Os Correios começaram a testar uma nova modalidade de serviço em Curitiba. Além da entrega de encomendas e correspondências, a empresa passou a coletar dados de usuários para otimizar o envio de mala direta. Para isso, carteiros estão preenchendo formulários durante a entrega de correspondência — o que gerou revolta entre a categoria.
A ideia da empresa é seguir os moldes do que fazem Google e Facebook em relação ao uso de informações de seus usuários para o direcionamento de publicidade. A diferença é que, na versão tupiniquim, essa coleta de dados é inteiramente analógica — para não dizer braçal. Durante a entrega de cartas e encomendas, os carteiros observam e registram se há carros, crianças, idosos ou animais em casa.
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A direção dos Correios orienta que os carteiros preencham o questionário somente com base em observação, pelo lado de fora dos imóveis e que não pergunte nada aos moradores para não caracterizar, perante a legislação, nenhuma invasão de privacidade.
Como explica a empresa, com os dados estruturados, será possível distribuir malas diretas para regiões e endereços qualificados. Por exemplo, um pet shop pode contratar os a empresa para entregar brindes ou peças publicitárias apenas para quem tem cães em casa, otimizando o serviço.
O problema é que, para os carteiros, isso representa acúmulo de tarefa e prejudica o próprio serviço de entregas. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom-PR), o preenchimento desses formulários está sobrecarregando o já reduzido número de profissionais nas ruas — o que pode resultar em atrasos na entrega de encomendas.
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Privacidade e segurança
Para o diretor de comunicação do Sintcom, Ezequiel Dutra, o preenchimento não é função do carteiro e ainda viola os direitos do cidadão, que não está sabendo dessa pesquisa e qual é a finalidade os dados serão utilizados, já que não houve nenhum tipo de divulgação sobre isto.
De acordo com os Correios, as informações ficarão armazenadas em banco de dados interno e não serão fornecidas aos clientes. A ideia é apenas reunir o máximo de informação possível sobre os bairros, permitindo traças um perfil sócio-econômico da região, mas sem entrar em aspectos pessoais para não caracterizar invasão de privacidade.
Para o professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Egon Bockmann Moreira, os formulários podem realmente acarretar em acúmulo de função, já que eles estão exercendo uma atividade para a qual não foram contratados. “O funcionário foi contratado para entregar cartas. Como função acessória ele tem que caminhar, coletar a assinatura de confirmação de recebimento da encomenda. Mas o perfil de pesquisador não tem nada a ver com o de carteiro”, explica.
Além disso, o professor destaca ainda a falta de metodologia por parte dos Correios para tabular os dados coletados, o que torna o resultado pouco confiável e, o que é mais importante, pouco seguro. “Se você levar esta pesquisa para qualquer faculdade, para que se estude a metodologia da coleta de dados, não há lógica. Primeiro que as pessoas que estão aplicando a pesquisa não possuem conhecimento para isto. Segundo, não há uma metodologia científica”, diz Moreira.
Para ele, o que a empresa está tentando fazer é seguir o modelo de negócio do Google e Facebook, mas de “uma forma Neandertal, no lápis e papel”. “O problema está na possibilidade de identificar estas pessoas”, diz o professor, que não considera ilegal a coleta de dados, feita do lado de fora da casa das pessoas. Já os Correios garantem que a base de dados que está sendo montada não contém o nome ou o CPF das pessoas, apenas características visíveis dos endereços, o que não colocaria em risco a segurança das pessoas.
Mesmo assim, Egon se preocupa com a segurança dos dados armazenados. “O problema é quem terá acesso a essa base de dados? Ele será usado por terceiros? E se um hacker adentrar esse sistema, qual o protocolo de segurança? Ele vai saber que na casa X do Água Verde tem XX carros”, exemplifica o professor.
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