Courtesy 20th Century Fox/Handout
Robert Redford e Paul Newman: bigode e corpo sem malhação eram códigos da beleza masculina dos anos 70| Foto: Reuters/Courtesy 20th Century Fox/Handout
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"Espelho, espelho meu. Existe alguém mais bela do que eu?" A madrasta de Branca de Neve sofreria infinitivamente mais com a questão nos dias de hoje. Além da beleza e do corpo perfeito, Branca possuía outro atributo valorizadíssimo atualmente: a juventude. O espelho não é mais um bom conselheiro. Ele nunca nos dará uma resposta suficientemente satisfatória, que reflita a imagem de beleza reproduzida pela tela gigante do cinema, pelos blogs de celebridades, pelas publicações especializadas em boa forma.

Os traços delicados e proporcionais e a simetria do rosto da princesa lhe valiam o posto de "a mais bela". Esses seriam princípios da beleza clássica – sujeitos a variantes da história e do tempo. Hoje, provavelmente, ela seria considerada bonita, mas talvez seu cabelo pudesse pender liso pelo ombro e sua tez pudesse ser um pouco mais bronzeada. Com cinco quilinhos a menos, o rosto afinaria, ganhando melhor contorno e a calça jeans skinny lhe cairia melhor. "A beleza é um conceito subjetivo, que varia de época, de sociedade e até de geografia", diz o cirurgião plástico curitibano Anacleto Basseto, membro-titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Basseto observa que, num passado não tão distante, as mulheres tinham de ser, no mínimo, cheinhas para despertar o desejo sexual dos homens. Nos anos 1970, já mais magras – 30 anos depois chegariam a beira da esqualidez –, tinham seios pequenos. Particularmente no Brasil, nos anos 80 o antropólogo Gilberto Freyre apontava que o modelo de beleza da brasileira, simbolizado por Sônia Braga (a típica morena brejeira), estava sofrendo um "impacto norte-europeizante ou albinizante", com o sucesso de mulheres como Vera Fischer: alta, alva, loira, cabelos "arianamente" lisos.

Agora, os códigos de beleza corporal apontam para seios fartos e glúteos pronunciados, curvas muitas vezes construídas no bisturi. E os padrões corporais já não não mais geograficamente específicos: Pamela Anderson poderia ser brasileira. O silicone tem no momento o que poderia ser chamado de tamanho padrão: os de 300 e 350 mililitros são os mais pop.

Já os homens, eram igualmente magros na década de 1970 (Robert Redford), passaram por anos de malhação, quando os músculos foram "inflados" (Syvester Stallone) até chegarem num momento de valorização do corpo malhado, atlético, mas sem exageros (o ator brasileiro Rodrigo Lombardi). O príncipe de Branca de Neve, portanto, cairia do cavalo.

Hoje, o silicone e outras dezenas de intervenções estéticas ajudam a criar um caminho para uma padronização. A ironia é que esses padrões são modelos inalcansáveis de feminilidade e masculinidade. E não é preciso citar as estrelas para perceber que uma parcela das mulheres está se tornando muito parecida entre si nesse caminho. "Se você observar determinada classe social, vai perceber muita similaridade: as mulheres parecem ir ao mesmo cirurgião, ao mesmo cabeleireiro, fazer o mesmo clareamento dental, usar o mesmo estilo de maquiagem, comprar roupas na mesma loja", diz o médico.

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