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| Foto: Reprodução/CEM-UFPR

As praias do Paraná registraram um evento inédito na última semana. Cinco tartarugas-cabeçudas (Caretta carett) nasceram nas areias do estado no sábado (31), contrariando a própria previsão dos especialistas, que consideravam as condições do nosso litoral pouco favoráveis para o desenvolvimento dos filhotes. Exatamente por isso, o nascimento está sendo tratado como algo raro e que abre a possibilidade de a região receber mais visitas de animais em fase de reprodução no futuro — mesmo com um ataque de formigas que quase dizimou a ninhada.

Veja o momento em que as tartarugas saem do ninho

Como explica a coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM-UFPR), Camila Domit, os pesquisadores tinham apenas ouvido relatos de moradores da região sobe o aparecimento de filhotes de tartarugas no estado, mas sem uma comprovação científica do fato — o que acaba de acontecer. “Isso reforça de que esse processo é viável no Paraná e significa que o estado pode se tornar, no futuro, uma área de desova”, diz. “São tartarugas comprovadamente paranaenses”.

As tartarugas que nasceram no sábado são filhotes daquela mesma tartaruga-cabeçuda que apareceu na praia de Carmery, em Pontal do Paraná, no fim de janeiro e que mobilizou biólogos e pesquisadores do CEM. Segundo Camila, o litoral do estado possui uma areia muito final e gelada, o que torna os ninhos úmidos e pode fazer com que os ovos apodreçam. Por causa disso, os pesquisadores tiveram que levar os cerca de 130 ovos colocados pelo animal para uma área de restinga onde as condições eram mais favoráveis. “Quando a Caretta veio, ficamos felizes, mas sabíamos que havia uma chance pequena do nascimento. Por isso, deslocamos o ninho para Pontal do Sul e passamos a fazer um monitoramento diário”, conta.

Ao longo de mais de 60 dias, os biólogos do CEM acompanharam a temperatura do ninho e constaram que estava acima da mínima necessária. “Quando completou 63 dias, a equipe constatou que o ninho tinha afundado, o que é uma característica visual do nascimento. Os filhotes estavam se mexendo e começando a sair em direção ao mar”, relembra Camila.

Chacina na praia

A comemoração dos pesquisadores do CEM tem um bom motivo. Dos 130 ovos colocados pela tartaruga-cabeçuda em janeiro, 100 fecundaram e se desenvolveram perfeitamente — uma taxa de eclosão considerada alta. No entanto, o que os biólogos não esperavam era que o ninho fosse alvo de formigas, que praticamente dizimaram a ninhada.

Da centena de tartarugas que saíram dos ovos, 95 delas foram devoradas pelos insetos, restando apenas cinco sobreviventes. “As formigas são inimigas dos ninhos. Quando saem dos ovos, os filhotes não têm defesa, então as formigas iam atacando à medida que os pequenos iam nascendo”, explica Camila. Segundo ela, esse tipo de ataque aconteceu exatamente porque a área de restinga em Pontal do Sul é bastante rica, o que favorece o desenvolvimento dessas outras espécies. “A gente chegou a procurar formigueiros próximos e não encontramos. Não sabemos de onde elas vieram”. A areia mais fina também colaborou para a chacina, já que ela se condensa mais fácil com a umidade e dificulta a saída dos filhotes, transformando-os em presas fáceis.

Apesar do triste incidente — que abalou vários dos biólogos, como conta a coordenadora do CEM —, o fato de cinco delas terem sobrevivido já é motivo de comemoração. “O mais importante é que ficou comprovado que os ovos se desenvolvem nas areias do paraná, o que é um resultado fantástico e que nos deixa muito feliz”, diz. “A esperança é que agora isso tenha continuidade e que mais espécies cheguem. Apesar da ação humana, o nascimento mostra que o ciclo continua se fechando. E agora a gente tem essa responsabilidade com essa geração que acaba de nascer”.

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