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A personalidade do músico paulista é revelada em pequenos detalhes: a autora descreve expressões corporais e narra momentos do cotidiano de Paulo Moura | Ana Araujo/Divulgação
A personalidade do músico paulista é revelada em pequenos detalhes: a autora descreve expressões corporais e narra momentos do cotidiano de Paulo Moura| Foto: Ana Araujo/Divulgação

Trajetória

Veja alguns dos principais momentos da carreira de Paulo Moura contados no livro:

15 de julho de 1932

Nasce em São José do Rio Preto (SP).

1941

Ganha a primeira clarineta.

1945

Muda-se com a família para o Rio de Janeiro.

1951

É contratado como primeiro saxofonista solista da Orquestra de Oswaldo Borba na Rádio Globo.

1956

Grava "Moto Perpétuo", de Paganini, seu primeiro disco de 78 rotações solo.

1958

Viaja para a então União Soviética, acompanhando os cantores Nora Ney, Jorge Goulart, Dolores Duran e Maria Helena Raposo.

1959

Fica em primeiro lugar no concurso para clarinetista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

1962

Grava, com Sergio Mendes e o baixista Otavio Bailly, o LP Cannonball Adderley e o Bossa Rio.

Entre 1969 e 1971

Grava quatro LPs com a gravadora Equipa, em parceria com músicos como Wagner Tiso.

Dos anos 1970 aos anos 2000

Já reconhecido como artista solo, foi arranjador, regente, diretor artístico e compositor em discos, trilhas sonoras para teatro, tevê e cinema. Com mais de 40 discos lançados, ganhou o Grammy em 2000.

12 de julho de 2010

Morre, no Rio de Janeiro, vítima de um câncer no sistema linfático.

"Se ele se perder dentro de casa, a gente acha". A brincadeira, citada pela escritora e psicanalista Halina Grynberg como uma das descrições possíveis para o saxofonista, maestro, compositor e arranjador Paulo Moura, tem mais significado do que parece. Diz sobre um traço de ingenuidade na personalidade do músico, mas o torna ainda mais complexo – afinal, ao mesmo tempo, era genial e organizado, e é considerado um dos mais importantes nomes da música brasileira. "O Paulo tinha um caráter que era surpreendente nos detalhes", diz Halina, autora do recém-lançado Paulo Moura, Um Solo Brasileiro (Casa da Palavra, 2011), e esposa do músico durante 26 anos.Em cerca de 20 horas de entrevistas a Halina, gravadas entre 2008 e 2009, Moura conta trajetória da sua consolidação como músico solista, desde seus primeiros passos no estudo do piano, aos 9 anos, passando pela sua mudança de São José do Rio Preto (SP) para o Rio de Janeiro, onde atuou como ensaiador e arranjador de orquestras de rádio e tevê, até chegar às gravações de discos importantes na década de 70, já como instrumentista reconhecido. Paulo também fala sobre a família, referências estéticas e reflexões conceituais sobre a música.

Em meio às respostas, Halina faz observações, explica o imprevisível fluxo de pensamentos do entrevistado, descreve expressões corporais e narra pequenos momentos do cotidiano do casal. "Trazer esses momentos foi a maneira de trazer o Paulo para perto do público e, ao mesmo tempo, trazer um relato que só eu conheço", diz a autora. "Não é o jornalismo do fato. São paisagens da alma", diz.

Solo

De acordo com Halina, Moura tinha como "profissão de vida" dedicar-se exclusivamente à própria música. Ele aceitava fazer direções artísticas e arranjos para alguns artistas, como foi o caso de Marisa Monte. Mas, se fosse para subir ao palco, teria que ser "lado a lado" com os nomes principais. "Para ele, o palco era um lugar sagrado", diz.

Para isso, enfrentou dificuldades, já que o espaço para este tipo de artista era escasso em sua época. "Ser negro também o transformou em excepcionalidade", lembra Halina, que recebeu, dias após a morte de Moura – de câncer linfático, em 12 de julho de 2010 –, um certificado do Congresso norte-americano em reconhecimento ao papel do músico na superação do racismo por meio da união da música erudita, do jazz e da música das ruas do Rio de Janeiro. "Ele reinventou a percussão afro-brasileira. A música do Paulo tem um gingado e um deslocamento que é tipico da rítmica africana", diz Halina, que vê nessas ideias uma "provocação criativa". "O natural e o ideológico são visceralmente compostos no Paulo", diz.

Legado

Halina conta que Moura pediu que ela continuasse o seu trabalho. Pa­­ra isso, criou o Instituto Paulo Moura, que não tem sede física ou re­­cursos, mas que deverá ser conduzido aos moldes de um movimento artístico. "Este livro é um manifesto", diz a autora. "O que ele queria era passar essa matriz para novas gerações, produzir músicos instrumentais brasileiros de qualidade", diz. "Paulo é um da­­queles heróis impregnados de fé, que têm um dever com a comunidade. São anjos guias, que se sentem com essa responsabilidade", diz. "Por isso, ele nunca cessou esforços."

Serviço:

Paulo Moura, Um Solo Brasileiro Halina Grynberg. Casa da Palavra. Preço médio: R$ 55.

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