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Romulo Fróes: singular, quarto disco da carreira esbanja concisão | Fernanda Prado/ Divulgação
Romulo Fróes: singular, quarto disco da carreira esbanja concisão| Foto: Fernanda Prado/ Divulgação

Há dois anos, Romulo Fróes exagerou. Lançou No Chão sem o Chão que, mais do que um grande disco, era um disco grande. Suas 31 faixas revelaram um compositor maduro, corajoso e transgressor ao incluir, em meio a canções que tentavam apimentar a MPB, algumas faixas medianas, normalmente limadas quando se finaliza um álbum. O disco duplo fez sucesso e pôs de fora as manguinhas do paulista. Romulo foi destaque em capas de jornais e sites especializados. Com o relativo sucesso, o monstrinho da expectativa, sempre ele, pairava por aí, querendo saber: o que viria depois? A resposta é Um Labirinto em Cada Pé, seu quarto disco de estúdio.

Dessa vez são 14 faixas, e é visível a unidade que o compositor buscou dar a elas. Por mais que sua música seja definida por aí como um "labirinto", há uma espécie de fio condutor que guia o ouvinte. O encontramos no cavaquinho ao mesmo tempo insinuante e discreto do também inventor Rodrigo Campos, no sax objetivo de Thiago França e nas guitarras comportadas de Gulherme Held. Com a bateria de Pedro Ito e o baixo de Marcelo Cabral, é como se nos sentíssemos estranhamente confortáveis na casa de uma pessoa que não conhecemos.

A primeira faixa, "Olhos da Cara", composição de Nuno Ramos, é de uma beleza simples e estonteante. A veterana Dona Inah, amarga, canta a cappella uma ladainha moderna: "Ninguém me dá um novo dia/ ninguém me mata de alegria/ ninguém faz nada por ninguém". É só o prelúdio.

O samba funkeado de "Muro" é uma ode ao cavaquinho. Utilizado de forma minimalista, consegue ser o principal instrumento melódico. "Só faço samba/ só faço samba", insiste em cantar Romulo, daquele seu jeito quase rapper. Bom lembrar que na primeira parte do disco anterior, o músico queria se desgrudar da imagem de sambista – mas não do samba.

O groove da ótima "Maria Fumaça" contempla a primeira parceria vocal do trabalho. Romulo divide os vocais com Nina Becker, que também assovia, faceira.

É o cavaquinho que rompe de novo em "O Filho de Deus", viagem musical que começa meio Araçá Azul, de Caetano Veloso, passa pela melhor bossa nova quando há o coro com Nina e acaba no tropicalismo psicodélico, com direito a solo de guitarra e improvisos diversos. Ainda que a letra esbarre em um tema já desgastado por gerações – a metáfora de um homem simples, sofrendo como Jesus – o que seria a nova MPB senão essa mistura bem dosada que esbanja boas referências?

Outra participação especial surge em "Rap em Latim", samba ao melhor estilo Itamar Assumpção. Os graves de Arnaldo Antunes somam-se à voz exígua de Romulo. Ambos descrevem uma relação sexual que acontece ao mesmo tempo em que – ao que parece – ouvem uma música feita pela dupla que canta. Romulo Fróes também é surreal.

O muro que divide Um Labirinto em Cada Pé de No Chão sem o Chão é perceptível de maneira mais clara em "Varre e Sai". Espécie de samba-rock, Romulo preferiu diminuir o volume das guitarras – agora pontuais – e dar mais valor a todo o resto. A costura entre os instrumentos é precisa, detalhista, impecável.

Já na parte final do disco, a brincalhona "Tua Beleza" aponta ao máximo a concisão quase concretista das letras do paulista. Na composição em parceria com Rodrigo Campos e Nuno Ramos, Romulo canta "Lá/ onde o urubu está/ voa sozinho/ eu pus o meu bilhete pra você/ no alto desse azul fiz minha música".

Espécie de químico do samba, Romulo Fróes cria um disco conciso e singular. Pois, se não abre mão da tradição dos sambistas que ouviu, também não deixa de lado as experimentações que tanto temperam sua obra.

Serviço

Um Labirinto em Cada Pé. Romulo Fróes.

YB Music. MPB. Preço médio: R$25,90.

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