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Montagem faz uso de máscaras, que também eliminam a possibilidade das expressões faciais | Divulgação
Montagem faz uso de máscaras, que também eliminam a possibilidade das expressões faciais| Foto: Divulgação

Encarar um texto clássico usando a linguagem de máscaras, sem o uso de diálogos ou de expressão facial. Não é um desafio pe­­queno o que a Companhia do Ator Cômico teve de enfrentar quando escolheu encenar a obra Noite de Reis, de William Shakespeare. O resultado foi a peça ...OUOQQUISERDES (confira o serviço completo do espetáculo), que reestreia hoje no Teatro José Maria Santos.

A relação do grupo com a linguagem de máscaras começou em 2007, com a peça Contas Diárias, que trabalhava também com o elemento da improvisação. Mas, no novo espetáculo, o grupo preferiu escolher um texto de domínio público. "Nesse projeto, a gente propôs o caminho inverso: pe­­gar um texto que já existia, um clássico, e transformar na linguagem de máscaras", diz o ator e pro­­dutor da peça, Edran Mariano.

O diretor Mauro Zanatta considera que o aspecto mais complicado foi se livrar das palavras. "Um grande desafio foi, apesar de ser uma comédia, a história ter uma dependência muito forte da palavra, mas foi possível encontrar caminhos para chegar à essência do texto", diz.

Ao mesmo tempo, a trama pos­­­­­­­sibilita o uso das máscaras, pois, segundo Edran Mariano, os próprios personagens no texto original se utilizam das máscaras sociais, o que cria uma dualidade.

Os atores encontraram dificuldades por não poderem usar dois dos principais elementos da atuação: a fala e a expressão facial.

"É necessário transpor a co­­municação para o corpo, sem cair na mímica. Mas, quando você consegue entender que a comunicação faz parte do seu corpo e não só da fala, isso se torna mais orgânico", relata Mariano. "Foi um processo longo e doloroso para baixar toda a expressão do rosto e voz para o corpo. Não foi fácil quebrar essa estrutura da qual a gente depende", considera Zanatta.

A montagem atual também sofreu algumas alterações em relação à que foi apresentada em outubro do ano passado. "Existe agora uma pequena narração que dá uma conduzida na obra. Ela é dita por um músico, mas é como se fosse a figura do bobo da corte narrando", conta Zanatta. A mú­­sica também ajuda o público a compreender a peça. O diretor e o grupo optaram pela música ao vivo desde o começo, pois ela cria os climas e destaca a linguagem das máscaras.

A relação com os espectadores também se modifica com a linguagem da peça. Zanatta considera que a melhor resposta é a das crianças, pois elas são mais receptivas às novas formas apresentadas e, muitas vezes, são capazes de compreender coisas que os a­­­dultos não enxergam.

Para Mariano, a resposta mais interessante que o grupo teve foi durante a apresentação para uma escola de surdos e mudos. "Você percebia que era a primeira vez que eles viam um espetáculo que puderam assistir do início ao fim", relata.

O público é capaz de sentir uma identificação com a peça e muitas vezes um objeto estático se transforma diante dos espectadores. "A gente ouvia muitas pessoas dizendo que viam a máscara sorrir, a máscara triste, alegre. E a máscara é estática. Com isso, a gente vê que a palavra não é a única comunicação. Essa transformação tem um encantamento para o público e o elenco", co­n­­ta Mariano.

Serviço:

...OUOQQUISERDES (confira o serviço completo do espetáculo) (Projeto Noite de Reis). Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655). De quarta a sábado, às 21h; domingo, às 19h. R$ 20 e R$ 10 (meia). Até 22 de maio.

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