A jornalista Marisa Villela assumiu a diretoria do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCT) em 2007. Pela primeira vez, desde então, a gestora concede uma entrevista para a Gazeta do Povo, na qual foi acompanhada pelo diretor administrativo Walter Gonçalves e pela diretora artística Lu Rufalco.
Conversando com profissionais do setor artístico, a percepção é de que a produção artística do CCTG caiu ao longo dos últimos anos.
Marisa: Em três anos, o G2 teve quatro obras novas de repertório. O BCG fez o Romeu e Julieta e vai estrear o Lendas das Cataratas. É praticamente uma obra grande por ano. A São Paulo Companhia de Dança fez estardalhaço, audições no Brasil todo, três bailarinos nossos foram para lá. E o que aconteceu? Não fizeram nada o ano inteiro. Tem que ver que é uma situação da dança no Brasil e no mundo, há uma crise.
Financeira?
Marisa: Também. Está mais difícil o público sair de casa, tem a internet, a tevê a cabo.
Caiu o público do Guaíra?
Marisa: Claro que caiu.
E o que tem sido feito a respeito?
Walter: Nós implantamos desde 2007, com a Secretaria de Administração, os públicos dirigidos (que disponibiliza uma cota de ingressos para funcionários públicos, da Sanepar, professores, alunos, policiais). E temos o Teatro para o Povo, anterior à nossa gestão.
Como a pauta dos auditórios é ocupada? Olhando pelo site, a programação acontece basicamente no fim de semana.
Marisa: Tem muito evento fechado. E às vezes um espetáculo do fim de semana demanda três dias de montagem. Quando se abre a pauta, se pré-estabelece o calendário com o que o balé, a Sinfônica e a escola de dança vão precisar. Depois, as solicitações tradicionais, que são do interesse do teatro, como o Festival de Etnias, o Festival de Bonecos, o Festival de Curitiba, a Oficina de Música. Com tudo preenchido, o que sobra é para shows e eventos fechados.
Até quando a pauta está fechada?
Marisa: Até desembro de 2009. A gestão que vai assumir em 2011 terá as prioridades dela. De repente, vem um diretor que não gosta de balé e não gosta de orquestra, e daí? A partir da virada de governo, não podemos impor.
Lu: A direção geral não é dona de tudo. Existe uma demanda para que cada corpo estável se organize e converse com a sua gestão e venha com propostas de melhores datas e sugestões de espetáculos.
No passado, o Teatro Guairá teve representatividade maior na cena teatral da cidade, não apenas como espaço de apresentação. Hoje há interesse em investir em produção teatral?
Lu: Era um tempo em que não existia a Lei Rouanet, só o estado subsidiava.
Uma coisa substitui a outra?
Lu: Não. Hoje a cena teatral curitibana é superviva. A gente não financia com dinheiro, mas ajuda com estrutura. Em outubro, vamos fazer uma temporada com a Fatima Ortiz de Memórias do Palhaço Amoroso.
Walter Nos últimos anos, tivemos a produção de óperas de forma mais ou menos regular. Foi opção desta gestão dar essa prioridade, porque além de recuperar um segmento que tinha sido deixado de lado, é um segmento muito empregador, e não de altos salários para poucos, mas de salários dignos para muitos.
O CCTG estaria se tornando mais um complexo de auditórios do que um centro cultural?
Lu: Não adianta restringir essa discussão de centro cultural à metade da plateia do Guairinha, algo que interessa a 250 pessoas. É na aplicação do dinheiro público. No Romeu e Julieta, metade do público, 10 mil pessoas, era convidada. E não é só quantidade, é a qualidade do público. Um garoto da periferia poder vir ver um espetáculo como Romeu e Julieta.
Walter: As prioridades de um órgão publico têm que ser dirigidas aos cidadãos que pagaram impostos. Temos que desmistificar o seguinte: esse teatro não vai ser palco para alguns grupos com interesses artísticos, legítimos ou não, que sejam exclusivos...
Marisa: ...só para entendidos.
Walter: O teatro não é deles, tem que ser democrático.



