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 | Daniel Caron / Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo

A morte de um adolescente, de 16 anos, em um biarticulado da linha Pinhais/Rui Barbosa, aumentou a sensação de insegurança e impotência da população dentro do transporte coletivo em Curitiba. Em um sistema que conta com quase 1.300 ônibus e transporta em média cerca de 1,5 milhão de passageiros por dia, as ocorrências são diversas. Furtos, roubos, assaltos, invasões, ameaças, assédio sexual. Ocorrências infelizmente corriqueiras e agora agravadas por uma morte.

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Segundo a aposentada Regina Madureira, que foi assaltada duas vezes no ônibus, nenhum horário ou linha são seguros na capital. “Está muito perigoso [pegar ônibus], já fui roubada duas vezes, de manhã, de tarde, em dois ônibus diferentes. A gente não pode fazer nada. Eles olham bem na sua cara e ameaçam: se abrir a boca vai acontecer alguma coisa com você”, relata.

Objetos de valor e de pequeno porte, principalmente celulares, são alvos de quem furta ou rouba dentro dos coletivos, terminais e estações-tubo. “Minha filha perdeu dois celulares em menos de um mês, inclusive estou pagando ainda pelos aparelhos. A gente tem que ter cuidado, ficar com um olho aqui e outro do lado”, relata a atendente Vanusa Melo.

A secretária Edineia Mangoni acredita que algumas medidas podem ajudar a evitar situações de risco. Ela também reclama do atendimento prestado pelas autoridades. “A gente fica com a bolsa sempre na frente, se afasta de pessoas muito próximas, não pega o celular. Mas precisa de um canal especifico para atender. Você liga para a Guarda Municipal, é difícil atender, a polícia, também não. Se tivesse um canal especifico, uma forma direta de reclamar, seria perfeito”.

Não é só o usuário que sofre. Carlos Silva, cobrador da estação-tubo da praça Carlos Gomes, relata o temor que acompanha os trabalhadores. “Você vive com medo, fica traumatizado. Por enquanto fui assaltado uma vez só, mas tem pouca polícia, a Guarda Municipal não passa. A gente se sente largado. O sentimento é de impotência”, afirma. Silva revela que diversas vezes tentou acionar as autoridades para coibir ou resolver algum problema. Mas não foi atendido. “Aí você acaba não se envolvendo. Eles fazem hoje e amanhã estão soltos. Já a gente não sabe se vai ter a mesma sorte”.

O cobrador relata que são diárias as ameaças e situações de risco. Pouco antes de atender a reportagem, Silva enfrentou um dos perigos pelo qual passa quase diariamente. “Questão de 30 minutos atrás, passou um rapaz aqui que pulou a catraca e disse que se eu reagisse ele me dava uma facada. Não vou reagir. Eu estou aqui todos os dias, ele vai passar uma vez ou outra”, conta.

As experiências vivenciadas pelos colegas de Silva ajudam a ampliar o temor do cobrador, que há cinco meses cumpre a função na estação-tubo da região central. “Já tive amigos que levaram facada, foram agredidos com pauladas, até um que levou um tiro por ter reagido. Não vou arriscar minha vida por causa de R$ 4,25”, atestou, em referência ao valor da passagem.

Combate ao crime

Diretor-geral da Guarda Municipal, Odgar Nunes Cardoso revela que a corporação trabalha em conjunto com as polícias Civil e Militar para minimizar as ocorrências. Segundo o diretor, as autoridades têm ampliado o planejamento e as ações estratégicas em busca da prevenção desde fevereiro, quando foi criada a Patrulha do Transporte Coletivo. “Com a integração da inteligência da Guarda e das polícias, estamos atuando com mais efetividade e diminuímos em 22% os furtos e roubos dentro das linhas. O que falta é fazer mais o trabalho preventivo usando a inteligência”. Em 2016, foram 2.656 registros de delitos no transporte coletivo, segundo dados da Guarda Municipal.

Sobre a dificuldade em responder as solicitações da população, Cardoso afirma que o trabalho de planejamento visa aumentar também a eficácia do serviço. “Às vezes, demora, às vezes a pessoa acha que a viatura não vai, mas a gente procura atender a todas as demandas. Fazemos abordagens em linhas com maior incidência de ocorrências, fazemos operações mais pontuais, tentando minimizar os problemas. Muitas vezes a demora se dá por causa da demanda”, argumenta.

Apesar de reconhecer que não é possível atender a todas as ocorrências, o diretor da Guarda Municipal ressalta a importância do envolvimento de motoristas, cobradores e usuários no combate ao crime no transporte público. “No momento em que a pessoa liga no 153, denunciando uma situação, há uma informação que gera um planejamento. Essas informações são fundamentais. Quanto mais a população se envolver na questão, melhor será o planejamento para coibir situações futuras”, concluiu Cardoso.

A Polícia Militar, por nota, explica que faz policiamento ostensivo nas proximidades das estações-tubo, terminais e mesmo das linhas de ônibus em toda Curitiba. E que, além dos policiais fardados, também conta com o serviço de inteligência, com policiais à paisana. “O trabalho é feito com apoio do Serviço Velado ao fardado, que tem resultado em prisões e apreensões”, aponta a nota envidada pela corporação. “A PM não se furta em atender nenhuma ocorrência em estações-tubo, ônibus e terminais, se for acionada ou flagrar algum crime ou delito”, ressalta o texto da Polícia Militar.

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