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Placebo troxe na bagagem as músicas do mais recente disco: "Meds" | Reprodução/www.youtube.com
Placebo troxe na bagagem as músicas do mais recente disco: "Meds"| Foto: Reprodução/www.youtube.com

Com alguns comerciais para a televisão e um único filme no currículo, a refilmagem do terror cult "Madrugada dos mortos", o diretor Zack Snyder atraiu as atenções do mundo do cinema três semanas atrás com a estréia grandiosa de "300". O filme arrecadou, em seu primeiro fim de semana nos cinemas americanos, US$ 70 milhões, batendo o recorde para uma produção lançada em março.

Baseado nos quadrinhos de Frank Miller ("Sin city"), o longa, que trata da histórica batalha entre persas e espartanos, chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (30). Na semana passada, o diretor e o elenco estiveram no Rio de Janeiro para falar com a imprensa. O G1 participou de uma mesa redonda com Snyder, que falou sobre o trabalho de adaptar os quadrinhos para o cinema, sobre a escolha de Santoro para o filme e ainda deu detalhes de seu novo projeto, "Watchmen", baseado na obra de Alan Moore. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

Por muito tempo você tentou convencer o estúdio a fazer "300". Por que considera que seja importante contar essa história no cinema?Zack Snyder - Antes de filmar "Madrugada dos mortos", fiz muitos comerciais de TV. Arranjei um empresário e um agente, mas, por anos, nada de filme. Li muitos roteiros dos quais não gostei. Quando vi os quadrinhos de "300" pela primeira vez, senti que, se fizesse o filme direito, poderia acrescentar algo. Por isso, o jeito que eu queria fazer o longa, o estilo, o visual, todas essas coisas eram importantes para mim. Na época em que eu fiz "Madrugada dos mortos", achava que "300" não aconteceria. Pensei: "Vou fazer esse filme o melhor que puder, porque o adoro". O estúdio odiou. Eu queria fazer um filme cult. E era isso que eles não queriam. Queriam um filme sem inteligência, um filme que fizesse dinheiro. E ele fez dinheiro, mas eles não gostaram porque eu fui subversivo no processo. Em "300", eu queria fazer um filme reflexivo. A moral do filme é feita de coisas em que estou interessado.

Você já disse que queria fazer um filme bem-humorado. Mas houve reclamações sobre "300" ser muito parecido com videogame, sobre ser pró-Bush, críticas dos iranianos. Hollywood está chata? Snyder - Talvez [risos]. O que eu realmente queria com o filme era convencer as pessoas a irem ao cinema. Hoje em dia, todo mundo tem TV de plasma e DVD em casa. Eu queria que as pessoas vissem o trailer, a propaganda, imagens do filme e resolvessem ir ao cinema. Por outro lado, é um filme de batalha. Os heróis passam o tempo todo, até virarem adultos, batendo uns nos outros. É moralmente ridículo. Você assiste a tudo de uma perspectiva que não é a sua, mas que você pode assumir como sua. E é esse exercício intelectual do filme que me interessa. Xerxes não é vilão, você não o odeia. Não estou dizendo que seja a mesma coisa, mas quando você vê "Star wars", você não odeia Darth Vader. Ele é tão bacana! No filme, Xerxes fica dizendo a Leônidas: "Ouça, nós não precisamos lutar. Acho vocês ótimos, eu adoraria tê-los como parte do meu exército, vocês podem liderar o meu exército". E Leônidas diz não a tudo isso. No fim do filme, quando Xerxes já matou sabe-se lá quantos soldados, ele ainda diz: "Ouçam, eu acho vocês ótimos, não há razão para morrer". E a parte louca disso é que estamos fazendo um filme em que não há alguém para se odiar. Eu joguei com o público, instiguei-o a pensar que ele tinha que odiar alguém.

Como a sua formação artística influenciou no filme?Snyder - Na faculdade de artes, tudo se resume a design e estética. O que é divertido para jovens cineastas, porque você aprende como fazer uma bela cena. A escola de arte me fez consciente de quão valiosa e incrivelmente poderosa é a estética. Você aprende como usá-la em seu beneficio.

Você desenhou os storyboards do filme?Snyder - Eu peguei o roteiro, desde a primeira página, e fui desenhando cada cena. Conheço muitos diretores que contratam desenhistas, mas eu gosto de tratar cada imagem, eu me importo com cada frame. O único jeito de fazer esse filme era controlá-lo desde o início. O que acontece quando você faz isso é que acaba reescrevendo o roteiro. Quando você desenha e tenta imaginar cada cena na sua cabeça, vira realidade. Você vai vendo em seqüência, quadro a quadro, e essa é a parte mais dificil.

Como foi sua relação com Frank Miller e como ele influenciou no filme?Snyder - Primeiro de tudo, a maior influência dele no filme foi a sua história em quadrinhos. Quando escrevi o roteiro, liguei para ele e disse que queria fazer o filme. Perguntei o que ele achava. Ele disse que era interessante, e me deu algumas idéias. Depois, quando já tínhamos iniciado a produção, ele nos ajudou muito em algumas coisas, como por exemplo na espada espartana, que tem um formato muito particular. Eu disse a ele que não tinha nenhum bom desenho da espada no livro e que não conseguia encontrar a forma exata de como ela deveria ser. Então, ele desenhou uma. Ele ajudou em algumas coisas fisicamente e também com idéias, mas, no fim, ele me disse: "É seu filme, sua responsabilidade. Estou trabalhando em outras coisas, se precisar de algo, me ligue".

Mas a opinião dele era importante para você?Snyder - Claro. Por exemplo, no filme, há um narrador. Se você observar, nos quadrinhos há um pequeno texto que ele coloca sobre as imagens. Ele gosta de desenhar e, depois, falar sobre o que está naquela imagem. Eu quis usar esse texto, então criei a narração. E há muito mais em comum entre o filme e os quadrinhos.

Você vai filmar "Watchmen". Pode adiantar alguma coisa sobre o projeto?Snyder - Eu comecei a fazer os storyboards, mas ainda não terminei. Estou trabalhando nessa seqüência incrível que de certa forma reconta o século 20, mais ou menos de 1935 a 1978. Fala basicamente de como os super-heróis mudaram a história. Passa pela Segunda Guerra Mundial, por Kennedy, pela Guerra do Vietnã, pela eleição de Nixon, todas essas coisas. E eu não quero usar cenas de arquivo no filme, queria reencenar cada seqüência com atores. Fidel, Kruschev, quem quer que você veja no filme será recriado, seja com maquiagem, computação gráfica, o que for preciso nós vamos fazer.

Como foi a participação de Rodrigo Santoro em "300"?Snyder - Um dos produtores do filme o conhecia. Nós nos encontramos, e eu comentei com minha mulher [Deborah Snyder, também produtora do longa], que eu havia achado que ele poderia ser Xerxes. "Ele não é tão grande!", ela me disse. "Mas ele é bonito e é um ótimo ator". Eu fiquei com aquilo na cabeça. "Ele é um ótimo ator." Rodrigo voltou para o Brasil, eu liguei para ele e perguntei o que achava de Xerxes. Ele pegou os quadrinhos e disse "uau". Então, ele fez um vídeo e me mandou. Quando eu vi, disse: "Meu Deus! Ficou ótimo! Acho que com efeitos especiais posso fazê-lo ser um gigante". Eu queria que as pessoas não odiassem o personagem, mas que ficassem fascinadas por ele. E Rodrigo conseguiu isso no filme. Fez um ótimo trabalho. Me perguntaram se acho que ele teria uma grande carreira em Hollywood. Eu disse que sim, que ele poderia ter se quisesse. Mas acho que a prioridade na carreira e na vida dele é fazer filmes no Brasil. Se chamassem ele para um papel que o Brad Pitt não pôde fazer e, ao mesmo tempo, um jovem cineasta brasileiro o chamasse para um projeto em que ele ganhasse US$ 100, ele preferiria fazer o filme no Brasil. Para ele não importa o papel que pode transformá-lo em uma grande estrela de Hollywood, mas quão interessante é esse papel. O engraçado no filme é que o sotaque dele fica muito claro. Um amigo viu e me perguntou: "O Rodrigo é brasileiro?". Eu respondi: "Sim, Xerxes é brasileiro".

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