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O mundo todo via satélite(s): mensagens enviadas da Patagônia chegam instantaneamente em São Petersburgo. Eis o real e admirável mundo nosso |
O mundo todo via satélite(s): mensagens enviadas da Patagônia chegam instantaneamente em São Petersburgo. Eis o real e admirável mundo nosso| Foto:

A arte em sintonia com os aparatos tecnológicos

Há 10 anos, seria impensável entrevistar tão facilmente um grupo de sete pessoas. A reportagem enviou um e-mail para os artistas que fazem parte do coletivo Couve-flor Minicomunidade Artística Mundial e, em poucos dias, recebeu quatro longas respostas compiladas em um mesmo e-mail.

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Espaço infinito e barato para guardar a memória

Além das ferramentas de comunicação instantânea, os sites e blogs são considerados indispensáveis pelos entrevistados para divulgar e documentar suas produções.

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Em 2010, percorrer oceanos em busca de baleias é uma atividade segura, diferentemente do que foi a aventura do capitão Ahab, acompanhado da tripulação do barco Pequod, durante alguns anos em alto-mar. O que o norte-americano Herman Melville escreveu em seu célebre romance Moby Dick, de 1851, revela um outro tempo, com situações que não existem mais.

Hoje, um barco tem conexão permanente com a terra firme, via satélite, e é possível rastrear as águas para saber onde está o eventual alvo, destroços de uma aeronave ou um cachalote. Se algo acontecer com a embarcação, o resgate é praticamente certo.

O Robinson Crusoé sem radinho de pilha, expressão que Nelson Rodrigues inventou para definir a solidão, é uma miragem nesses tempos em que todos estão, ou podem estar, conectados. Carla Rodrigues costuma utilizar, nas aulas para os alunos de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a expressão conectividade permanente, ou mesmo hiperconectividade, para definir o que acontece no século 21, época em que uma pessoa pode ficar, e muitas vezes permanece, 24 horas on-line.

Estar conectado, ou conectar-se, é um verbo que se conjuga, obrigatoriamente, hoje. É como a chuva ou a passagem do tempo. Não se pode lutar contra. É, vamos lá, "natural". Obviamente, trata-se de uma evolução da tecnologia, que tanto foi forjada para que muitos ganhassem (e ainda ganhem) muito dinheiro, da mesma maneira que a possibilidade de comunicação instantânea tende a facilitar a vida.

Trampolim para a cidadania

"A conectividade é bem bacana quando viabiliza, de fato, o acesso à informação." A frase é da socióloga da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Tamara Benakouche. Ela lembra que o sujeito é cidadão à medida que tem acesso a informações. Se a máxima descartiana "penso, logo existo" tem sentido, então "estou conectado, logo me informo e, portanto, sou cidadão" também é uma verdade verdadeira?

Por partes.

Hoje é sábado, em tese, um dia de folga, e o leitor pode estar lendo este conteúdo na beira do mar em Matinhos ou dentro de seu quarto, até pela internet, em Maringá ou Campo Largo. Mas, de repente, ao invés de buscar informações, um jovem que vive em Londrina, e passa férias em Guaratuba, mal acorda e já coloca em sua página do Orkut o vídeo, que ele registrou pela câmera do telefone celular na noite de ontem, da Micareta Sertaneja.

Se, em um passado distante, valorizava-se o sujeito mais rápido, aquele que conseguia caçar, "na unha", um leão (ou uma baleia), hoje os desafios são outros. Para ser aceito, e reconhecido, em algumas tribos urbanas, é necessário ser o primeiro a colocar na página pessoal da internet o registro de um show, por exemplo. "Faz parte da luta pelo reconhecimento social", diz a socióloga da UFSC.

"Para muita gente isso virou uma obsessão, quase uma doença. Registrar o show, por exemplo, é mais importante do que ver e sentir o próprio show. É como se as pessoas é que tivessem virado seus avatares num ‘second life’", afirma, em tom de crítica, Arthur Dapieve, professor de Jornalismo na PUC-Rio, colunista do jornal O Globo e curador da Rádio GNT on-line.

Uma miragem virtual?

Há um coro imenso, e isso é inevitável, que vaia alguns dos eventuais problemas desse tempo de hiperconectividade. Hoje, criticam muitos, a pessoa inevitavelmente leva trabalho para casa, pois, ao conferir e-mails no fim de semana, há uma ou outra mensagem relativa a compromissos profissionais. Isso é ruim?

O que para uns é problema, para outros é a solução. Andréa Weber acredita que a conectividade pode proporcionar ainda mais prazer no trabalho. A orientadora do mestrado no departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR) argumenta que, se às 16h34 uma pessoa lê um e-mail "de trabalho", às 16h41 essa mesma pessoa pode estar combinando um café com um amigo. Andréa reconhece que, em tempos on-line, o limite entre trabalho e lazer pode ser tênue, mas essas "fronteiras" não são determinantes. "Nós ainda estamos no comando!", exclama a especialista, dando a entender que a tecnologia é apenas um recurso, e cabe a cada um saber usar (da melhor maneira possível).

Acontece que os tempos de violência levaram muita gente para a frente da tela do computador. Desse estranho, novo e viciante hábito, entre um clique e muitas palavras em salas de bate-papo, nasceram muitos relacionamentos. A psicanalista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rose Maria de Oliveira Paim observa que basta um delete para desmanchar uma relação na era messenger. Mas, pondera Rose, um "enrosco" virtual pode ser tão ou mais superficial do que um tradicional namorinho de portão.

Seria o fim da solidão?

Se hoje já existem mais linhas de telefone celular do que de fixo, se em 2016 a internet será mais acessada em celular do que em computadores, abre-se um abismo: e a solidão? Onde e quando teremos tempo para o silêncio? O escritor português Miguel Sousa Tavares diz, no romance No Teu Deserto, que hoje não é mais possível viajar e se perder: aparelhos de GPS, telefone celular e outros recursos não deixam mais ninguém isolado.

Será?

Talvez, pondera, Andréa Weber, da UFPR. A professora comenta que é comum associar uma pessoa que trabalha muito a alguém continuamente conectado. Mas, alerta a estudiosa, tal hipótese é mais estereótipo, e mito, do que realidade.

"Porque as pessoas precisam e desenvolvem filtros. Há momentos e locais em que a pessoa tem de se preservar", afirma, para em seguida citar um exemplo: "Um professor desempenha uma atividade eminentemente intelectual, a qual chega a ser até mesmo incompatível com ‘estar conectado o tempo todo’. Um docente ou pesquisador necessita de momentos de absoluto silêncio e concentração para realizar determinadas atividades e, nestas ocasiões, ele muitas vezes desliga ou não atende o celular", afirma Andréa Weber.

Da mesma forma que é preciso resistir à ideia de ser refém da tecnologia, a conectividade tem de servir ao ser humano e não o contrário.

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