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| Foto: Yasuyoshi Chiba / Aqrquivo AFP

No ranking de desempenho das 24 principais Bolsas de Valores do planeta, no primeiro semestre do ano, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), amargou a 21ª posição, com desvalorização de 4,23% no período. O Ibovespa só ficou à frente das Bolsas da Itália, que teve queda de 5,40%; de Portugal, cujo pregão perdeu 14,49% e da Espanha, com perda de 17,09%. São países que estão no epicentro da crise europeia.

Economistas afirmam que a crise na Europa e a desaceleração das economias chinesa e americana explicam em parte a fuga de investidores. Mas existiu outro fator no mercado doméstico que assustou os investires da Bolsa, principalmente os estrangeiros: a ingerência do governo em setores privados, como bancos, e o uso político da Petrobras.

"Com a crise na Europa de expandindo, sinais de retração econômica apareceram em todas as partes do mundo, inclusive no Brasil. Nesse cenário, todas as Bolsas de Valores mostraram volatilidade, mas a Bolsa brasileira perdeu muito. A ingerência do governo nos bancos e o uso político da Petrobras assustaram os investidores estrangeiros, que bateram em retirada", avalia o economista da SLW corretora Pedro Galdi.

No primeiro trimestre do ano, o saldo do investimento estrangeiro no pregão brasileiro estava positivo em R$ 4,7 bilhões. Só em janeiro deste ano, os estrangeiros compraram R$ 7 bilhões em ações, a melhor marca desde a criação do plano real, em 1994. No início de julho, esse saldo positivo havia caído para R$ 2,3 bilhões no ano.

Galdi lembra que houve mais interferência do governo em setores privados da economia. Ele cita como exemplo a redução do Imposto sobre Produtos Industralizados (IPI) para automóveis, como forma de aliviar os estoques das montadoras e evitar demissões, o que seria péssimo para a imagem do governo.

Para o economista da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, o investidor, principalmente estrangeiro, fica temeroso com essas ações do governo e bate em retirada. Ele lembra que no início do ano, o capital estrangeiro veio em peso buscar oportunidades na Bovespa, onde havia muitas ações baratas depois de uma queda de 18% no Ibovespa em 2011.

"O investidor analisa essas ações do governo como ingerência. No caso do Banco do Brasil, que é um banco público, as reduções de juro, de taxa de administração de fundos, a elevação do crédito, mostram que o governo está tentando 'dirigir' a instituição. No caso da Petrobras, o governo não deixa que se reajuste o preço da gasolina ao consumidor para não gerar inflação. E a indicação de uma presidente (Graça Foster) mais próxima do governo também é interpretada como ingerência na Petrobras", analisa Clodoir Vieira.

As ações PN da Petrobras têm um peso de 8,28% no Ibovespa, um dos mais expressivos. Nos primeiros seis meses do ano, os papéis da empresa se desvalorizaram 6,53%, ajudando a puxar o índice para baixo. Já os papéis ON da empresa, com direito a voto, têm 5,91% de peso no índice e encerraram o semestre estáveis.

Os papéis PN do Banco do Brasil, que têm peso de 3,11% no Ibovespa, tiveram queda de 13,14% no primeiro semestre. "Embora tenha crescido pouco no primeiro semestre, a economia brasileira está relativamente melhor em comparação com a Espanha, Itália e Portugal. Não se justifica um desempenho tão ruim da Bolsa brasileira. Foi a ingerência política do governo que influenciou negativamente", diz Clodoir Vieira, da Souza Barros.

Para o economista-chefe do banco alemão WestLB, Luciano Rostagno, a ingerência do governo no Banco do Brasil, por exemplo, afeta também as ações de bancos privados. "Eles foram obrigados a baixar juro para não perder mercado. Isso deve influenciar o resultado dessas instituições", avalia Rostagno.

Os papéis PN do Itaú Unibanco caíram cerca de 18% no primeiro semestre, enquanto as ações PN do Bradesco se desvalorizaram um pouco menos no período: 3%. Para Rostagno, além da influência do governo em setores privados, a Bolsa brasileira também se desvalorizou expressivamente por causa da desaceleração da economia chinesa. "A Bolsa brasileira tem ações de commodities com peso importante no Ibovespa. E a China é o maior comprador", diz o economista.

Para o segundo semestre, a expectativa é que esse quadro ruim na Bolsa se altere. "A expectativa é de recuperação. Na Europa, há esforços para evitar um cenário de ruptura. Na China, o governo está flexibilizando a política monetária para aumentar a oferta de crédito e estimular a economia. E o Federal Reserve, o banco central americano, também deve tomar medidas nesse sentido. No cenário doméstico, os estímulos ao crescimento econômico também devem continuar. A taxa básica de juro deve chegar a 7,5% no fim do ano, com mais duas quedas de 0,5 ponto percentual em julho e agosto. O dólar a R$ 2 deve ajudar as exportações. Se o governo não interferir mais nos setores privados, a expectativa é de melhora na Bolsa", avalia Luciano Rostagno, do WestLB.

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