
O Teatro Guaíra é muito mais do que sinônimo de um dos mais importantes palcos da capital paranaense. Já foi Fundação Teatro Guaíra e, posteriormente, transformou-se em Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG). Ali, bem mais do que aquele grande auditório, com capacidade para mais de dois mil espectadores, há um corpo de balé e uma orquestra sinfônica.
O Guaíra tem para este ano orçamento de R$ 17 milhões, incluindo folha de pagamento que, por si só, retém cerca de R$ 14 milhões, destinados a 378 funcionários. Cerca de 8% dessa verba é destinada aos salários de 8% dos funcionários concursados que atuam no balé. A orquestra, por sua vez, tem 52 servidores de carreira.
Ser artista e ao mesmo tempo funcionário público é um desafio, distante de vir a ser superado. Eleonora Greca, primeira bailarina do corpo de baile, afirma que, no que diz respeito ao Teatro Guaíra, artista virou estatutário, servidor. E isso é uma questão nacional. Todos os teatros brasileiros com esse regime têm problemas. No Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte, o problema é o mesmo.
A ex-secretária de Estado da Cultura, Lucia Camargo, que coordenou o curso permanente de teatro em 1971 e 1972 e foi diretora artística (1987-1989) do Guaíra, conta que, em diversas ocasiões, o Conselho Deliberativo reunia-se com a única e exclusiva finalidade de aprovar, ou não, a compra do papel higiênico.
"Centro Cultural, como chamam o Guaíra, não pode se resumir a ter um palco, muitas vezes destinado à locação, para a realização de espétáculos produzidos em outras cidades e formaturas", diz Lúcia Camargo, que trabalha com produção cultural, e conhece a realidade de outras metrópoles. "Um espaço como esse tem de ter uma pauta que contemple não apenas a exibição, mas o fomento, a produção e a realização de espetáculos de música erudita e popular, brasileira e internacional, de ópera, teatro, balé etc", afirma.
Monica Rischbieter, diretora presidente do CCTG (1998-2001), afirma, do ponto de vista da cidadã atenta aos movimentos da cidade, que parece que o Guaíra perdeu muito a sua movimentação, "sobretudo depois da inauguração do Teatro Positivo". "Não sei o que está acontecendo dentro do Teatro Guaíra. O Guaíra parece entristecido", diz.
A eventual falta de recursos seria a responsável por uma baixa produtividade do CCTG? A atual diretora presidente Marisa Vilela comenta o assunto. "A questão financeira é mundial. Nós não somos diferentes. Tudo é feito na ponta do lápis para poder realizar sem desperdício", afirma. O diretor financeiro do CCTG, Walter Gonçalves, acrescenta que, neste ano, "a arrecadação foi pequena. No entanto, não deixamos de realizar nada de estratégico. Não pudemos realizar o festival de bonecos porque não tivemos sucesso na captação pela Lei Rouanet".
A ex-diretora presidente Monica Rischbieter acha estranha essa justificativa. "Há maneiras de contornar um eventual crise. Se o CCTG não tem orçamento para bancar produções, a saída é investir tudo o que for possível nos corpos estáveis, no balé e na orquestra. Durante a minha gestão, fiz isso", conta.
Mas gerir o CCTG não parece tarefa das mais fáceis. Tome como exemplo o impasse que é manter um maestro para a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP). Alessandro Sangiorgi, no cargo desde 2002, já foi rechaçado pelo integrantes da OSP (leia mais na matéria na página 2). O salário de Sangiorgi é um tema-tabu. De acordo com a administração, ele recebe algo em torno de R$ 5 mil por mês, mais R$ 3 mil por concerto. Não bate ponto. "O Alessandro Sangiogi é um achado, porque ele tem um relacionamento muito bom com maestros do mundo inteiro. E tem uma qualidade artística que fez com que nossa orquestra se tornasse referência das orquestras do país", diz Gonçalves. Mas muitos dos músicos têm outra opinião.
Há quem reivindique que sejam realizados concursos, para que mais artistas venham a fazer parte dos quadros fixos da instituição. O mais recente concurso, para bailarinos, músicos e professores, foi realizado na década de 1990. Hoje, ligado à Secretaria da Administração, o CCTG tem bem menos autonomia.
Questionada a respeito de uma reclamação dos músicos da OSP, que dizem não serem valorizados pelos demais colegas que exercem funções administrativas, a diretora presidente responde que, "sinceramente, essa (reclamação) não tem sentido".
Muitas vozes ecoam dentro daquele prédio que, alguns críticos, dizem não passar de um aquário de vidro, sem contato com as reais necessidades da cultura contemporânea.



