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Não só porque ele vai parar de escrever, conforme decidiu en passant numa entrevista concedida à revista francesa Les InRockuptibles. Há três anos o escritor não publica algo novo, depois de uma prolífica carreira, que inclui um Pulitzer (em 1997, por Pastoral Americana) e uma ameaça de Nobel que insiste em atrasar.

Melhor largá-lo também, porque assim esqueço um pouco a noção de morte e me concentro em viver. Especialmente a série dos últimos cinco livros que ele publicou mergulha de cabeça no tema da degradação do corpo, por doença ou velhice. No último, Nêmesis, a comunidade judaica de Newark enfrenta uma epidemia de pólio, doença para a qual, nos anos 1940, quando se passa a trama, ainda não havia vacina. Esse, ele afirma, será seu último romance.

Nos anteriores, um protagonista judeu, sisudo e de humor ácido se arrasta pela vida reclamando de coisas pequenas e assombrado pelo fantasma dos anos vindouros. Você poderia perguntar o que torna tal leitura tão viciante. Não sei explicar. Mas é.

É difícil falar de leituras passadas porque esqueço tudo rapidamente e misturo uma trama à outra. Mas resta a sensação de compaixão pelos personagens, e talvez por isso idealizei um relacionamento com o autor. Nele a gente conversa, pessoalmente ou por carta, não sei, e eu o conforto diante do peso da perspectiva da morte, que, pelo que deduzi de seus livros, ele carrega sobre os ombros.

Sim, já me avisaram que não se deve confundir narrador com autor nem tentar ler a mente dos escritores baseado em seus escritos. Mas a tentação é grande.

Que o diga Marileide, protagonista da nova montagem teatral em cartaz no Novelas Curitibanas, Vidas Paralelas ou a Incrível História de Marileide e Michael Jackson. Moradora da altura do número 30 mil da Rua Sapopemba, em São Paulo, ela se apaixona pelo Rei do Pop e a ele escreve carta atrás de carta. Não se dá conta do ridículo da situação e, num dos finais possíveis, até se casa com ele.

Sugiro uma escapada ao teatro para conhecer esse texto de Fernando Bonassi, que agora ganhou adaptação de Rafael Camargo a convite da Pausa Companhia. A cena contemporânea também sabe ser divertida.

A história contada na forma de programa de rádio imobiliza os quatro atores, que assim conseguem chamar ainda mais atenção para o trabalho que fazem. Faz até esquecer da morte por um tempo.

Mas vício é vício e sei que não cumprirei minha resolução. São 31 livros publicados e me falta ler quase todos, para depois começar de novo já que não lembrarei de nada. Esperemos que Philip Roth também volte atrás em suas decisões.

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