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A usina nuclear de Angra 3 entrou na reta final do processo de licenciamento ambiental. Nos próximos três dias, audiências públicas na região de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, tentarão comprovar que, por se espelhar em Angra 2, a nova usina não trará problemas extras ao meio ambiente.

Convocadas pelo Ibama para esclarecer a população em torno da usina, as audiências ocorrem às vésperas da reunião que poderá autorizar a sua construção, e dias depois da defesa do projeto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encheu de otimismo a equipe da Eletronuclear que participará dos debates.

"O presidente tinha se colocado de outra forma. A partir do momento em que se coloca de forma positiva, acho que o cenário está bastante favorável à aprovação", afirmou à Reuters o assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães.

A expectativa é de que na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), prevista para o dia 25, a construção da usina seja aprovada.

Guimarães explicou que a discussão sobre a construção de Angra 3 se arrasta desde 2001. Em 2004, informou, o governo brasileiro descartou o investimento pela falta de competitividade da tarifa do empreendimento.

Agora, disse Guimarães, a tarifa se tornou competitiva -138,14 reais o megawatt- e não há mais argumentos técnicos contrários ao projeto. No leilão de energias alternativas desta segunda-feira, o preço do megawatt-hora foi de 137,32 reais.

"Ambientalistas já apontam a nuclear como melhor alternativa para reduzir o aquecimento global. A tarifa já está competitiva. Já investimos 30 por cento do valor total, não tem porque não fazer", defendeu Guimarães em palestra no Centro Tecnológico da Coppe/UFRJ, no Rio de Janeiro.

Angra 3, se aprovada, irá gerar os mesmos 1.350 megawatts de Angra 2, e será instalada no mesmo local. O investimento total é estimado em 7,2 bilhões de reais, sendo 30 por cento referentes a compras de equipamentos no exterior e 70 por cento, no Brasil. A Eletrobrás será a dona do empreendimento.

A unidade já recebeu investimentos de 750 milhões de dólares e custa 20 milhões de dólares por ano ao governo para manter os equipamentos já adquiridos.

Os equipamentos (sistema de instrumentação e controle digital) adquiridos no exterior serão fornecidos pela francesa Areva e financiados pelo banco francês Société Generale. No país, há vários contratos que ainda estão valendo, como os firmados no passado com a Andrade Gutierrez, para obras civis, e outros de equipamentos, assinados com empresas como a Confab, Bardela, Nuclep, destacou Guimarães.

"Uma parcela porém terá que ser licitada, para a montagem eletro-mecânica, talvez o item isolado de maior porte, de cerca de 1 bilhão de reais", explicou o executivo da Eletronuclear, prevendo gastar 1,4 bilhão de dólares na indústria nacional.

De acordo com a Eletronuclear, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e a Eletrobrás viabilizarão a parte nacional dos recursos.

Resíduo sem destino

Em relação ao impacto ambiental, fator que tem atrasado empreendimentos considerados de energia limpa, como as hidrelétricas do complexo do rio Madeira, Guimarães também se diz confiante.

"Angra 2 será a usina de referência, apesar de Angra 3 ser mais moderna porque terá o sistema todo digital. Mas para efeito de meio ambiente, o impacto seria o mesmo, ou seja, quase nenhum, como foi verificado nesses anos todos de operação", afirmou. A operação de Angra 2 teve início em 2001.

O pior impacto das usinas nucleares ao meio ambiente é a falta de solução definitiva para o resíduo do combustível de urânio, que hoje fica estocado na usina.

Também no evento, o professor titular do programa de engenharia nuclear da Coppe Aquilino Serna defendeu a construção de Angra 3, afirmando que a energia nuclear já foi um "patinho feio", mas que hoje no mundo existem "patinhos muito mais feios, como as térmicas a carvão".

"Tenho três argumentos para a aprovação de Angra 3: preservação das equipes técnicas, viabilizar a expansão da produção de urânio, e diversificação da matriz energética", explicou.

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