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“Toby Dammit”, de Fellini, é um dos três contos transpostos para a tela em Histórias Extraordinárias, de Roger Corman | Site de cinema OutNow!
“Toby Dammit”, de Fellini, é um dos três contos transpostos para a tela em Histórias Extraordinárias, de Roger Corman| Foto: Site de cinema OutNow!

Versões e homenagens

Os temas de Poe entraram no terceiro milênio como rica matéria-prima para o cinema e a tevê. Além de inúmeras versões de suas histórias, os cineastas sempre se mostraram obcecados por citações de suas obras e pelo próprio escritor.

> Em Viver a Vida (1962), Jean-Luc Godard lê em off trechos de "O Retrato Oval".

> Em Perversa Paixão (1971), primeiro filme dirigido por Clint Eastwood, a assassina "se entrega" quando declama ao telefone versos de "Annabel Lee".

> Tony Curtis faz o papel da múmia em The Mummy Lives (1993), inspirado em "Algumas Palavras com uma Múmia".

> Em Piquenique na Montanha Misteriosa, (1975), de Peter Weir, há alusões freqüentes a "A Dream within a Dream".

> Em O Corvo (1994), o ator principal Brandon Lee — morto acidentalmente por um tiro de festim pouco antes do fim da filmagem — recita o poema "O Corvo".

> O protagonista de Matadores de Velhinhas (2004) é um fã de Poe e cita com frequência sua poesia. Um corvo também aparece no filme.

> A série de TV Os Simpsons faz referências exaustivas a Poe. No episódio original de Halloween, o ator James Earl Jones lê o poema "O Corvo", enquanto Homer interpreta o narrador; Marge aparece como Lenore e Bart encarna a ave sinistra. Em outro episódio, Lisa compete com um colega que interpreta "O Coração Revelador"; noutro, a casa de Usher é implodida num show fictício da Fox, Quando os Edifícios Colidem.

> Até o ator Tony Shalhoub (o célebre detetive Monk) entrou na dança: na série de tevê Stark Raving Mad, ele faz o papel de um escritor que tem um cão chamado Edgar e escreveu um poema chamado... "O Pombo".

No conto "A Queda da Casa de Usher", o narrador, ao defrontar-se com a sinistra mansão, busca um outro ângulo de visão que pudesse "modificar, ou talvez anular aquela impressão dolorosa" e observa a casa refletida na água do "sombrio lago". Comenta: "Já disse que o único efeito de minha experiência um tanto infantil — de olhar para dentro do lago — foi aprofundar ainda mais aquela primeira impressão singular".

Em seus melhores momentos, a narrativa de Poe é cinema puro. Um dos autores mais filmados de todos os tempos, ele influenciou cineastas de vários países e de diversas gerações. Cem anos depois do seu nascimento, em 1909, Poe era o objeto de um filmete de sete minutos dirigido por D.W. Griffith, intitulado Edgar Allen Poe (sic).

Num quarto modesto, o escritor preocupa-se com o estado de saúde de sua mulher, acamada. Um corvo pousa sobre um busto antigo. O poeta rabisca numa folha de papel e o mostra entusiasmado à enferma. Sai pelas redações oferecendo seu trabalho até que um editor o lê com agrado e decide publicá-lo.

Poe sai do jornal entusiasmado com o dinheiro na mão e corre para casa, mas encontra a jovem esposa morta. Já nos primórdios do cinema, Poe encarnava o mito do escritor romântico e maldito.

Ao longo de sua carreira, Griffith abordará temas de Poe, fundindo O Barril de Amontillado com uma história de Balzac, num filme em que um rei da França manda emparedar vivos sua mulher e o amante.

O cinema europeu também investiu desde cedo nos temas de Poe. Em 1910, os italianos filmaram O Poço e o Pêndulo; os franceses, O Escaravelho de Ouro.

Ninguém captou melhor a atmosfera onírica e misteriosa de Poe como o francês Jean Epstein, em 1928, com La Chute de la Maison Usher, filme mudo, mas dotado de música e sonoplastia que contribuem admiravelmente para o clima mórbido da história. Não é mera coincidência que a linguagem fantasmagórica de Epstein antecipa também o cinema surreal de Luís Buñuel, que atuou como assistente de direção em Usher.

O tema da casa amaldiçoada tornou-se um favorito do cinema (exemplos notórios: Rebeca, de Hitchcok; e Jane Eyre, com Orson Welles.)

A partir de 1914, houve várias versões de Os Assassinatos da Rua Morgue. Uma que lotou as salas de cinema foi dirigida por Robert Florey em 1932, com Bela Lugosi no papel do vilão e, no roteiro, a colaboração de um jovem promissor chamado John Huston. Outra história do detetive C. Auguste Dupin, O Mistério de Marie Roget, foi filmada por Phil Rosen em 1942, com a diva Maria Montez.

Em 1941, Jules Dassin inicia sua carreira com The Tell-Tale Heart/A Lenda do Coração, que merece em 1953 uma versão animada da UPA (narrada por James Manson), que entrará para a lista dos 50 melhores desenhos animados de todos os tempos. E, em 1963, o britânico Ernest Morris dirige um longa inspirado no mesmo conto.

Lado B

O cineasta que mais contribuiu para projetar Poe no imaginário popular foi Roger Corman.

Nascido em 1926 em Detroit, fez seu nome em Hollywood a partir de 1955. Considerado o "Rei dos filmes-B", em seu período mais ativo chegou a rodar sete filmes ao ano.

Seu recorde foi A Loja dos Horrores (1960), filmado em dois dias e uma noite. Corman enfatizava a importância de equilibrar orçamento e imaginação. Gabava-se de ser capaz de fazer um filme sobre a queda do Império Romano com dois extras e um punhado de arbustos.

Corman mergulhou fundo na obra de Poe no início dos anos 1960, produzindo e dirigindo House of Usher/O Solar Maldito (1960), The Pit and the Pendulum/A Mansão do Terror (1961), The Premature Burial/Obsessão Macabra (1962), Tales of Terror /Muralhas do Pavor (1962), The Raven/O Corvo (1963), The Masque of the Red Death/A Orgia da Morte (1964), e The Tomb of Ligeia/O Túmulo Sinistro (1964).

Todos contaram com a participação do histriônico Vincent Price, exceto Obsessão, estrelado por Ray Milland. Ao terminar O Corvo, percebendo que faltavam alguns dias para a demolição dos cenários, ele rodou O Terror, para a tevê, com o mesmo elenco e equipe técnica.

Em 1968, Histórias Extraordinárias trazia três contos de Poe dirigidos por Roger Vadim (um "Metzengerstein" convencional), Louis Malle (um "William Wilson" fidelíssimo ao original) e Federico Fellini (um delirante "Toby Dammit", ou "Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo", transposto para a época contemporânea).

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