Um clássico de Peckinpah

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A violência se transformou em lugar-comum no cinema contemporâneo. Ao ponto de já não chocar, muito menos provocar reflexões mais profundas no público. Há poucos diretores capazes de explorá-la de forma mais original e provocativa, mas há exceções, como Quentin Tarantino, que a usa como elemento estético – ainda que seja um tema constante em suas narrativas, ele não se propõe a fazer reflexões sobre ela. A exceção talvez seja Django Livre (2012), o título mais politizado de sua filmografia. Já o alemão Michael Haneke, em filmes como Funny Games, que teve duas versões do mesmo diretor (1997 e 2007), aborda a violência como traço inerente à natureza humana, capaz de eclodir a qualquer instante, quando se rompe a casca frágil da civilidade que cobre instâncias mais bestiais do homem, sempre latentes.

Tanto na obra de Tarantino quanto na de Haneke, é bastante visível a influência do cineasta norte-americano Sam Peckinpah, que explorou a violência em suas diversas facetas em quase todos os seus filmes, tanto a estetizando quanto a discutindo. Um dos mais importantes, e exemplar, é o clássico do suspense Sob o Domínio do Medo (1971), que a Versátil agora relança em edição especial com quase uma hora de extras.

No filme, Dustin Hoffman vive o papel de David Sumner, professor universitário de Matemática bastante tímido e introspectivo que se muda para a Cornualha, no sul da Inglaterra, ao lado da mulher, Amy (Susan George), jovem bonita e liberada. É importante lembrar que o filme se passa em tempos de contracultura, revolução sexual e do movimento feminista.

Americano, Sumner tenta fugir do clima de revolta e caos que se instalou nas universidades dos Estados Unidos em decorrência dos protestos contra a Guerra do Vietnã. Mal sabe ele que terá, ele mesmo, de travar um embate sangrento nesse refúgio de aparente calmaria e paz.

Muito envolvido com seu trabalho, o professor não se dá conta de que Amy está entediada com a pasmaceira da vida no campo, e começa a flertar com homens da região, até que um deles se torna seu amante. A passividade de Sumner se torna alvo de zombaria da população local e, lentamente, o clima de animosidade começa a fermentar até culminar com um ato de extrema violência da qual o professor e sua esposa se tornam vítimas, nele despertando o lado mais irracional e violento.

Por conter uma cena de estupro, algo muito raro no cinema norte-americano até então, Sob o Domínio do Medo causou choque quando foi lançado e acabou influenciando no tratamento realista dado a muitos filmes feitos nos anos que se seguiram. GGGG