O medo é uma sensação que tende a acompanhar o leitor durante as 302 páginas de Se Eu Fechar os Olhos Agora, romance que marca a estreia literária do, até então, somente jornalista Edney Silvestre.
Seguir, páginas após página, a sedutora narrativa de Silvestre é uma experiência prazerosa e ao mesmo tempo angustiante.
A impressão que se tem é de que alguma tragédia está prestes a ocorrer. É como se, na realidade, virar na próxima esquina representasse um risco de morte.
E a tragédia acontece. Uma mulher, chamada por vários nomes, será assassinada na pequena cidade que é o cenário da narrativa. O mistério ao redor do crime conduz a trama e é ponto de partida para muitas das problematizações presentes na obra.
Se Eu Fechar os Olhos Agora é um livro que trata da perda das ilusões. Os protagonistas Paulo e Eduardo , ambos com 12 anos, são expulsos da infância a partir do momento em que eles passam a ter informações a respeito do crime. Os personagens são informados por representantes do poder da cidade, todos envolvidos com o assassinato, que a curiosidade pode prejudicar o destino dos dois adolescentes: seria melhor se eles fechassem os olhos.
A passagem do tempo vai mostrar que não haverá espaço para os sonhos do passado. Na década de 1960, Paulo e Eduardo planejavam ser astronautas ou cientistas, "para inventar remédios que vão curar doenças incuráveis". A roda da vida girou e afastou os dois, ainda naquele intenso e, para eles, inesquecível 1961. Eles nunca mais se encontrariam.
Nem o Brasil, cotado como país do futuro naquele período, jamais encontraria o ambicionado destino glorioso. A pequena cidade onde se passa a maior parte do livro é uma metáfora do país: lá, um coronel controla tudo, tem poder sobre o futuro de todos e pode até apagar o passado, se isso for necessário.
Edney Silvestre conseguiu a proeza de ser lírico ao descrever tragédias humanas que acontecem ao mesmo tempo em que um país torna-se cronicamente inviável, brutal e cínico.
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