• Carregando...

Após cinco anos de espera por novas canções, os fãs do trio canadense de rock Rush são agraciados com um novo disco de estúdio, o 18º da banda. Lançado internacionalmente no feriado de 1º de maio, "Snakes and arrows" (Warner) tem 13 faixas e foi composto, pela primeira vez na história do trio, com violões em vez de guitarras. Em entrevista por telefone, o guitarrista Alex Lifeson falou sobre o processo de criação, mas se empolgou mesmo com outros assuntos, como o show antológico no Maracanã em 2002, uma ação contra a polícia da Flórida por uso excessivo de força e as aflições da sociedade americana.

RUSH IN RIO: "Estivemos no Brasil em 2002, e foi uma experiência maravilhosa, um dos pontos altos da minha vida Faz algum tempo que assisti ao DVD ("Rush in Rio", também lançado em CD) pela última vez, mas não consigo esquecer a platéia. Quando mixei o disco e vi o público cantando a melodia de "XYZ", que é uma música instrumental, e pulando sem parar, foi algo inacreditável. Eu tirei o som da banda e fiquei assistindo por uma hora, sem conseguir acreditar. Nunca vimos um público como o brasileiro."

O RETORNO: "Nossa turnê começa dia 13 de junho em Atlanta (nos Estados Unidos). Estamos planejando ir à América do Sul entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008. Nosso agente já está em negociações com produtores, não só do Brasil, como da Argentina e do Chile também."

NOVO DISCO: "As letras de Neil [Peart - baterista] sempre trazem dualidades: bem e mal, branco e preto, o atual estado de divisão religiosa no mundo, guerras, lutas e ódio. Musicalmente, usei uma abordagem diferente. Compus tudo com violão (posteriormente, vários trechos foram gravados com guitarras). O disco ficou com um som mais orgânico. Esse disco tem alguns dos momentos mais pesados da nossa história, mas há outros momentos mais líricos, acústicos, leves e folky. Minha música acústica "Hope" é assim, apenas com um violão de 12 cordas. Já "Far cry", por exemplo, é um verdadeiro hino, com guitarras pesadas. Há bastante variedade"

INSPIRAÇÃO: "Parte da inspiração (para as letras) de Neil veio das viagens de moto que ele fez pelos Estados Unidos durante a última turnê (enquanto o resto da banda viajou de ônibus). No Sul, no chamado bible belt (região que engloba vários estados com populações fervorosamente religiosas), ele encontrou divisões que o impressionaram e o inspiraram a pensar em coisas como os aspectos positivos da religião, o efeito consolador que têm para alguns, e os negativos, como as guerras que gera. Como qualquer escritor, Neil está sempre anotando coisas que lhe vêm à mente e depois as desenvolve. A maioria das letras nasceu no estúdio. Para mim, o disco é otimista. Há letras sobre temas sombrios, mas, no fim, é uma questão de virar o jogo e fazer o que for necessário para melhorar o mundo, que está uma bagunça, com problemas ecológicos, guerras que não deveriam ser travadas, os Estados Unidos fora de controle, pessoas morrendo a toda hora. Uma bagunça."

CRIAÇÃO: "A composição, as músicas, acontece rapidamente. Nós nos reunimos e fazemos um disco, não é um projeto que dura anos. Esta foi a primeira vez que folgamos alguns meses no meio do processo. Quisemos aproveitar o verão com nossas famílias. Estou viajando desde os 17 anos. É um estilo de vida. Mas hoje, aos 53 anos, minhas prioridades são diferentes. Esta turnê será provavelmente a mais longa e atribulada que faremos em muito tempo. Ficar longe da família é a coisa mais difícil para mim, o maior sacrifício. Tenho um neto de 3 anos e meio e outro a caminho. Não quero perder um minuto com eles. Com o bebê, ficou difícil para eles nos acompanhar em viagens. Quando tenho uma folga, vou vê-los"

AÇÃO CONTRA A POLÍCIA: "Fiquei muito decepcionado (com a decisão do juiz, favorável aos policiais). Tínhamos milhares de páginas de documentos, especialistas, 15 testemunhas e um juiz que acompanhou o caso por um ano e acreditava nos meus argumentos. Duas semanas antes do julgamento, ele foi trocado por um novo juiz, que indeferiu a ação. Cinco dias depois, o policial que me eletrocutou três vezes (com arma de choque) é demitido por enfiar as mãos dentro das calças de uma garçonete num restaurante, além de ter assediado uma mulher, que era jornalista, durante uma revista. Ele foi demitido em janeiro, mas a polícia só divulgou essa informação cinco dias depois de minha ação ser indeferida.

Mais cinco dias se passam, e a xerife que alegou que eu a tinha atirado de uma escada, e depois mudou a versão, perde US$ 250 mil num processo por prisão indevida. Está claro que são dois tiras sujos. E ainda dizem que não foi abuso de força quando me eletrocutaram seis vezes, socaram meu rosto e quebraram meu nariz? Isso é uma piada. Vou apelar. Não falei sobre isso por três anos por conselho de meu advogado. Mas agora chega, estou de saco cheio dessa droga. Já gastei meio milhão de dólares com o processo. Estou fazendo isso, sim, para limpar meu nome, mas principalmente por todas as pessoas que não têm a fama e o dinheiro que eu tenho e que sofrem abusos da polícia, são presos injustamente, e fica por isso mesmo. É o que se faz em Naples, Flórida. É assustador o que a polícia faz lá. Ela manda no lugar. Sinto que essa experiência me fez tocar de modo diferente, pois há algo forte dentro de mim que precisa sair."

AMERICANOS E CANADENSES: "Nunca achei que houvesse grandes diferenças entre as duas sociedades sempre achei as diferenças sutis. Mas desde a administração Bush, os EUA mudaram muito. São um país muito dividido, assustado, furioso. Vejo uma enorme diferença com os canadenses, que são mais suaves e sensatos, menos voláteis e agressivos. No Canadá, há mais armas per capita que nos EUA, embora menos armas de mão. Lá, é preciso ter licença, há um controle mais rígido. A quantidade de crimes com armas é menor. Você não se consegue comprar armas aqui como as que o assassino de Virginia tinha. Mas isso é só parte do motivo pelo qual não há tragédias desse tipo aqui. Temos uma sociedade diferente. Cuidamos melhor das pessoas. Pagamos impostos mais altos, mas temos mais benefícios sociais. Se você fica doente, você recebe tratamento. Nos Estados Unidos, se você fica doente e não tem seguro, você está encrencado. Acho que as pessoas não ligam para as outras lá como ligavam antes ou como ligamos no Canadá. Mas, claro, somos um país menor e com uma história diferente. Os EUA lutaram pela independência, nós negociamos a nossa com a Grã-Bretanha. Lá, tudo é uma luta: guerra ao terror, guerra às drogas, guerra à guerra. É demais."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]