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Texto na origem da peça foi publicado em 1960 e marcou a primeira vez em que Guimarães Rosa usou uma mulher como protagonista. | João Caldas Filho/Divulgação
Texto na origem da peça foi publicado em 1960 e marcou a primeira vez em que Guimarães Rosa usou uma mulher como protagonista.| Foto: João Caldas Filho/Divulgação

Para gostar de Guimarães Rosa, é preciso ler o texto em voz alta. Depois que a atriz Tania Casttello seguiu esse conselho de uma professora, ainda na adolescência, ela se apaixonou pelo autor mineiro de Grande Sertão: Veredas.

Sobretudo, pelo conto Esses Lopes, adaptado para o teatro no espetáculo Maria Miss, que estreia temporada nesta quinta-feira (9), na Caixa Cultural, com apresentações até domingo (12).

Confira o serviço completo no Guia.

Idealizadora do espetáculo, que tem direção de Yara de Novaes e adaptação do dramaturgo cearense Evil Rebouças, Tania, apesar de ser paulistana, tem familiaridade com o universo do autor. Filha de mãe mineira e pai carioca, ela tem proximidade com Minas desde a infância.

“Sempre convivi com a coisa da fazenda, a lida da cozinha. E fiquei encantada com a história do conto, pensei que um dia eu a contaria no palco”, fala.

Publicado nos anos 1960, o texto de Guimarães, que trouxe pela primeira vez em sua obra uma protagonista mulher, aborda a vida de uma sertaneja que, criança, tem a virgindade negociada pelos próprios pais.

Então, começa a sua luta pela mudança deste destino, em um debate sobre o papel da mulher em uma sociedade machista. Num contexto “absurdamente atual”, sobre a condição feminina, acredita a atriz.

O Guimarães Rosa escreve uma prosódia absurdamente linda e brasileira. Esse conto fala sobre uma mulher tratada por um masculino opressor e que não quer mais essa situação.

Tania Casttello, atriz e idealizadora da peça Maria Miss.

“Quando estreamos, em 2012, uma menina de 14 anos foi encontrada em um cativeiro no interior do Nordeste. Ela era abusada pelo pai há um ano. É chocante, mas isso continua acontecendo, e muito, no Brasil. E é isso que me move nesse espetáculo, mostrar essa situação, que comove muito o público”, diz Tania.

Para fugir da opressão, a personagem se utiliza de algumas estratégias, como a culinária e seu conhecimento com as plantas.

E essa “brejeirice” dela, crê a atriz, também torna o espetáculo divertido, e não somente dramático. “Ela é bem safa nas coisas que faz, vai dando um ‘nó’ nas coisas. E isso é bem cômico.”

Incorporar esse tempo desacelerado do interior foi um dos aspectos mais difíceis do papel. “Sou muito ansiosa e paulista, e entrar nesse outro tempo foi muito interessante. Tem muito silêncio, é outro lugar. A maneira de falar mineira também me deu muito trabalho.”

Com duas indicações ao Prêmio Shell de Teatro em 2012, nas categorias Melhor Autor e Melhor Atriz, o espetáculo, diz a atriz, encanta por conseguir transportar o espectador para um outro tempo e para uma outra região do país.

“Isso é muito gratificante, e queremos levar esse aspecto para Curitiba também. É um espetáculo que traz uma discussão muito importante, de como podemos reverter essa situação. É comovente ver a reação dos homens e mulheres.”

Ainda há ingressos disponíveis para todos os dias da temporada.

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