Longe da maneira conservadora de Brahms (1833-1897), e muito ligado à maneira wagneriana de lidar com enormes orquestras, sua escrita privilegia o virtuosismo instrumental numa linguagem associada à música descritiva.
Ao lembrarmos, no dia 11 de junho, dos 150 anos do nascimento do compositor alemão Richard Strauss (1864-1949), nos deparamos mais uma vez com um dos maiores gênios musicais do pós romantismo alemão que, apesar de inúmeras contradições, se tornou um criador musical de inquestionável qualidade. Nascido em Munique, na Alemanha, filho de um excelente trompista que, apesar de tocar com frequência as óperas de Richard Wagner (1813-1883), odiava a obra deste compositor, vai iniciar sua carreira de maestro justamente com um dos maiores defensores do legado wagneriano, Hans von Bülow (1830-1894).
A partir de um profundo trabalho junto a diversas orquestras revela muito cedo duas de suas maiores aptidões: a regência e a composição. Se suas primeiras obras camerísticas não revelavam nada de excepcional, seu poema sinfônico Don Juan, escrito aos 24 anos de idade, revela um compositor original, ousado e surpreendente. No final do século 19, ao escrever uma série genial de poemas sinfônicos, revoluciona completamente a maneira de se escrever para orquestra. Longe da maneira conservadora de Brahms (1833-1897), e muito ligado à maneira wagneriana de lidar com enormes orquestras, sua escrita privilegia o virtuosismo instrumental numa linguagem associada à música descritiva. Nesta bem sucedida série de obras para orquestra, Strauss sente-se à vontade, ilustrando musicalmente obras literárias tão distintas como o livro de Nietzsche Assim Falou Zaratustra e o Dom Quixote de Cervantes. Sua fama e sua ambição crescem a tal ponto que em 1899, ao compor seu último poema sinfônico, "Vida de Herói", se retrata como o "herói" proposto no título ao citar diversos temas de suas obras anteriores.
Com a entrada do século 20, o interesse principal do compositor passa a ser a ópera. Seu primeiro grande sucesso neste gênero é Salomé, estreada em 1905. Esta ópera, por suas ousadias harmônicas e instrumentais, vem aliada a uma atitude inesperada: ele adota de forma quase integral, como libreto da ópera, o texto da peça homônima de Oscar Wilde, que chegou a ser proibida em diversos países naquela época. Salomé é a primeira grande ópera alemã depois da morte de Richard Wagner, e este compositor, em diversos aspectos, é o modelo do Richard Strauss operista. A grande diferença entre Richard Strauss e Richard Wagner é a duração de suas obras: Salomé dura menos de duas horas, num ato único, ao contrário das composições wagnerianas, que duram mais que o dobro.
Parceria
Depois do enorme sucesso de Salomé, Strauss vai se associar com um notável escritor, que será seu mais importante libretista: Hugo von Hoffmanstahl (1874-1929). Esta colaboração só é comparável ao trabalho realizado por Mozart junto ao escritor italiano Lorenzo da Ponte (1749-1838), em termos de uma verdadeira criação artística a dois. O primeiro trabalho de Strauss junto a Hoffmanstahl é a partitura mais ousada do compositor: Elektra. Mais uma vez uma ópera em um ato único, contando com a participação de uma orquestra gigantesca (a maior já usada numa ópera), é nesta obra, composta entre 1906 e 1908, que Strauss se aproxima mais do atonalismo praticado por Arnold Schoenberg (1874-1951) e sua escola.
A partir desta experiência tão radical a música de Strauss volta-se para uma estética bem mais conservadora, mas sempre mantendo um altíssimo nível e um infalível bom gosto. Depois das páginas atonais de Elektra, o próximo trabalho operístico de Strauss, junto a Hoffmanstahl, é O Cavaleiro da Rosa (1910), uma obra cômica, com fortes toques nostálgicos, em que existem charmosas valsas. Junto ao grande escritor, Strauss irá ainda escrever a sua deliciosa Ariadne em Naxos (a primeira versão em 1912 e a segunda em 1916).
O mais ambicioso trabalho dos dois é A Mulher sem Sombra (1917), obra mística que confronta os universos dos deuses e dos mortais. Não há dúvida, no entanto, de que o compositor, apesar de permanecer em um nível bastante alto, perdeu algo de sua mais fremente originalidade. E esta sensação fica ainda mais forte depois da morte de Hoffmanstahl, em 1929. Apesar de algumas páginas geniais, nenhuma ópera posterior à morte do escritor atinge o nível alcançado em Salomé, Elektra, Cavaleiro da Rosa e Ariadne em Naxos, e certos trabalhos chegam a um constrangedor lugar comum, como é o caso de Intermezzo (libreto do próprio autor), A Mulher Silenciosa (libreto de Stefan Zweig) e Dia de Paz (libreto infeliz de Josef Gregor).
Mau passo
Nas décadas de 1920 e 1930 é indisfarçável a decadência criativa do compositor, e é exatamente neste momento que Strauss dá um mau passo: se envolve diretamente com o partido nazista. Em novembro de 1933, aos 69 anos de idade, assume o cargo de Presidente da Reichsmusikkammer (Escritório Estatal de Música), um cargo importante na hierarquia nazista, ficando diretamente subordinado a Joseph Goebbels, um dos asseclas mais graduados de Adolf Hitler.
Pouca gente sabe, mas neste cargo ele imaginou uma lei de funcionamento dos teatros líricos alemães em que seriam proibidas as execuções de óperas do compositor italiano Giacomo Puccini (1858-1924), cujo sucesso o incomodava bastante, e por mais que admirasse Giuseppe Verdi, chegou a cogitar a proibição de algumas peças do italiano que, segundo ele, distorciam grandes obras literárias, como Don Carlo (baseada em Schiller) e Othelo (baseada em Shakespeare). Palavras textuais dele, em carta ao seu amigo, o maestro Karl Böhm: "Estas obras não merecem lugar em um teatro alemão." Neste contexto, vale a pena lembrar que Das Baechlein (O Riacho), uma canção com acompanhamento orquestral, seu Opus 88 N.º 1, foi dedicada a seu "chefe", Joseph Goebbels.
No período nazista, Strauss foi ainda conivente com a proibição de execuções de obras escritas por compositores de origem judaica, como Mendelssohn, Mahler e Schoenberg, e da assim chamada "arte degenerada", de Stravinski, Debussy, Bartók e Hindemith, entre tantos outros. Em 1936, ano da famosa "Olimpíada racista" em Berlim, Strauss recebe as "honras" do partido nazista aceitando o convite de compor o hino oficial do evento.
No entanto, o romance entre os nazistas e Strauss vai azedar, sendo posteriormente demitido do importante cargo que ocupava, mas, mesmo depois disso, durante a Segunda Guerra Mundial, escreve uma obra de louvor a um dos países do então conhecido "Eixo", o Japão: Japanische Festmusik (Música Festiva Japonesa), uma de suas composições mais fracas. Durante o período da agonia dos nazistas, Strauss vive confortavelmente em Viena, só voltando para a sua adorada Baviera depois da derrota alemã, em 1945.
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