Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Bangue-bangue

Três faroestes recentes e ótimos que estão dando sopa na Netflix

O ator Tim Blake Nelson, que faz um atirador em "A Balada de Buster Scruggs"
O ator Tim Blake Nelson, que faz um atirador de primeira em "A Balada de Buster Scruggs" (Foto: Divulgação Netflix)

Ouça este conteúdo

O faroeste vai bem, obrigado. Nos últimos anos, os cinemas viram uma leva de excelentes filmes passados no Velho Oeste.

A Netflix não tem um catálogo de faroestes clássicos dos mais abastados – exceção para Era Uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone, e O Estranho Sem Nome (1973), de Don Siegel, que também estão no pacote do Telecine –, mas oferece uma boa seleção de filmes recentes que merecem ser vistos.

A Balada de Buster Scruggs (2018), de Joel e Ethan Coen

Os Irmãos Coen já tinham feito um excelente faroeste em 2010, Bravura Indômita, refilmagem de um clássico de 1969 estrelado por John Wayne, quando apareceram em 2018 com essa bizarra e criativa releitura de histórias do Velho Oeste. A Balada de Buster Scruggs é um filme dividido em seis episódios curtos que trazem o humor sombrio e esquisito típico dos dois irmãos.

Em um dos episódios, o grande ator Tim Blake Nelson faz um exímio atirador, Buster Scruggs, que aterroriza uma cidadezinha até ser confrontado com a chegada de um jovem ás da pistola. Em outro, James Franco faz um bandido azarado que é preso e condenado à forca depois de um malsucedido assalto a um banco. Mas o melhor episódio é o estrelado pelo cantor Tom Waits, em que ele interpreta um explorador que encontra, numa área isolada, uma verdadeira mina de ouro e faz de tudo para esconder a descoberta de outros rivais.

Retorno da Lenda (2021), de Potsy Ponciroli

Falando em Tim Blake Nelson, ele é o protagonista desse filmaço, um dos mais surpreendentes faroestes dos últimos anos (apesar do título grotesco adotado no Brasil, que entrega boa parte da surpresa da história). O filme se passa em 1906 no estado de Oklahoma e conta a história de um viúvo, Henry que mora num rancho humilde com o filho pequeno, Wyatt (Gavin Lewis). Henry é um tipo franzino e tímido, que vive isolado e parece não querer contato com o mundo. Mas sua vidinha pacata muda quando ele e o filho encontram um homem, Curry (Scott Haze), ferido, junto a uma bolsa cheia de dinheiro.

O filme tem uma trama simples e engenhosa, mas o que impressiona mesmo é a direção de Ponciroli e a interpretação absolutamente fantástica de Tim Blake Nelson. É um filme visualmente muito bonito e bem dirigido, tanto nas tomadas plácidas da natureza de Oklahoma, quanto nas cenas de ação.

O Ataque dos Cães (2021), de Jane Campion

E falando em tradução ruim de título de filme, O Ataque dos Cães estabelece um novo padrão de ruindade. O título original é The Power of the Dog, ou O Poder do Cão. A tradução não só inventa um “ataque”, como pluraliza o sujeito e desvirtua o significado original da expressão. A expressão “O poder do cão” vem do Livro dos Salmos da Bíblia. No Salmo 22, versículo 20, lemos: “Livrai-me da espada, e a minha vida do poder do cão”. No filme, não existe “ataque” e muito menos “cães”. O “cão”, no singular, tem um significado simbólico e potente, que condiz com a trama.

Benedict Cumberbatch vive o rancheiro Phil no filme "Ataque dos Cães"Benedict Cumberbatch vive o rancheiro Phil no filme que concorreu a 12 Oscars (Foto: Divulgação Netflix)

Dirigido pela neozelandesa Jane Campion (O Piano), o filme é uma experiência visual e sonora marcante, uma obra lenta e densa que fica com você muito depois dos créditos finais. A história se passa num rancho em Montana, em 1925. Os irmãos George (Jesse Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch) são rancheiros abastados que, durante uma viagem, encontram uma viúva, Rose (Kirsten Dunst) e o filho dela, Peter (Kodi Smith-McPhee). George se apaixona por Rose, o que causa um ataque de ciúmes em Phil, que desconta sua fúria humilhando Rose e, especialmente, o frágil e sensível Peter.

Não há violência física no filme, mas uma brutalidade silenciosa, amplificada pela linda fotografia de Ari Wegener e pela música minimalista de Jonny Greenwood, guitarrista da banda inglesa Radiohead. O Ataque dos Cães foi indicado a 12 Oscars, mas só levou o de Melhor Direção para Jane Campion. Merecia mais.

VEJA TAMBÉM:

Use este espaço apenas para a comunicação de erros