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Você tem em casa alguma mercadoria que comprou e nunca usou? Roupas, ferramentas, eletrônicos, utensílios de cozinha, por exemplo? Eu tenho alguns livros, comprados no entusiasmo provocado por boas indicações ou quando parei em uma livraria para matar tempo. Eles foram para a estante e alguns estão há anos esperando na fila para serem lidos. Tenho ainda certeza de que são boas obras, mas, do ponto de vista financeiro, preciso admitir: trata-se de um comportamento péssimo, puro desperdício de dinheiro.

Para minha surpresa, ações desse gênero são muito mais comuns do que eu pensava. Na semana passada, o SPC Brasil e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas divulgou uma pesquisa realizada nas 27 capitais do país, segundo a qual 47% dos brasileiros já comprou algo que nunca usou, movidos pelo impulso.

O levantamento inclui mais dados preocupantes. Mais da metade ( 59%) dos entrevistados contaram que já fizeram compras baseadas no argumento do "Eu mereço", mesmo sem ter recursos disponíveis para isso. Você conhece o estilo. O sujeito vai à loja, para em frente a uma tevê de 60 polegadas e diz a si mesmo: "Eu trabalho duro a semana inteira e, no domingo, tenho de assistir o futebol naquela tevê 29, de tubo. Eu mereço uma dessas". Compra em 12 vezes no cartão, paga juros de 120% e arrisca ainda colocar no pacote o home theater e um aparelho de blu-ray.

Esse comportamento gera uma corrente de consumo que vai ainda mais adiante devido à pressão social. Um terço dos entrevistados conta que já se sentiu discriminado pelo vendedor e acabou por comprar um produto apenas para provar que tinha condições financeiras para tanto. E 21% admitiram que costumam acompanhar parentes e amigos em programas caros, que extrapolam o seu orçamento, só para "não fazer feio".

Se você, leitor, está se identificando com essas informações, é hora de interromper essa espiral de gastança. A começar pelo "Eu mereço" – é claro que todos desejamos o melhor para nossas vidas, mas a que custo? Você merece uma vida financeira saudável e sem dívidas, isso, sim.

Armadilhas da primavera

Só que as armadilhas do consumo estão em toda parte. Ainda mais agora, que o tempo anda mais quente e os dias são mais ensolarados e desfrutáveis, graças ao horário de verão. Um clima ótimo para passear pelos muitos parques da cidade. Ou para ir às compras, de acordo com o livro Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios..., do consultor Pedro de Camargo (editora Novo Conceito, 178 páginas, R$ 19,90). O livro se dedica a tratar do consumo feminino sob o ponto de vista das neurociências, da psicologia evolutiva e da química hormonal. "Como o clima influencia seu comportamento de compra" é um dos capítulos, e foi dele que eu tirei a conclusão acima – segundo o autor, o horário de verão pode, mesmo, aumentar a disposição de comprar.

Muitas das conclusões do autor podem parecer exageradas, e o enfoque evolucionista (aparentemente) inspirado nas teses do "gene egoísta" de Richard Dawkins é bastante polêmico do ponto de vista científico, embora soe lógico nas palavras de Camargo. Por outro lado, as dicas no fim de cada capítulo podem ser úteis – esse capítulo do clima sugere: "fique atenta ao clima do dia e de dentro da loja também, porque luz artificial, segundo alguns pesquisadores, também pode provocar o desejo de gastança em você. O grande exemplo é Las Vegas, em que os cassinos simulam luz do dia e clima ameno, para que você gaste mais nas lojas".

O fato é que as redes de varejo estudam exaustivamente o comportamento do consumidor em todos os seus aspectos, ao passo que nós, consumidores, entendemos muito pouco do mecanismo de venda. Para se precaver, todo conhecimento ajuda.

E você?

Você compra mais em dias de sol? Ou acha tudo isso bobagem? Mande sua opinião para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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