O Topo da Montanha: tom de comédia e suspense| Foto: Jorge Bispo/Divulgação

Ninguém sabe ao certo o que aconteceu nas horas que antecederam a morte do pastor e ativista dos direitos civis Martin Luther King Jr., em Memphis, Sul dos Estados Unidos, em 4 de abril de 1968.

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No dia anterior, o pastor King tinha proferido um de seus discursos mais célebres (leia abaixo) antes de se trancar no quarto 306 do pequeno hotel Lorraine, de onde só sairia para ser baleado.

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Na peça “O Topo da Montanha”, com única apresentação no Teatro Guaíra neste sábado (17) às 21h, a dramaturga americana Katori Kail usa uma das imagens usada por King em sua última fala pública para recriar suas horas derradeiras.

Em cena, a ficção coloca o ativista em oposição à insolente camareira, Camae, que surge para colocar em cheque a certezas do pastor.

Quem vê fica numa gangorra : como eu penso, como reagiria. Será que existem apenas dois lados ?

Taís Araújo Atriz

Vindos de uma temporada de oito meses em cartaz, com mais de trinta mil espetadores em São Paulo em 2015, o casal de atores Lázaro Ramos e Taís Araújo vive King e Camae no palco.

Também diretor da peça, Lázaro conta que o texto lhe foi indicado pela primeira vez pelo diretor Denis Carvalho , que insistiu que ele reproduzisse no Brasil o sucesso que a montagem fez na Broadway, com Samuel L. Jackson e Angela Basset como protagonistas.

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Tradutor diplomata

Insatisfeito com as traduções que lhe chegaram a mão, Lazaro quase desistiu do projeto. Até o dia em que entrevistou, em 2013, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa em seu programa “Espelho”, no Canal Brasil.

Antes da entrevista, o diplomata Silvio Albuquerque — então chefe de gabinete de Barbosa na presidência STF — lhe entregou a tradução que havia feito do texto.

“Como diplomata, ele viveu em Washington e estudou a história do Luther King e da luta pelos direitos civis. A Taís me convenceu a ler a versão dele, a gente se apaixonou e batalhou para montá-la”, explica Lázaro.

Carpintaria

Na pele da misteriosa Camae, Taís elogia a “carpintaria do texto” original em que a autora põe, de forma bem humorada, o discurso do líder do movimento negro do Malcom X na boca da camareira “para confrontar, no último dia de vida, as escolhas de um cara que viveu e morreu por um ideal”.

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Também assassinado em 1965, Malcom X foi um ativista do movimento negro que tinha postura e discurso radical antagônico à ideia de igualdade e não violência do pastor.

“Não é uma biografia, mas uma reflexão. A intenção era que a peça fosse a mais comunicativa possível tratando de um tema sério de forma leve”

Lázaro Ramos Ator e diretor

Para Taís, ainda que o tema pareça pesado, o texto consegue fazer o público refletir e se divertir com o tom de disputa entre os personagens.

“A peça tem cerca de 80 minutos. 70 % do tempo é de comédia a outra parte é suspense. Tudo mundo se sente parte da discussão de uma maneira muito positiva.

Lazaro também destaca a parte cênica, segundo ele “mágica” da montagem. “Eu não posso falar muito. Sem spoilers. É só um quarto de hotel, mas tem algo de fantástico que é um dos charmes da peça.”

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Palavras Finais

“O Topo da Montanha” faz alusão ao último discurso de Martin Luther King , na Igreja de Mason, no dia 3 de abril de 1968, durante uma semana de tensões raciais em Memphis. Se passa um dia antes de seu assassinato, cometido na sacada do Hotel Lorraine pelo atirador James Earl Ray. “Eu não sei o que acontecerá agora. Temos dias difíceis pela frente. Mas isso realmente não tem importância para mim, agora, porque eu estive no topo da montanha. Como todos, eu gostaria de ter uma vida longa. ... Mas eu não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha.Eu vi a Terra Prometida.” (trecho do último discurso de Luther King