O Balé Teatro Guaíra ainda pulsa, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas nesta que é considerada pelos seus bailarinos a pior fase já vivida pela instituição. Integrante do corpo de baile desde 1975, a primeira bailarina Eleonora Greca entrou para a escola de dança em 1966. Já naquele tempo lembra que havia dificuldades relacionadas, principalmente, à escassez de recursos. "Os diretores estavam sempre batendo na porta da Secretaria de Educação e Cultura para pedir dinheiro", diz.
Mas Eleonora não se lembra de ter vivido momentos tão ruins quanto os dos últimos anos. "A companhia está se diluindo. As pessoas estão saindo, não há reciclagem, a programação não recebe o respaldo da direção. Ou é má-vontade, ou incompetência ou é para acabar de uma vez com o balé."
Muitos bailarinos da companhia, descontentes com os baixos salários e com a falta de perspectivas de crescimento, participam de seletivas organizadas por outras companhias brasileiras e deixam o Estado. É o caso de Jaruam Miguez Xavier, ex-bailarino da companhia e atual membro do corpo de baile do Balé da Cidade de São Paulo.
"Como artista eu estava precisando de novas experiências, o que, infelizmente, o BTG já não podia mais me oferecer por falta de apoio do governo do estado. A carreira de um bailarino não é muito longa, por isso, é preciso aproveitar as poucas oportunidades que temos", diz. Para ele, o Centro Cultural Teatro Guaíra como um todo está sucateado, com falta de dinheiro e amarras políticas. "Se continuar assim, em pouco tempo deixará de existir."
A questão monetária, é claro, pesou na decisão de Jaruam de deixar o Guaíra. "O salário dos bailarinos do BTG é no mínimo vergonhoso. Aqui em São Paulo a média salarial é de R$ 3 mil, no Guaíra meu salário era de R$ 1.777,21", conta. Os salários dos bailarinos do Guaíra, contratados ou comissionados, gira em torno de R$ 1,5 mil. Os estatutários que hoje se resumem a cinco ganham um pouco mais. "Meu salário é de R$ 3 mil mais uma gratificação de R$1,5 mil", conta Eleonora, que contabiliza 34 anos de carreira.
Somam-se à falta de verba as burocracias e interferências internas. Lendas das Cataratas, por exemplo, novo espetáculo da companhia previsto para estrear em maio passado, no que seria o único evento oficial de comemoração dos 40 anos do balé, teve de ser adiado. "A única loja que vende o tecido para os figurinos estava com problemas em suas documentações. Por isso, o governo teve que esperar pela regularização", justifica a diretora e coreógrafa do balé Carla Reinecke.
A diretora presidente, Marisa Villela, confirma que esta pode ter sido uma das razões do adiamento. "Aqui a gente não compra uma agulha se a empresa não tiver documentação correta", diz. Mas não seria o único motivo. Como a produção era da casa, não havia obrigatoriedade de data para estrear, o balé e a orquestra estavam envolvidos com a ópera Carmen, argumenta a diretora. "É uma questão de acabamento do espetáculo. Por mais esforço que se faça para fazer bons espetáculos até determinado dia, a direção pode chegar à conclusão de que tem coisas ainda não resolvidas", completa o diretor administrativo Walter Gonçalves.
Em conversas com alguns bailarinos, a Gazeta do Povo apurou que Marisa Vilella mandou retirar uma cena do espetáculo do Guaíra 2 Cia. de Dança, Tudo Porque Chorei, de 2008, alegando que ela era violenta. A presidente não nega a interferência. "Fui na estreia e tinha um quadro extremamente violento. Chamei a direção do balé e disse que o quadro não era apropriado. Tínhamos que impedir que as crianças vissem aquela cena."
Lendas das Cataratas foi remanejada para estrear, para convidados, no dia 24 de setembro, durante as comemorações dos 100 anos da Universidade Tecnológica do Paraná UTPR, e no dia 25, para o público em geral. Por conta dessa mudança de agenda, segundo bailarinos, o Ateliê Coreográfico evento anual em que os integrantes do balé trocam de funções e apresentam espetáculos experimentais teve de ser cancelado, como já aconteceu no ano passado. Marisa rebate a informação, argumentando que o ateliê "é uma opção dos bailarinos". "Se eles tiverem outra atividade que lhe interesse mais...", sugere. Para ela, não faz diferença o que seja, "desde que eles estejam trabalhando".
Lendas terá somente três apresentações. Quebra-Nozes, montado por Carla Reinecke, encerra o ano, a partir de 12 de dezembro, com apenas sete apresentações.



