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O fim de uma esquina boêmia.
O fim de uma esquina boêmia.| Foto: Reprodução/ Eneida Rio Appa

Na última terça-feira (15) começou a ir ao chão o imóvel da esquina da Avenida Iguaçu com a rua Dr. Alexandre Gutierrez, no bairro Água Verde em Curitiba.

Se falassem, aquelas paredes contariam histórias de três gerações da boêmia de Curitiba, pois ali funcionou durante mais de 40 anos o Hermes Bar.

Um dos bares que mais abriram as portas para músicas de todos os estilos: blues, jazz, rock, mpb e até o punk.

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Não é exagero dizer que o bar criado em 1961 pelo catarinense Hermes Rodrigues inventou uma era da noite curitibana.

Naquele começo da década de 1960, Hermes era garçom do restaurante Pote Chopp, no centro. Após o clamor insistente de seus clientes passou para o outro lado do balcão.

O novo bar teve outros endereços, um na praça da Espanha, até chegar à esquina da “Iguaçu com a Gutierrez”.

O ponto era perfeito. Antes, tinha abrigado o armazém de secos e molhados Esperança. De esquina, com duas entradas, um bom espaço e um porão.

No novo endereço, o bar logo atraiu um público de jornalistas e artistas. Ousadamente aceitava a entrada de mulheres desacompanhadas.

Desde sempre, Hermes Bar enfrentou o mesmo problema de seus vizinhos: a Avenida Iguaçu fica bem no leito do rio Água Verde. Quando chove, os moradores sofriam coma as inundações.

Provocando a natureza, Hermes instalou no subsolo um "boteco com música ao vivo" como era a última moda da época: sambas, sambas-canção de dor de cotovelo e bossa nova.

O local passou a ser chamado de "Porão Sagrado". Os talentos culinários de dona Bartinha, irmã do dono, completavam o pacote.

Bons tempos: o Hermes Bar em noite de orquestra. Reprodução: Livro Pelos Bares do Paraná.
Bons tempos: o Hermes Bar em noite de orquestra. Reprodução: Livro Pelos Bares do Paraná.

Hermes, porém, se aposentou no meio dos anos 1980. A princípio ele pretendia ceder o imóvel para uma pizzaria.  Por sorte isso não aconteceu.

Segundo ato: bar de blues

Em 1986, começou o segundo ato do Hermes Bar. Quem assumiu o comando foi o empresário Luiz Alceu Beltrão Molendo e seu sócio Júlio Tarnowski Jr.

Ex-produtor musical e fã de jazz, blues e música instrumental brasileira, Luiz Alceu colocou sua assinatura e deu nova vida ao bar.

Segundo o livro “Pelos Bares do Paraná” de Norberto Stavisdvki, a partir de então foram milhares de noites de música, alguma memoráveis com artistas de todas as cepas.

Hermeto Paschoal, Guinga, todos os bluesmam e jazzistas brasileiros. Durante anos, a banda Blindagem tinha uma noite por semana no Hermes.

O Porão, rebatizado de Berlim, abriu-se para o incipiente punk rock de Curitiba. E também para saraus de poesia da turma de malucos que orbitava aquela cena.

“Fizemos vários shows punk ali. Lembro-me de um dos primeiros shows do Cólera (banda punk paulistana) no porão superlotado. As paredes suavam. Foi histórico”, lembra o produtor Edson de Vulcanis.

Em 1994, Luiz Alceu passou a ser único proprietário. Ele criou as noites “Banhos de Blues”, que colocaram Curitiba como um dos pontos mais importantes na rota do gênero do país.

Noites de Blues no Hermes Bar. Reprodução/ Livro: Pelos Bares do Paraná.
Noites de Blues no Hermes Bar. Reprodução/ Livro: Pelos Bares do Paraná.

Quatro anos depois, Hermes ampliou as instalações para abrigar até 300 pessoas e passou a investir mais na programação, na cozinha e na coquetelaria. Alguns drinks autorais eram famosos como o Língua Solta, o Ordinário e o Ar refrigerado.

O Hermes funcionou no seu endereço mais tradicional até o começo desta década. Mudou-se já com outros donos para a rua Engenheiros Rebouças com outra proposta: como uma casa de shows de médio porte.  Lá tocaram bandas como L7, Brujeria e Marc de Marco. Hoje a casa abre esporadicamente.

A mística do Hermes Bar se vai com o imóvel da Iguaçu. Ficam as memórias.

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