Alunas da escola do Guaíra conferem à obra caráter multiartístico.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Um apanhado do que era a sociedade curitibana no fim da década de 1920 poderá ser visto na estreia de “Marumby”, opereta da época que agora foi recuperada e terá apresentações nesta quinta-feira (27, com entrada franca), sexta e sábado (a R$ 20), na Capela Santa Maria.

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O projeto foi iniciado com a descoberta dos manuscritos originais do compositor Benedicto Nicolau dos Santos, em 2012. Desde então, o restauro e decodificação de partitura e libreto têm ocupado o maestro Jaime Zenamon e o produtor e diretor Gehad Hajar.

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“É o primeiro musical brasileiro”, aposta Zenamon, que é boliviano. Para Hajar, a beleza da obra passa pelo pioneirismo, já que Curitiba nunca havia produzido naquele 1928 uma opereta de costumes satírica, com críticas ao governo que, inclusive, causaram a censura de alguns trechos, um dia antes da estreia.

“Significa que estamos fazendo a verdadeira estreia da obra completa”, diz Hajar, que pesquisou os jornais da época e encontrou a crítica publicada pela Gazeta do Povo, dando conta de que a récita de abertura fora “um sucesso”.

Confira a galeria com fotos dos bastidores

Marumby

Capela Santa Maria (R. Conselheiro Laurindo, 273), (41) 3321-2840. Jaime Zenamon. Dia 27 às 15h (entrada franca), e 28 e 29 às 20h (R$ 20 e R$ 10). Classificação indicativa: livre. Duração: 3h, com 2 intervalos.

Incluída no movimento paranista, que prezava os símbolos da identidade local, o texto traz uma “fada” que representa a própria cidade. No cenário, o pico Marumby, celebrado como o “Olimpo” local. Entre os personagens, um italiano, um polaco (cujas falas foram censuradas e perdidas) e um alemão, além de uma mulher avançada para a época, Salomé – no mesmo ano, o compositor escreveria a peça de teatro “O Voto Feminino”, direito que só se efetivaria em 1932.

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Outra transgressão da obra foi colocar em cena uma orquestra popular, com o ritmo do fandango do litoral.

Trama

Na opereta em três atos (serão três horas de duração, com dois intervalos), o imigrante italiano Lotte vende um “licor” que, na verdade, é uma cachaça de Morretes, chamada Marumby. Sua funcionária, Salomé, encanta a todos com a linda voz, e põe o patrão em pé de guerra com o briguento Sinfrônio. Junto a outros personagens, eles presenciam uma noite de neve (que realmente ocorreu naquele ano, dia 28 de julho de 1928) e terminam numa festa apoteótica em que a fada que simboliza Curitiba indica os caminhos da felicidade. Para completar, a obra propunha um hino da cidade, canto que teria se tornado popular nas décadas de 30 e 40 em festinhas particulares.

Encenação

Para dar conta de levar a ousada obra ao diminuto espaço da Capela Santa Maria, diretor e maestro colocaram a orquestra de câmara no mezanino lateral, e o coro no primeiro balcão. Com isso, liberou-se o palco, que se revelou de tamanho suficiente, para os atores-cantores. De quebra, aproveita-se a excelente acústica do local. Estão em cena 67 músicos, incluindo um coro sinfônico e outro caboclo, mais solistas que interpretam os protagonistas (a fada, Lotte e Salomé) e a Orquestra Rabecônica. Quinze bailarinas da escola do Guaíra compõem o séquito da fada, com seus tutus branquinhos.

Todos juntos se movem por três cenários: um bar, uma praça do “Cajuru” (hoje Alto da XV) e uma campina coberta pela neve. A obra estará de volta em novembro, no palco do Guairinha.

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Reprodução do programa da montagem original, de 1928.
Reprodução de páginas do libreto manuscrito pelo compositor Benedico Nicolau dos Santos.
A “fada” curitibana e seu séquito de bailarinas.