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UTI do Hospital de Clínicas de Curitiba.
UTI do Hospital de Clínicas de Curitiba.| Foto: Divulgação CHC

Em três meses e meio de enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus em Curitiba, muita coisa mudou. Hospitais foram destacados para atender exclusivamente aos casos de Covid-19, a política de testes foi ampliada e opções de tratamento foram incluídas e retiradas dos protocolos. A Gazeta do Povo conversou com o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Alcides de Oliveira, que explicou qual o protocolo de tratamento em vigência hoje na cidade.

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“Nosso protocolo se assemelha aos demais países, é uma conjunção de esforços de toda a sociedade científica para identificar quais os medicamentos que dão as melhores respostas. Aqui não foi inventado nada. É sempre com base nas recomendações da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia, que estão constantemente fazendo as revisões dos protocolos que estão sendo utilizados no mundo todo. É, basicamente, o mesmo protocolo da Europa”, disse, citando que a última grande mudança foi a introdução do anti-inflamatório dexametasona, após recomendação da Sociedade de Infectologia, com base nos resultados de uma pesquisa da Universidade de Oxford que indicou a capacidade de redução em 30% nos óbitos com a prescrição do corticoide.

“Já vínhamos utilizando outros tipos anti-inflamatórios, com base na experiência dos nossos profissionais de medicina intensiva, uma vez que uma das principais complicações causadas pela Covid é o desencadeamento de processos inflamatórios. Mas, com a pesquisa, tivemos a comprovação da eficácia do medicamento e passamos a adotar, então, a dexametasona”, conta. “É o que temos de mais concreto e de mais estudado, até agora, pois esse é justamente o maior problema da Covid, a ausência de embasamento científico para drogas que ajudam, não a curar a doença, mas de proporcionar ao organismo o melhor equilíbrio possível para se recuperar da doença”, acrescenta.

Outra mudança no horizonte é a possibilidade de fazer diagnóstico clínico epidemiológico (confirmação de caso sem a necessidade de teste sorológico ou laboratorial) da doença, já autorizado pelo Ministério da Saúde. Oliveira explica que, apesar de achar natural a alteração de protocolo, Curitiba ainda não precisa adotá-la. “No momento, não estamos utilizando em Curitiba ainda, mas a epidemiologia já trabalha com esse critério há muitos anos, não é novidade. Todo período de epidemia chega a um momento que o diagnóstico deixa de ser exclusivamente laboratorial e passa a ser também clínico epidemiológico. Um exemplo é a epidemia de dengue no noroeste do estado”, diz. “Os casos clínicos, com todos os sintomas da doença, de pessoas que vivem em região que está em epidemia, você classifica-o como caso confirmado por critério clínico epidemiológico. Essa lógica sempre funcionou para análise de casos em epidemias”, explica.

Ele diz que, se chegar a faltar testes na cidade, esse critério poderá ser adotado: “Por enquanto, temos conseguido fazer análises laboratoriais de todos os casos suspeitos, mas, podemos sim chegar a ter que adotar esse critério. Se a pandemia agravar, um familiar de uma pessoa testada positivo que apresente os mesmos sintomas poderá ser considerada um caso positivo sem precisar fazer o teste, pelo critério clínico epidemiológico”.

Passo a passo do protocolo de Curitiba para a Covid-19

Entrada:

Pacientes com sintomas respiratórios, como tosse, febre alta e constante, dor de garganta e dificuldade de respirar, devem procurar o teleatendimento da Secretaria Municipal de Saúde, pelo telefone (41) 3350-9000. A partir desta ligação, o cidadão é incluído no sistema de monitoramento da secretaria e é classificado conforme o grau de risco do acometimento da doença, levando em consideração os sintomas e os fatores de risco, como idade e existência de outras doenças (diabetes, hipertensão, obesidade).

Pacientes graves são orientados a procurar uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) ou hospital, ou é removido de casa por uma ambulância do SAMU. Pacientes leves e moderados são orientados a cumprir o isolamento domiciliar de 14 dias e são monitorados por ligação telefônica (a cada 24 horas para os casos moderados e a cada 48 horas para os leves).

“A qualquer sinal de agravamento, porque temos que o agravamento ocorre entre sete e dez dias dos primeiros sintomas, esse paciente é encaminhado para uma consulta médica na UPA, onde passa por exames de sangue e raio-x de pulmão e pelo teste de Covid, se for enquadrado como um caso moderado, grave, ou tiver fator de risco”, explica Alcides de Oliveira, citando que o mesmo caminho é seguido pelo paciente que procura diretamente uma UPA ou um pronto socorro de hospital público ou privado.

No isolamento domiciliar, o paciente não recebe nenhum tratamento específico, apenas remédios para os sintomas que ele possa desenvolver, como dipirona e paracetamol, para controlar a febre, “além de orientação para boa hidratação e limpeza das narinas com soro fisiológico e repouso”, cita o epidemiologista. Ele lembra, porém, que, se o paciente teve atendimento médico, o médico tem autonomia para prescrever qualquer outro tipo de medicamento, “de acordo com a avaliação dele: um antibiótico, um anti-inflamatório e, até, a famosa cloroquina”, diz, acrescentando que a cloroquina não faz parte de nenhum protocolo da prefeitura, mas é fornecida a pacientes que tenham prescrição médica.

No hospital:

Alcides de Oliveira explica que boa parte dos pacientes que necessitam de internamento precisam de uma suplementação de oxigênio, recuperando-se depois de 58 a 72 horas de enfermaria, com um cateter de oxigênio no nariz. “Mas alguns casos evoluem para uma síndrome inflamatória, que compromete muito o organismo e gera pneumonias intensas, o que necessita de suporte de UTI, porque precisa de monitoramento integral”, comenta.

Ele cita que as duas principais evoluções dos pacientes graves de Covid-19 são a pneumonia, e a formação de trombos, que podem gerar embolia pulmonar ou, até, atacar o cérebro. “Então para os pacientes internados, o protocolo indica a prescrição de antibiótico para combater a pneumonia e anticoagulante, até de forma preventiva, para tentar evitar a formação de trombos nos vasos sanguíneos”, relata.

Além disso, todos os pacientes internados em Curitiba, tanto em enfermaria quanto em UTI, estão sendo medicados com a dexametasona, por conta de seu poder anti-inflamatório. “A resposta inflamatória é a mais observada em casos graves de Covid-19. Então, agora, temos uma droga com a eficácia comprovada e a dose adequada recomendada para tentar controlar esses processos inflamatórios do paciente”, cita, lembrando que, nos casos em que o processo inflamatório está mais agudo, é necessária a ventilação mecânica (uso de respiradores) para manter a oxigenação do organismo. O tempo médio de ocupação de um leito de UTI por um paciente confirmado com Covid-19 é de 13,5 dias no Paraná.

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