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Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América| Foto:

Nova York - Em Complô Contra a América (2004), uma sombria fantasia do que poderia ter acontecido na Segunda Guerra Mundial, o seu quinhão do sonho americano é ameaçado e tudo o mais, quando Charles Lind­bergh, um herói do outro lado do Atlântico conhecido por sua admiração a Hitler, derrota Franklin Roosevelt para Presidência em 1940. Ao fazer um acordo com os nazistas, Lindbergh mantém a América fora da guerra e deixa os judeus americanos em situação delicada. Newark, com mais de 70 mil judeus e 50 sinagogas, é imediatamente colocada em perigo, particularmente por um membro da comunidade, o rabino Lionel Bengelsdorf, que trai a comunidade em grande estilo. Visto através dos grandes olhos pré-adolescentes de Philip Roth, seu pequenino e hermético bairro vive o medo de uma perseguição na Amé­rica, em que os judeus são frequentemente vistos como alienígenas ou pior que isso. No livro, ele e sua família lu­­tam, sacrificando quase tu­­do, para ficar no bairro que amam e que os ama também.

Phil observa o futuro sinistro, revelado nos documentários de 60 minutos do News­reel Theater. Ali, sentado no escuro ao lado do pai, ele vê Hitler andar pela Europa, sem oposição nessa reescritura da história americana. O Newsreel Theater ficava na esquina da Market e Broad, uma intersecção que estava entre as mais movimentadas do mundo nos anos 30 e 40. A maior parte do tráfego acabou e o prédio foi dividido em três fachadas de lojas, a do meio apresentando um fila de sapatos em promoção. Hyo Kang, o dono da sapataria Golden Shoes, conta que ouviu dizer que ali era um cinema, mas que isso foi antes dele.

Muitos judeus vivem na colina ao Sul, enquanto os italianos moram no velho Primeiro Distrito ao Norte e os irlandeses e alemães em Ironbound. No livro, Phil vê sua Newark revelada à medida que o ônibus sobe a ladeira da Avenida Clinton. O Riviera, o hotel sofisticado em que seu pai e sua mãe tinham passado a primeira noite de casados – local onde os negociantes e mafiosos fechavam acordos no bar –, surge ao fundo. Agora é um hotel de condições bem ruins, o Divino Hotel Riviera, por causa do Pai Divino, um líder religioso que fundou uma seita no início do século passado. No alto da colina, atrás dele, fica a igreja Batista Hopewell, mas a escultura do Torá no topo lembra que os antigos frequentadores eram membros do Templo de B’nai Jeshurun.

Mais acima na Avenida Clinton, o Templo B’nai Abra­ham sobressai pelo tamanho e forma ovalada que ultrapassa as maiores igrejas da região. Nat Bodian, obstinado historiador de Newark, levava sua esposa lá quando estavam namorando, transformando uma noite de sermão do rabino Joachim Prinz num encontro romântico. Esse templo também serve a outros propósitos e é agora sede do Deliverance Temple.

Mais ao alto, em Clinton Hill, o Teatro Roosevelt, antigo lugar de reunião do bairro, tornou-se uma loja de produtos religiosos cristãos, a marquise se foi e as filigranas arquitetônicas foram pintadas. Atravessando a rua, uma antiga mansão, construída por um dos comerciantes judeus prósperos que reergueram o bairro, é o retrato da entropia, seus detalhes vitorianos gradualmente puxados para cima e para baixo de acordo com as leis de Newton.

Algumas partes da área continuam sem mudanças. O Parque Weequahic, planejado por Frederick Law Olmsted, possui um lago urbano e um campo de golfe. No pôr-do-sol ou no outono, algumas pessoas passeiam sob a luz manchada de sombras das árvores pendentes.

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