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Eugênio Bucci afirma que os governos interferem nas tevês públicas | Nino Andrés/Divulgação
Eugênio Bucci afirma que os governos interferem nas tevês públicas| Foto: Nino Andrés/Divulgação

Entrevista com Eugênio Bucci, Jornalista.

O jornalista Eugênio Bucci esteve, do dia 2 de janeiro de 2003 a 20 de abril de 2007, à frente da Ra­­diobrás, a mais importante em­­presa de comunicação governamental, que seria incorporada à Empresa Brasileira de Comu­­ni­­cação (EBC), responsável pela TV Brasil, rádios e uma agência de notícia, entre outros canais de comunicação.

Durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bucci lutou contra moinhos de vento. Transformou a comunicação oficial em apenas informação jornalística. Reformulou A Voz do Brasil, emplacou o programa Café com o Presidente, com o menor número de amarras possíveis.

Bucci esteve em um cargo de alta responsabilidade, sofrendo todos os tipos de pressões. O fato de noticiar, em plataforma oficial, um mero fato, uma greve na Esplanada dos Ministérios contra o governo Lula, foi capaz de provocar reações dentro do governo, que quase colocaram a sua cabeça a prêmio.

O jornalista, atualmente professor da Universidade de São Pau­­lo (USP), também colunista do jor­­nal O Estado de S.Paulo, contou a sua experiência à frente de uma re­­de pública de comunicação no li­­vro Em Brasília, 19 Horas (Record).

Ele concedeu entrevista à Gazeta do Povo com a finalidade de refletir a respeito de quais são os principais problemas que um gestor de um canal de comunicação público enfrenta. Foi contundente. E, ainda, apontou a TV Cul­­tura, de São Paulo, como o modelo de excelência entre as tevês educativas do Brasil.

Qual o maior desafio de quem está à frente de uma rede pública de comunicação, seja tevê ou rádio?

O principal problema é cultural. Os governantes, em geral, tendem a tentar fazer das rádios e tevês públicas, em seus estados, meros instrumentos de autopromoção. O sujeito está no cargo e usa a tevê pública para aumentar o seu capital político. Isso é péssimo, mas faz parte da realidade brasileira.

E a questão da verba...

O segundo obstáculo que todo dirigente de tevê ou rádio pública enfrenta diz respeito à falta de autonomia, e isso financeiramente falando. Os governantes costumam liberar recursos quando o dirigente da tevê, ou da rádio, segue a cartilha. Ou seja, em geral, os recursos aparecem quando a tevê e a rádio são e estão subservientes ao governante.

Existe algum modelo de excelência de rede pública de co­­mu­­nicação?

A TV Cultura de São Paulo, disparada, é a melhor e mais bem-sucedida tevê pública do Brasil. Nenhuma outra televisão educativa pode ser comparada à Cul­­tura.

Por quê?

Em primeiro lugar, porque há um conselho curador, que tem poder para eleger o presidente da emissora. Só isso já diz muito.

Mas o jornalismo da TV Cultura, por exemplo, não sofre pressão do governo de São Paulo para amenizar críticas, por exemplo, a algum eventual problema do gestão do governador?

O Departamento de Jornalismo da TV Cultura sofre, sim, pressão. Mas, com a presença do conselho curador, que fiscaliza, e do ombudsman, que também está de olho. Por isso, é possível que a TV Cultura tenha uma autonomia que nenhuma outra televisão educativa do Brasil tem.

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