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Se hoje cada brasileiro sentasse num cantinho com um violão seria, sem dúvida, a melhor homenagem aos 80 anos de nascimento de Antônio Carlos Jobim. Apesar de sua morte, em dezembro de 1994, sua música está mais presente do que nunca. Do Arpoador, seu lugar preferido na Zona Sul carioca, Jobim e seus parceiros chegaram de mansinho e conquistaram o imaginário do Brasil. E do mundo.

Pode ser em Tóquio, Paris, Nova Iorque, São Paulo ou Buenos Aires. As composições de Jobim ultrapassaram tempo e fronteiras para se tornarem uma referência em escala global. "O tipo de música de Tom Jobim é eterno", explica a cantora Ana Cascardo, que lança hoje, às 19 horas, no Sesc da Esquina, seu primeiro CD solo, Esta Noite Vai Ter Sol, dentro da programação da Oficina de Música de Curitiba.

O que faz a música de Tom Jobim tão especial? "As canções, ao mesmo tempo que são de um simplicidade raríssima, são fruto de um pensamento complexo de um Brasil, de uma sensibilidade bem brasileira", conta o músico André Mehmari, que participa da 25.ª Oficina de Música de Curitiba e trabalha há anos a relação da música popular com a erudita.

Tom Jobim cresceu em Ipanema, para onde se mudou com a família aos 4 anos, e foi entre travessias a nado na Lagoa Rodrigo de Freitas – naquela época limpíssima – e os arriscados saltos no Arpoador, que passou a infância. Vale lembrar que a Ipanema do final dos anos 30 era praticamente desabitada, com aluguéis baratos e enlamaçada em dias de chuva.

Os fins de tarde eram passados inevitavelmente na praia, onde Tom (o apelido foi dado pela irmã Helena, quatro anos mais nova, que não conseguia pronunciar seu nome corretamente) se especializou em pesca, conversa fiada e garotas. A música chegou um pouco mais tarde, com um piano que sua mãe instalou na garagem da casa. Começou praticando sozinho, mas não demorou em ter bons professores como Lucia Branco e o alemão Hans Joachim Koellreuter.

Seu interesse pela fusão entre música erudita, principalmente a música impressionista francesa, como Debussy e Ravel, e a música popular brasileira, como Chiquinha Gonzaga e Ary Barroso, começa nessa época. "O Jobim vem de uma herança bastante brasileira. Nos anos 50, antes do que seria a bossa nova, ele criou outros arranjos, a partir do choro, por exemplo", conta o pianista e compositor Benjamim Taubkin.

O gosto pelo desenho, assim como pela música, levou Jobim a estudar Arquitetura. Mesmo tendo desistido da faculdade – não chegou a concluir o primeiro ano –, é como se não tivesse abandonado o projeto de construir coisas eternas. "Tom Jobim é de certa forma um desses arquitetos do país. Junto com Guimarães Rosa, Villa-Lobos, Dorival Caymmi, ele ajudou a inventar o Brasil", explica Mehmari.

Os anos 50 trazem uma nova forma de fazer música. É nesse período que Jobim conhece Vinícius de Morais – que se tornaria seu parceiro por toda a vida – e João Gilberto, com quem funda um novo gênero musical: a Bossa Nova. Ao mesmo tempo em que criavam uma música estruturalmente complexa, com arranjos sofisticados e ecos da música impressionista e do cool jazz, a Bossa Nova surpreendia pela simplicidade. E por seu poder de sedução. "A Bossa Nova e o próprio Jobim são a imagem daquilo que dá certo, do Brasil que deu certo. É uma espécie de afirmação do brasileiro", explica Taubkin.

A Bossa Nova foi o retrato de um tempo – regado a utopia, cuba-livre, Sartre e Beauvoir –, e conseguiu transcendê-lo. Conquistou nomes como Frank Sinatra, que gravou junto com Jobim o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, em 1967, e a atriz francesa Brigitte Bardot que, fascinada pela bossa, veio passar o verão de 1964 em Búzios. "A música brasileira como um todo já é parte da música global. Todo uma geração de músicos busca isso: fazer uma música popular, quase tradicional e ao mesmo tempo trabalhar com quarteto de cordas, formações de câmara. Isso é uma constante, o encontro da música popular com a erudita" conta Taubkin.

O resultado pode ser visto hoje em vários lugares: de comerciais de televisão a trilhas de novela, passando por concertos e bares, a bossa nova nunca saiu de moda. A música de Tom Jobim é uma celebração da beleza dos trópicos. Que sem ele ficariam mais tristes.

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