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Elson Borges
Elson Borges| Foto: Arquivo pessoal

Ele unia diferentes frentes e aptidões em prol de um mesmo objetivo: um mundo mais justo. De passo em passo, nos movimentos sociais, na universidade, em discussões públicas, na agroecologia ou na política, o engenheiro agrônomo e candidato a vice-prefeito de Paranacity (PR) Elson Borges, mais conhecido como Zumbi, buscava ter uma visão ampla para conseguir transformar a realidade. Ele faleceu no dia 8 de outubro, aos 54 anos, após uma parada cardíaca.

Filho de um casal de meeiros, nasceu em Kaloré (PR), desde cedo acompanhou a rotina da lavoura e o trabalho árduo para tirar da terra o sustento da família de nove irmãos. Com a ajuda da igreja, conseguiu estudar. Ingressou no seminário na juventude e a partir de então se aproximou da Pastoral da Terra. O caminho para os movimentos sociais foi natural. No final da década de 80, após deixar o seminário, entrou para o Movimento Sem Terra.

Em 1991, casado, mudou-se para um acampamento em Ibema, também no Paraná, onde já moravam seus pais. Prestou vestibular para Agronomia e foi aprovado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Entre mudanças de cidade, passou por Alvorada do Sul até se instalar em Paranacity a partir de 1996. “Hoje é menos complicado falar de agroecologia [perspectiva ecológica da agricultura, que produz alimento enquanto atua na preservação do meio ambiente e respeito aos ecossistemas naturais da terra] dentro dos espaços da universidade. Mas na época dele foi difícil fazer isso, estar no campo, falar de luta pela terra e fazer agronomia”, conta a filha Cristina dos Santos.

Passando de um desafio para outro, Elson conseguia ferramentas para incrementar sua atuação e pensamento. Passou um período na França, em uma vivência que variaria suas ideias e formas de pensar. Na volta, trabalhou como secretário de Meio Ambiente e Agricultura da Prefeitura de Maringá e se tornou mestre pela UEM ao pesquisar formas alternativas de produção de feijão.

Carregava a luta racial no nome. Cristina conta que só soube que o pai se chamava Elson na alfabetização, já que ele sempre foi chamado por todos de Zumbi, como o líder do quilombo dos Palmares e herói negro. Ele mesmo dizia que havia sido o primeiro em muitas coisas. Primeiro negro a se formar em Agronomia pela UEM, primeiro secretário municipal negro de Maringá. Em grande parte do tempo, ele era o único negro nos espaços que ocupava, e buscava fazer disso um exemplo de representatividade.

Fazia conexões visando melhorar a vida de quem vive no campo. Era envolvido com redes coletivas de comercialização de alimentos e se aproximou bastante do cooperativismo. Tentava fomentar a criação e aperfeiçoamento de políticas públicas no sentido de criar uma assistência mais consistente aos pequenos produtores. Atuava como engenheiro na Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi).

Adorava pescar e jogar futebol, apesar de não acertar um gol. Tinha o traço muito forte de olhar para as pessoas como seres humanos em primeiro lugar. Conversava da mesma maneira com quem quer que fosse e contava com o diálogo como principal ferramenta para conquistar melhorias na sociedade. “Ele tinha uma visão de mundo muito difícil de encontrar. Era um jeito diferente de ver o mundo, de acreditar que daria certo”, conta a filha.

Dentro do olhar global e agregador que tinha sobre a agroecologia, muitos conhecidos usaram a definição de um pedagogo popular para caracterizar o que Elson fazia: “Muita gente que faz agroecologia semeia o chão, ele plantou em mentes e corações”.

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