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Juliana Galdino encarna um Hieronymus distante da humanidade | Bob Souza / Divulgação
Juliana Galdino encarna um Hieronymus distante da humanidade| Foto: Bob Souza / Divulgação

GUIA GAZETA DO POVO

O Guia Gazeta do Povo selecionou programas imperdíveis para você fazer na cidade logo após ver uma peça durante o Festival de Curitiba. Que tal esticar a noite com um jantar romântico, uma balada ou um barzinho para tomar aquela cerveja gelada com os amigos?! Assista ao vídeo e veja as dicas

Diversas peças do Festival de Curitiba têm inspiração em mitos gregos, mas uma tenta fundar uma nova cosmogonia – espécie de lenda sobre a criação do universo. Hieronymus nas Masmorras, com texto escrito por Luiz Felipe Leprevost para o Núcleo de Dramaturgia do Sesi/Paraná, é uma espécie de saga épica de um ser mitológico que, apesar de se distanciar do humano, acaba revelando um pouco mais da nossa identidade.

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A encenação de hoje só não é a estreia de Luiz como dramaturgo porque ele abriu, na última quarta, seu O Butô do Mick Jagger, com direção própria.

Já Hieronymus... foi montada por Roberto Alvim, um dos maiores dramaturgos do país e colaborador do Núcleo em Curitiba. Ele foi convidado a montar a peça após uma seleção entre 34 textos, com curadoria dos críticos Luciano Maza e Gabriela Melão.

A ideia do texto surgiu após um período em que Luiz se sentiu "completamente travado", nas suas palavras. "Eu achei que tinha secado, que nunca mais conseguiria escrever".

Um dia, veio uma luz: "Pensei em falar sobre a humanidade numa época em que ela já não se entende como tal. Então comecei a pensar que, dessa decadência, surgiria uma nova civilização, e encontrei no poeta latino Ovídio (Metamorfoses) a proposta de criar, eu também, uma nova cosmogonia."

A primeira ideia de personagem foi a de um rei cartesiano, a quem Luiz contrapôs o mundo criado pelo holandês Hieronymus Bosch (1450-1516) em sua pintura.

Finalmente estruturada, a história mostra o anti-herói Hieronymus em sua saga de ascensão e derrocada, mas sem seguir uma trajetória clássica. O mundo em que a trama se desenrola pode estar no futuro, mas lembra também o medievo, sem ser nem futurista nem medieval.

Quando conversou com a reportagem, Luiz não havia visto nada da montagem de Alvim, que ensaia em São Paulo, com atuação de Juliana Galdino.

Após ver fotografias de ensaios, Luiz ficou ainda mais curioso. As imagens mostram um Hieronymus sujo de sangue e óleo, com um chapéu que lembra um funil.

Alvim conta que a estética foi inspirada na pintura "Extração da Pedra da Loucura", de Bosch. Para Luiz, o resultado lembra também o Homem de Lata, de O Mágico de Oz – o que faria sentido, já que este último é alguém que perdeu seu coração. "A peça expõe essa ideia, de uma vida sucateada."

"Fiquei surpreso por essa ter sido a peça escolhida. É uma obra muito estranha e difícil de encenar", contou Roberto Alvim à Gazeta do Povo. Ele gostou especialmente da linguagem inventiva do texto. "Me pareceu muito ousado e corajoso, com arquitetura linguística primorosa."

Segundo ele, a obra praticamente cria uma nova sintaxe, com ambição à Guimarães Rosa, mas sem ter nada a ver com o sertão.

Para Alvim, a atual dramaturgia costuma retratar as relações afetivas e a vida cotidiana. Hieronymus... não. "A peça não trata do nosso mundo, e sim de um mito, que é mais que uma história porque funciona como uma narrativa exemplar e desvela parte do que é o ser humano", diz Alvim. "Tem a ver com o horror, a morte e o êxtase, com algum nível de transcendência", completa.

Serviço: Hieronymus nas Masmorras. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Dias 4, 5, 6 e 7 às 21h. Texto: Luiz Felipe Leprevost. Direção: Roberto Alvim. Com Juliana Galdino. R$ 20 e R$10 (meia).

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